• Setor privado diz estar sendo "satanizado" em programa crítico a Marina
• Para um assessor de Dilma, não é possível cobrar racionalidade na campanha, já que o governo está em guerra
Valdo Cruz - Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Empresários reclamam de estarem sendo vítimas de um processo de "satanização" nas propagandas do PT usadas para desconstruir a imagem da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva.
Reservadamente, um empresário do ramo industrial disse à Folha que o setor privado está sendo retratado como inimigo dos trabalhadores e de programas sociais na propaganda do petista.
Outro, da siderurgia, reclamou que esse tipo de propaganda vai contra o discurso oficial do Palácio do Planalto de reaproximação do empresariado, descontente com a política econômica da presidente Dilma Rousseff.
Dois comerciais da campanha mostram imagens de executivos em tom de comemoração ao tratar de medidas prometidas ou aventadas por Marina. O primeiro foi gravado para atacar a proposta de independência do Banco Central feita pela principal adversária de Dilma.
O comercial mostra banqueiros sorrindo enquanto um locutor diz que a medida vai representar um risco para o emprego e o salário dos trabalhadores.
O segundo, que começou a ser veiculado nesta quinta-feira (11), diz que Marina não vai priorizar a exploração do pré-sal. Em seguida, mostra executivos apertando as mãos e comemorando, com um narrador dizendo que a decisão da candidata vai tirar R$ 1,3 trilhão da educação e da saúde no país.
Um terceiro empresário disse à Folha que "satanizar" o setor privado na eleição só vai agravar o desgaste no relacionamento do setor privado com o governo.
Racionalidade
Além disso, reclamou, não vê sentido em relacionar executivos felizes com uma decisão de tirar prioridade do pré--sal. O setor privado, afirmou, quer mais leilões de campos de petróleo e não o contrário.
No caso do comercial que ataca banqueiros, um executivo do setor financeiro lembrou que há bancos que podem estar do lado de Marina, mas há outros que estão afinados com Dilma.
Em sua opinião, o PT acaba colocando todo mundo num balaio só em nome da eleição e passa a mensagem, ruim para a política econômica, de que no governo Dilma o Banco Central segue determinações políticas.
Um assessor presidencial diz que não é possível cobrar "racionalidade" durante uma campanha eleitoral e que o governo está numa guerra. Segundo ele, a prioridade é ganhar a eleição. Depois, pontes serão reconstruídas.
Pegando pesado
Outro auxiliar reconhece que o tom dos comerciais petistas, feitos pelo marqueteiro João Santana, está "pegando pesado", mas afirma que é uma forma simplificada de dizer à população o que significam as propostas de Marina.
Ele diz ainda que a presidente fez de tudo nos últimos meses para agradar e atender o empresariado e, mesmo assim, ele estaria em peso contra o governo.
Cita a avaliação ruim do governo e do PT nas pesquisas em São Paulo, centro do setor empresarial do país, como exemplo de que o empresariado decidiu ficar contra o governo.
O temor entre assessores é que o tom radical dos ataques teve de ser usado com muita antecedência para conter o crescimento da candidata do PSB, já no primeiro turno, quando o ideal era que fosse guardado para a reta final.
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