• CNBB promove debate com oito presidenciáveis nesta terça em Aparecida
• Discurso sobre temas polêmicos como aborto e homossexualidade mudou com a eleição do papa Francisco
Flávia Marreiro e Fabiano Maisonnave – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A cúpula da Igreja Católica promove debate com oito presidenciáveis nesta terça-feira (16) em Aparecida (SP), tentando se equilibrar entre a orientação do papa Francisco, mais tolerante em assuntos polêmicos como a homossexualidade, e a oportunidade de cobrar dos candidatos posições sobre esses temas.
Será a segunda vez que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recebe candidatos a presidente. Nas eleições de 2010, ainda no papado de Bento 16, o encontro ocorreu em meio a mal-estar entre a entidade e o Planalto.
Na época, a CNBB liberou os bispos para pregar contra candidatos favoráveis ao aborto e causou particular desconforto ao publicar em seu site uma carta do bispo Luiz Gonzaga Bergonzini (1936-2012) pedindo boicote contra Dilma Rousseff (PT).
O aborto continua na pauta, mas há sinais de que a igreja tenta se ajustar à retórica mais suave e tolerante de Francisco, especialmente quanto à homossexualidade.
Dom Raymundo Damasceno, 77, presidente da CNBB e arcebispo de Aparecida, abrirá o debate com uma pergunta geral para os candidatos.
"Temos preocupação com a questão da justiça social, a distribuição melhor das riquezas, grande preocupação com a família. A questão da vida desde o início até o fim", disse Damasceno à Folha.
Dom Odilo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo, diz que, "mesmo sem polarizar o debate", o tema do aborto deve fazer parte da campanha, e os candidatos devem se manifestar claramente: "Os eleitores têm o direito de saber a posição deles e qual é seu compromisso com essas questões de princípio", disse.
Quanto a um tema que já provocou controvérsia na campanha, o casamento gay, Damasceno se mostrou alinhado a declarações recentes do Vaticano, que prega atitude "mais respeitosa e menos severa" no julgamento das uniões homossexuais.
O Supremo Tribunal Federal decidiu em 2011 que os cartórios brasileiros devem reconhecer as uniões civis de pessoas do mesmo sexo para todos os efeitos, embora não e- xista lei específica sobre isso.
"É uma decisão do Supremo. Claro que, para a igreja, não se pode equiparar a um casamento, isso é diferente. Mas respeitar a união estável entre essas pessoas, não há dúvida de que a igreja sempre tem procurado fazer dessa maneira", disse Damasceno.
Reforma política e a questão indígena e ambiental são dois outros temas caros à igreja que devem estar no debate --oito bispos farão perguntas no segundo bloco do evento, exibido pela TV Aparecida, emissoras católicas, 230 rádios e portais católicos.
O presidente da CNBB frisou o veto, nem sempre seguido, de que sacerdotes não podem fazer campanha. Alfinetou a estratégia de denominações evangélicas para eleger parlamentares. "Não queremos ter uma bancada católica, queremos orientar aqueles que votam e que querem ouvir nossa voz", disse.
Para dom Odilo, a possibilidade de o Brasil ter uma presidente evangélica, no caso de vitória de Marina Silva (PSB), não é um problema: "O Brasil já teve governantes de religiões diversas. Sendo laico o Estado, espero que qualquer governante garanta a liberdade religiosa e não a cerceie nem reprima."
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