segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Candidatos intensificam ataques

• No Rio, Aécio também critica adversárias E diz que não tapa "o sol com a peneira"

Chico de Gois, Luiza Damé e Letícia Fernandes – O Globo

BRASÍLIA e RIO - A pouco mais de 20 dias das eleições, as duas principais candidatas na disputa presidencial voltaram a trocar acusações no último fim de semana. Enquanto a presidente Dilma Rousseff (PT) avisou que "coitadinho" não pode ocupar o mais alto cargo do país, Marina Silva (PSB) acusou os adversários de espalhar mentiras contra ela, mas prometeu que não vai "agredir uma mulher".

Ontem, as duas estavam em Brasília. Marina visitou a periferia da cidade, e Dilma ficou no Palácio da Alvorada. Em discurso em Ceilândia, região pobre da capital, a candidata do PSB à Presidência recorreu à sua história pessoal, de superação da pobreza, para dizer que, ao contrário dos boatos espalhados por petistas, não vai acabar com o Bolsa Família ou outros programas sociais implantados pelo governo do PT.

- Presidente Dilma, a senhora fique tranquila que não vai receber de mim o mesmo tratamento que está fazendo comigo. Não vou agredir uma mulher. Não vou mentir a seu respeito. E acrescentou:

- Podem agredir, podem mentir, que vamos oferecer a outra face. Mas não é para levar um bofetão, que meu pescocinho é tão fino que não aguenta. Ao ódio, vamos oferecer o amor, à preguiça, o trabalho, à corrupção, a honestidade e competência. É disso que eles têm medo. Podem provocar, que nós não vamos nos transformar neles. Eles têm mentido, agredido, espalhando boatos de que vou acabar com o Bolsa Família e o Mais Médicos. É mentira. Olhem nos meus olhos. É mentira, e eles sabem que estão mentindo. Quem tem essa história, não na teoria, mas no sangue, no corpo magro, não acaba com o Bolsa Família - discursou.

Marina também afirmou que pretende manter a meta de inflação em 4,5%.

- Estamos mantendo o que está em nosso programa. Qualquer opinião que seja dita fora daquilo que está no programa é uma opinião isolada de uma pessoa - afirmou, referindo-se à entrevista ao GLOBO de Alexandre Rands, um dos colaboradores da área econômica da campanha, que disse que seria possível chegar à meta de 3%.

A candidata do PSB afirmou que o atual governo fez uma contabilidade criativa e manipulação de preços para controlar artificialmente a inflação:

- A presidente Dilma disse que está revendo tudo isso e até se comprometeu a demitir seu atual ministro da Fazenda. Só que obviamente agora é tarde, porque ambos serão demitidos pelo povo brasileiro.

Já Dilma afirmou que "coitadinho" não pode chegar à Presidência da República e voltou a criticar a independência do Banco Central, defendida por Marina. Para Dilma, os candidatos não podem "se vitimizar". Para ela, o debate é válido enquanto girar em torno das propostas e não apelar para "a honra e as características pessoais" dos adversários.

- A vida como presidente da República é aguentar crítica sistematicamente e aguentar pressão. Quem levar para campo pessoal não vai ser uma boa presidente, porque não segura uma crítica. Tem de segurar a crítica, sim. O Twitter é o de menos (referindo-se a críticas nas redes sociais). O problema são pressões de outra envergadura que aparecem e que, se você não tem coluna vertebral, você não segura. Não tem coitadinho na Presidência. Quem vai para a Presidência não é coitadinho, porque, se se sente coitadinho, não pode chegar lá.

Apesar de não ter divulgado ainda um programa completo de governo, ela afirmou que suas iniciativas já estão em andamento há quatro anos.

- Eu sempre estive no momento paz e amor. O meu programa tem quatro anos que está nas ruas. Mais do que nas ruas, está sendo feito. A mim, tem todo um vasto território para me criticar. Tudo o que eu fiz no governo está aí para ser criticado todo santo dia, como aliás é. Todas as minhas propostas estão muito claras e muito manifestas - afirmou, em entrevista no Palácio da Alvorada.

Embora sua propaganda tenha atacado Marina, Dilma defendeu uma campanha "do mais alto nível", com debate de propostas sem agressões pessoais aos adversários. A presidente afirmou ter ficado indignada quando a adversária disse que o PT cometeu irregularidades na Petrobras nos últimos 12 anos. Dilma lembrou que, em oito desses 12 anos, Marina era filiada ao partido e fez parte do governo. Além disso, disse a presidente, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, acusado de comandar o esquema de corrupção, foi demitido no início de seu mandato:

- Naquele momento, eu acho que houve um ataque, que não era propriamente um ataque político, que a candidata estava fazendo ao PT e a mim.

Aécio: discurso do governo é "enganação"
Em visita à Central Única das Favelas (Cufa) ontem, na Zona Norte do Rio, o senador Aécio Neves (PSDB) criticou o programa de transferência de renda do governo federal, espinha dorsal dos quase oito anos de gestão petista. Para o tucano, o discurso de que o governo melhorou a vida das pessoas é "enganação":

- Esse discurso de que o Estado melhorou a sua vida é uma grande enganação. Ninguém acha que foi o governo que melhorou a sua vida. A gente escuta muito um discurso de "olha, nós melhoramos a sua vida, nós tiramos milhões de brasileiros dessa situação para aquela". Nada disso, quem melhora a vida de cada um é quem acorda cedo, rala, chacoalha no transporte público, estuda e trabalha. Essa é a minha visão, muito diferente de um modelo que está aí governando o Brasil - atacou.

A declaração foi dada no lançamento do livro "Um país chamado favela", de Celso Athayde e Renato Meirelles, depois de os autores citarem o dado de que 76% dos moradores de favelas acreditam que a vida melhorou, mas apenas 1% creditam o resultado a iniciativas do governo - o primeiro motivo citado foi esforço pessoal, com 42%, e crença em Deus, com 40%. O livro entrevistou dois mil moradores de 63 favelas brasileiras.

Aécio Neves aproveitou para disparar críticas também à ex-senadora Marina Silva, afirmando que não muda de opinião "porque alguém tuitou algo contra a minha proposta", e que não basta "pinçar pessoas" aleatórias para fazer um projeto de governo:

- Eu não tampo o sol com a peneira, as coisas mudaram, o errado seria eu mudar de ideias porque alguém tuitou algo contra proposta minha, ou porque preciso agora agradar a um setor da economia que tem voto. Como no caso do agronegócio com a Marina, que tem sido frontalmente contrária ao avanço dos transgênicos no Brasil. Repito, o Brasil não é para amadores, não adianta pensar que vai pinçar uma pessoa aqui, outra acolá, e fazer um projeto de governo.

Aécio participou do encontro ao lado do ex-jogador Ronaldo Fenômeno, com quem jogou capoeira. Aécio, como Dilma fez ontem, ensaiou a coreografia do "passinho"

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