- O Estado de S. Paulo
A ata da última reunião do Copom, divulgada nesta quinta-feira pelo Banco Central (BC), avisou que não há muito mais o que fazer para derrubar a inflação, a não ser “manter-se vigilante”.
De todo modo, há alguns recados a anotar. O primeiro deles é o de que o BC, presidido por Alexandre Tombini, reconhece a fraqueza da atividade econômica (baixo avanço do PIB) e algumas de suas consequências, como a tendência a certa retração do consumo. Menos demanda por bens e serviços, por sua vez, tende a trabalhar para evitar a disparada dos preços. É uma coisa ruim (o PIB mirrado) que, vá lá, contribui ao menos para um efeito bom.
O segundo recado é o de que o BC já não espera colaboração da política fiscal (administração das contas públicas) para ajudar no combate à inflação. Isso ficou claro não pelo que foi dito, mas pelo que constava na ata anterior e foi suprimido no texto da ata seguinte. O trecho retirado dizia, em outras palavras, que mais austeridade nas contas públicas contribuiria para menos inflação.
O máximo que o BC pretendeu dizer com isso foi: “Que pena que isso é assim”. Ou seja, não esperem que o BC seja capaz de peitar a política fiscal do governo, coisa que nem a administração anterior, de Henrique Meirelles, ousou fazer em relação ao gerenciamento frouxo das contas públicas no segundo mandato Lula. Desta vez, o BC limitou-se a insinuar em outro trecho (parágrafo 24) que seria bom se pudesse contar com mais sobras de arrecadação (superávit primário) para diminuir o custo da dívida e para empurrar o investimento. Mas ficou nisso.
O único ponto mais incisivo foi aquele em que se referiu ao impacto inflacionário causado “por aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade” (parágrafo 26). Mas logo em seguida (parágrafo 31) acrescentou que esse impacto tende a perder força.
Desta vez, o BC também pareceu não ter dado importância ao represamento dos preços administrados (combustíveis, energia elétrica e transportes urbanos), que correspondem a um quarto da cesta de consumo.
Depois das eleições, esses preços terão de ser mais incisivamente corrigidos. O Banco Central calcula que, em 2014, serão reajustados em 5,0%, portanto abaixo da inflação, que saltará para acima dos 6,0%. Ou seja, haverá atraso a tirar nesses preços em 2016, o que manterá ativa a pressão. Nada foi dito sobre o impacto da eventual desvalorização cambial (alta do dólar), também prevista para depois das eleições.
Ficou sem nenhuma indicação quem procurou saber por que, no comunicado divulgado logo depois da reunião do Copom, o BC suprimiu a expressão “neste momento”, que tanta estranheza causou. Vai ver, não tinha mesmo a importância atribuída pelos Copom watchers.
Embora o texto tenha insistido em que “a política monetária (política de juros) deve se manter vigilante”, a percepção que se pode formar a partir da leitura da ata é a de que a atual diretoria do BC não pretende fazer mais nada para empurrar a inflação para o centro da meta. Enfim, começa a despedida. É um pouco do que declarou o navegador Diogo Cão: “Da obra ousada, é minha a parte feita; o por-fazer é só com Deus”.
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