- O Estado de S. Paulo
Em matéria de organização está dando tudo certo, o País vive um momento de alto astral com a Copa do Mundo. Portanto, nada mais natural que esse clima se reflita nas pesquisas de opinião e que o governo, na pessoa da presidente Dilma Rousseff, seja o maior beneficiário.
O instituto Datafolha faz a ligação direta entre a melhora das intenções de votos (de 34% para 38%) e da avaliação positiva do governo Dilma (de 33% para 35%) e a "mudança de humor geral dos brasileiros". De fato não há como se atribuir a qualquer outra razão, porque nada aconteceu entre a última e a penúltima pesquisa a não ser a Copa.
Da mesma maneira como o governo teria sido responsabilizado se aquelas expectativas negativas a respeito do Mundial fora do campo tivessem se concretizado, muito justo que receba o reconhecimento pelo bom funcionamento daquilo que dependeu do poder público.
Fez a obrigação, mas de todo modo é mérito. E se as pesquisas não retratassem isso, aí é que seria de o governo se achar num beco sem saída. Fora aqueles pontos porcentuais a mais citados no início, o restante da pesquisa não leva boas notícias ao Planalto.
A saber: o aumento não foi proporcional à euforia que toma conta do País, os oponentes oscilaram para cima (ou seja, o astral favoreceu todo mundo), a rejeição da presidente é o dobro do segundo colocado que se aproxima dela na simulação de segundo turno e desapareceu a dianteira de Dilma frente aos adversários.
Até a pesquisa anterior ela dispunha de 34% das intenções de votos enquanto os adversários somavam 32%. Hoje há empate: 38% a 38%. Reflexo do alívio (temporário?) também é a redução daqueles que se diziam sem candidato. Eram 30% e agora são 24%.
A questão é: isso significa um repentino ganho de confiança da população na tão desprestigiada atividade política ou apenas quer dizer que a tendência geral é responder positivamente quando estão motivadas por estímulos igualmente positivos embora de natureza distinta?
Aqui não há como fugir do lugar comum: a resposta fica ao encargo do tempo. Depois de a vida voltar ao normal e a campanha começar é que poderemos conferir se o efeito é passageiro ou duradouro.
Nada a ver com a missão dos jogadores da seleção brasileira, nunca é demais repetir. Até para que sosseguem o facho aqueles que acham que o caminho da vitória da oposição está na derrota dentro de campo.
Bobagem abissal, exaustivamente desmentida pelos fatos nos últimos 20 anos em que a regra foi a desconexão entre o desempenho do Brasil nas Copas e o resultado das eleições.
Coincidência só em 1994. O Brasil ganhou a Copa e o governo a eleição. Só que o vencedor nas urnas não foi o futebol, mas o Plano Real.
Dilma não ganhará ou perderá a eleição porque o time foi mal ou bem na Copa. Se perdermos, ela não pode ser responsabilizada pelo que acontece dentro do campo.
Se ganharmos, nem por isso o eleitorado brasileiro vai votar no dia 5 de outubro fantasiado de Fuleco ainda sob os eflúvios do resultado de um jogo realizado há exatos 84 dias passados.
Não há emoção que tanto dure nem razão que uma hora não se imponha. De onde a direção dos votos acompanha a percepção do povo - que não é bobo - sobre qual dos candidatos considera com mais capacidade de enfrentar e resolver os problemas da vida como ela é.
Formiga. É consenso que Aécio Neves teve atuação pífia no Senado sob a ótica da expectativa de que assumiria o lugar de líder da oposição com ataques permanentes e contundentes ao governo.
Não fez nada disso e, para o público externo, foi uma decepção. Agora, quando surgem os acordos regionais do PSDB com vários partidos governistas é que surge a explicação: o tucano estava ocupado com a conquista do público interno, construindo pontes com os colegas senadores por intermédio dos quais iniciou o caminho rumo às alianças.
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