- O Estado de S. Paulo
A mais nova pesquisa Datafolha que registra uma leve melhora nos índices da presidente Dilma Rousseff pouco acrescenta ao cenário eleitoral, a não ser pela suposta indicação de que o êxito da Copa do Mundo, como evento, melhorou o humor do eleitorado.
É um dado duvidoso, mas ainda que se admita a hipótese, certamente efêmero, e de pouca influência no processo. A Copa acaba em mais 10 dias, e se é verdade que os turistas não levarão os estádios e aeroporto na bagagem de volta, também é verdade que os serviços antes criticados pela população permanecerão insatisfatórios.
A melhora da presidente Dilma se deu basicamente na região Nordeste, uma má notícia para seus adversários, mas que é uma melhora onde o governo já detém maioria. Na região sudeste, onde está concentrada parcela expressiva dos eleitores, Dilma permanece no patamar de antes, na casa dos 28%, enquanto a oposição apresenta viés de alta.
Na conta global, a pesquisa sugere que a presidente não cai mais por ter atingido seu piso de queda, e não deve alimentar expectativa de grandes saltos para além do índice em que vem se mantendo há algum tempo, desde o declínio iniciado nas manifestações de junho do ano passado.
É um cenário perigoso para a oposição se esta não encontrar a narrativa que traduza para o eleitor a razão de mudar para um candidato seu. O eleitor já deixou claro que deseja mudanças, restando saber com quem, o que mantém alguma eficiência ao discurso do governo de que essa mudança poderá se dar com a continuidade do PT no poder.
Apostar na queda do governo por gravidade, como permite a leitura do comportamento da oposição, é apostar na vitória pela inércia. Há muito tempo um governo não produz um cenário tão favorável à oposição como agora, com crescimento pífio, inflação crescente, gestão medíocre, desorientação estratégica e percepção aguda da corrupção.
No entanto, a esse quadro tão desfavorável não corresponde o avanço oposicionista na mesma proporção. Embora gradual, o crescimento do candidato que mostra maior solidez está aquém do ritmo declinante do governo. Sabe-se que a oposição espera compensar esse descompasso com o início do período de propaganda gratuita na televisão.
É possível, – e provável -, mas à visibilidade conquistada por esse meio é imprescindível acrescentar a narrativa política correta, capaz de atrair o voto de insatisfação. Olhada no todo, a pesquisa confirma o segundo turno, com a soma dos candidatos de oposição alcançando o índice mais alto de Dilma, de 38%.
Com a disputa política orientada pela meta de ampliação de bancadas federais dos partidos, a dissidência na base aliada do governo foi maior do que era permitido estimar com base na disputa por espaço na estrutura de governo, protagonizada por PT e PMDB. A fragmentação da militância desfavorece o governo nas campanhas estaduais e eleva seu risco eleitoral.
E é precisamente nas regiões sul e sudeste, onde estão os maiores colégios eleitorais, que o candidato do PSDB, Aécio Neves, investiu na vulnerabilidade da aliança nacional do governo, minando-a com notável visão antecipada e habilidade política.
O ex-governador Eduardo Campos permanece com dificuldades na campanha, que aparenta uma certa dispersão ditada pelos conflitos entre Rede e PSB, que seriam contornáveis se a aliança não fosse ditada pelo improviso que a produziu.
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