- Brasil Econômico
Em entrevistas, Marina Silva e Aécio Neves garantiram que são contrários à reeleição dos presidentes da República. Não consideram que a fórmula em vigor desde o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso em 1998 seja a ideal para a vida política do país. Apesar das críticas, não assumiram compromisso com a mudança constitucional. Ambos deixaram a impressão de fazer pura retórica eleitoral. Promessas de campanha e nada mais. O que é uma pena. A experiência não tem sido favorável à reeleição. Além do desgaste do governante na luta pela garantia da vitória, os últimos quatro anos de exercício do poder dificilmente mostram a vitalidade dos primeiros quatro. Na metade do último mandato, o clima, seja nos estados seja no Planalto, é de decadência. De fim de festa.
Mas, por enquanto, o direito de se reeleger existe e a presidente Dilma Rousseff não abriu mão de exercê-lo. Enfrentou a resistência de grupos políticos próximos ao ex-presidente Lula, que preferiam não correr riscos e apostavam no carisma do chefe. Mas Dilma se impôs, sem abrir mão de sua vez. O próprio Lula tratou de matar pela raiz a conspiração dos companheiros mais exaltados. E usou um argumento decisivo. Afirmou que, sair candidato no lugar de Dilma, seria o mesmo que admitir erro ao indicar sua ministra da Casa Civil para a sucessão em 2010. Seria admitir que sua afilhada política não foi bem no cargo máximo da Nação. O melhor a fazer, na visão de Lula, é apoiar Dilma agora e aplainar o terreno para o retorno triunfal em 2018. É o que ele está fazendo.
Temos, então, Dilma em busca do novo mandato. Até a morte de Eduardo Campos, parecia tarefa fácil. Ela tinha tudo para repetir os feitos de FH em 1998 e de Lula em 2006. Despontava como favorita absoluta. Mas tudo mudou com a tragédia aérea de Santos, há um mês. Da noite para o dia, Marina Silva, que já surpreendera na eleição de 2010 com 20% dos votos, entrou na disputa com força suficiente para tirar o sono de Dilma. Basta ver o que está acontecendo na Escócia para entender a batata quente que caiu nas mãos da presidente. Acomodados à união com escoceses há 307 anos, os ingleses, de repente, enfrentam a ameaça de ver o Reino Unido perder um terço de seu território. Entraram em desespero e estão movendo mundos e fundos para garantir a vitória do Não à independência da Escócia no plebiscito da próxima quinta-feira. O PT está vivendo o mesmo desassossego. Instalado no poder há 12 anos, o partido trabalha com horizonte mais longo. Pretende ficar no Palácio do Planalto até 2022, com novos mandatos de Dilma e Lula.
E, a exemplo dos líderes ingleses, vai fazer tudo que for necessário. Dilma Rousseff também não quer entrar para a história como a primeira presidente após a volta da democracia que não conseguiu ser reconduzida. Nos Estados Unidos, o democrata Jimmy Carter leva este carimbo nas costas ainda hoje, e o republicano George Bush (pai) também sofre a mesma humilhação. Entende-se o esforço de Dilma e do PT para desconstruir a imagem de Marina Silva e afastar o fantasma da derrota. Os ataques são pesados e vão continuar. Se Lula em2006 só fazia campanha fora do expediente e nos fins de semana, hoje é impossível separar a Dilma candidata da presidente Dilma. O Palácio da Alvorada transformou-se numa trincheira política. A reeleição é uma questão de honra.
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