- O Globo
Empatada tecnicamente com Dilma Rousseff (PT) nas intenções de voto para a Presidência da República, Marina Silva (PSB) busca se diferenciar da adversária e também do candidato tucano Aécio Neves como a mensageira da nova política. Ela disse que os partidos perderam o vínculo com a sociedade e que não consegue imaginar as pessoas confiando em "um partido que coloca por 12 anos um diretor para assaltar os cofres da Petrobras", em referência ao ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Para Marina, PT e PSDB praticam um dualismo que ela se propõe a exterminar, embora diferencie a política entre bons e maus e acredite que governará só com os integrantes do primeiro grupo. "PT e PSDB vivem a síndrome de Estocolmo, se apaixonaram pelos sequestradores de seus sonhos", afirma, para enfatizar que os dois partidos tornaram-se reféns do que chama de velha política. Marina se diz vítima de uma tentativa de desconstrução, que une PT e PSDB como um "batalhão de Golias contra Davi". nesse contra-ataque, ela não distingue Dilma de Aécio e chega a ser mais dura com o tucano ao afirmar que a "pior desconstrução é o elogio falso", eivado de preconceito. Ao condenar a postura dos adversários, a ex-senadora recorre a um dos motes prediletos - "fiz a escolha pelo debate e não pelo embate" - e lembra que Dilma e Aécio não apresentaram seus programas de governo: "sabe o que isso significa? governar com cheque em branco". Salienta não ter como objetivo de vida ser presidente do Brasil, e, com espírito messiânico, diz que "uma fatalidade me colocou de novo no mesmo lugar", referindo-se à morte de Eduardo Campos.
Bons e maus"
Ilimar Franco pergunta:
A senhora disse que, por sua falta de apoio, vai governar com os "bons". Quem são eles no PSDB, no PT e no PMDB?
Quando eu digo que quero governar com os melhores, sou interpelada o tempo todo como se tivesse dizendo uma aberração, como se fosse possível alguém dizer, por mais que muitos façam isso depois que são eleitos, que vão governar com os piores. Parto do princípio de que qualquer pessoa que deseja assumir a função mais elevada do país deve estar comprometida a governar com os melhores. Parto do princípio, também, de que pessoas boas existem em todos os lugares, nas empresas, nas universidades, nos partidos, na gestão pública. E fazer essa escolha de governar com os melhores sem a visão maniqueísta de que os melhores são apenas aqueles que estão na minha aliança é também uma forma nova de encarar a política. Posso dizer simbolicamente que existem pessoas boas em todos os partidos. Cito Pedro Simon, como símbolo de uma pessoa muito boa no PMDB, e tem outras. Posso citar o Eduardo Suplicy, no PT; poderia citar o Cristovam Buarque, do PDT.
Silvia Fonseca pergunta:
Candidata, só para ficar claro para o eleitor. A senhora vem citando com frequência como "boa pessoa" o ex-governador José Serra (PSDB), e tem evitado a todo custo o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Qual a diferença entre eles?
Tenho falado simbolicamente do Serra porque convivi com ele no Senado. O Serra foi uma pessoa, inclusive, que me ajudou a aprovar o primeiro subsídio da borracha para os extrativistas. Como eu era uma senadora de oposição do PT, ele poderia ter se negado a isso. Em relação ao governador Alckmin, existem muitas diferenças do ponto de vista do que eu penso. O PSDB está há 20 anos no poder em São Paulo, estamos vivendo uma das piores crises em relação ao abastecimento de água. Todo o sistema de gerenciamento de recursos hídricos do estado de São Paulo, que já foi exemplar para o Brasil, no atual governo da presidente Dilma e do governador Alckmin foi desmontado. Foram desmontados os comitês de bacia, as agências de bacia, todo o processo virtuoso que nós tínhamos. E ainda há a falta de cuidado de fazer um processo de racionalização do uso da água, porque estamos vivendo uma campanha eleitoral.
Merval Pereira pergunta:
A senhora deixa os partidos de lado e foca nas pessoas, o que faz com que os partidos percam a importância. Não seria o caso de a senhora negociar com os partidos e não com as pessoas?
O problema é que a gente foi para o outro extremo. Esqueceram as pessoas e se dirigiram apenas aos partidos. E os partidos, pelo que entendo, deveriam estar a serviço das pessoas. O que estou dizendo é que são as pessoas que nos dão a chance de renovar os partidos. Tem uma frase de que gosto muito, ela não é minha, de que pessoas virtuosas criam instituições virtuosas. E instituições virtuosas corrigem as pessoas quando elas falham em suas atitudes. Nesse momento, essa instituição tão importante na nossa democracia, para mediar os diferentes interesses, que são os partidos, perderam o vínculo com a sociedade, porque não consigo imaginar que as pessoas possam confiar em um partido que coloca por 12 anos um diretor para assaltar os cofres da Petrobras. É isso que estão reivindicando? Que os partidos continuem fazendo do mesmo jeito? Espero que os partidos compreendam que o mundo está mudando, que tem um novo sujeito político, que não quer mais papel de espectador da política, ele quer o papel de autor, mobilizador, protagonista. Sinceramente, acho que esse movimento vai ser muito bom para partidos como PT e PSDB, que parecem que hoje vivem a Síndrome de Estocolmo, apaixonaram-se pelos sequestradores de seus sonhos. São partidos que ganharam e foram se tornando reféns de uma lógica da qual eles precisam se descolar.
Ancelmo Gois pergunta:
Eu entendo que a senhora queira governar com os melhores. Mas de certa maneira satanizar partido não é satanizar a democracia?
Quem disse que eu estou satanizando os partidos? Pelo contrário. Estou fazendo um esforço enorme, e precisa ter coragem para isso, porque a lógica é o partido que quer o poder ou que está no poder dizer que o partido dele é o único que tem pessoas boas e que os demais não têm valor algum. Estou fazendo um esforço político, dizendo agora para todos os brasileiros que, mesmo que todos os partidos estejam vivendo em profunda dificuldade, é preciso fazer um esforço muito grande de otimismo para não reconhecer que hoje os partidos vivem uma dificuldade em relação a ser um espaço que a sociedade compreende como sendo ali o locus em que ele vê debatido os seus interesses, as suas ideias. É só a gente prestar atenção. Ministros são colocados e depostos por causa de alguns segundos de televisão. Essa é a lógica dos partidos. Eu vou conversar com a instituição, mas eu espero que a instituição possa ser renovada pelas melhores pessoas. Tanto é que estou dizendo que pessoas boas existem em todos os partidos. Estou fazendo a aeróbica do bem.
Reeleição
Arnaldo Bloch pergunta:
A senhora acha que essa renovação vai acontecer agora, e acha que quatro anos são suficientes para se colocar em prática algo tão ambicioso? Não é um sonho?
Em primeiro lugar, quatro anos não vão resolver o problema de uma agenda estratégica para o Brasil. Quatro anos devem ser a base para essa transição. Ninguém pode imaginar que em quatro anos se possa fazer tudo o que ainda não se fez, corrigir tudo de errado que está se fazendo e aprofundar as coisas boas que historicamente conseguimos em diferentes governos. É preciso criar uma nova qualidade para o processo político. Fico imaginando o que significa a presidente Dilma reeleita, no dia seguinte o que os brasileiros podem sentir em relação a como continuar a vida com esse Congresso do jeito que está. Ela está legitimada por esse discurso de "vá lá, negocie com os partidos, diga para eles que não tem como fazer diferente e porque é assim que tem que ser". Eu fico imaginando o ânimo do cidadão. Prefiro acreditar que podemos começar um novo caminho da seguinte forma: vamos ter a clareza de que ninguém vai aderir a ninguém. Um governo de quatro anos já dá um certo alívio para aqueles que podem ficar em crise de abstinência com a perspetiva de esperar tanto pelo poder. Quem vai decidir quem vai governar é o cidadão. Na democracia, é preciso pressupor a alternância de poder. Olha o erro que o PSDB cometeu. O Sérgio Motta disse que era um projeto de 20 anos, veio o Zé Dirceu e, sem aprendizagem nenhuma, disse 20 anos de governo. Eu estou dizendo que são quatro anos para fazer o que tem que ser feito, e, depois, quem decide é o cidadão.
Ricardo Noblat pergunta:
Mesmo que o Congresso não aprove esse projeto que acaba com a reeleição, a senhora mantém a palavra de que só governará por quatro anos?
Sim, é um direito individual. O partido não pode me obrigar a ser candidata. Quero que o Brasil tenha uma nova maneira de caminhar. Do jeito que vamos, estamos no fundo do poço. O que está nos fazendo perder coisas que a duras penas conquistamos é o atraso na política. Hoje, a política econômica está ameaçada, a inflação voltando, os juros altíssimos, o país com o crescimento pífio, a indústria sendo destruída, perdendo 30% da produção agrícola por falta de hidrovias, ferrovias e estradas, de política de armazenamento. Isso é o atraso na política. Temos a oportunidade de, junto com todos os homens e mulheres de bem, da iniciativa privada, do funcionalismo público, da academia, dos partidos, estabelecer que o governo se oriente por uma agenda estratégica. A agenda não pode mudar nas coisas essenciais porque mudou o governo. Vivemos os riscos de perder as conquistas sociais, da estabilidade econômica, de não encarar os desafios do século XXI pelo atraso na política. Estabeleceu-se no Brasil essa história de que o presidente da República tem que ser um gerente. E aí passa a ter um concurso de gerente. Lula não era gerente, era um homem com visão estratégica. O Fernando Henrique era um homem da academia, não era um gerente. Era um homem com visão estratégica. E, em 2010, passou a ser um concurso de gerente, com Dilma e Serra. O problema é que, quando não se tem visão estratégica, não se consegue gerenciar nem a si mesmo. Aí acontece o que está acontecendo com nosso país.
Desconstrução
Ilimar Franco pergunta:
A senhora defende a proposta do fim da reeleição como uma emenda isolada ou no contexto de uma reforma política?
Como eu já me comprometi que, independentemente do fim da reeleição, se aprovada ou não, só terei um mandato de quatro anos, vou mandar no contexto da reforma política. Obviamente, esse é um esforço que não pode acontecer se não tivermos o início da reforma agora. O início da reforma quem está fazendo é o cidadão brasileiro, esse movimento que está acontecendo no Brasil já é uma verdadeira reforma política. Sei que vocês têm a ideia de quanto existe de estrutura nesse momento espalhando boato de que eu sou contra o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos, o pré-sal. É uma coisa tão avassaladora. Não é um Golias contra Davi, não. É um batalhão de Golias contra Davi, em artilharia pesada de dois partidos que se uniram temporariamente para fazer essa artilharia pesada, que são o PT e o PSDB. Os dois partidos da polarização, cada um espalhando boatos. Mas o que eu sinto na sociedade é um movimento que toma essa proposta aqui como a esperança de fazer a mudança. Temos uma lógica de diálogo com pessoas de todos os partidos, inclusive para que elas fortaleçam seus partidos. Ninguém quer ver os partidos fortalecidos pelo lado daqueles que fazem aquilo que estão fazendo na Petrobras quando são escolhidos pelos seus partidos para irem cumprir uma função pública.
Ancelmo Gois pergunta:
O candidato Aécio Neves (PSDB) a criticou. Disse que isso é prática antiga do PT e que a senhora nunca criticou.
Nunca advoguei desconstrução. Talvez o Aécio estivesse com a consciência um pouco dolorida porque ele se perfilou junto com o PT agora fazendo o trabalho de desconstrução e de uma forma até preconceituosa, utilizando os mesmos argumentos que eram usados contra o presidente Lula. A pior desconstrução é essa que parte do elogio falso: "ela é uma pessoa ótima, maravilhosa, mas é inexperiente, não tem capacidade". Sabe por que é dito isso? Pela minha origem, pela forma como eu me porto no processo político. Eu fiz a escolha pelo debate e não pelo embate. Quero discutir ideias. Gostaria que o Aécio e a Dilma tivessem apresentado o programa de governo deles. Sabe o que isso significa? Ganhar as eleições com cheque em branco, com diretrizes genéricas, para fazer o que bem entendem na relação com aqueles que têm a lógica de pegar um pedaço do Estado para chamar de seu. Quero debater o Brasil. Não é um embate. Vai ser um processo político, não um plebiscito. O PT tinha um botton muito bonito que era: "Eu oPTei". Era a síntese daquele momento. Só que a sociedade avançou. Estamos saindo do terreno da opção para o terreno da escolha. A escolha é diferente da opção. Na opção você tem duas coisas e escolhe a menos prejudicial. Na escolha, você escolhe o que ainda não existe. E alguém que não existe é que está se elegendo com base em um programa. É uma escolha que o cidadão está fazendo. Repito: não tenho como objetivo de vida ser a presidente do Brasil. Tenho como objetivo o Brasil ser melhor. Foi com esse espírito que eu me dirigi ao Eduardo Campos. Ele com 7% e eu com 26% (nas pesquisas de intenção de votos). Estou muito feliz com o gesto que fiz. E uma fatalidade me colocou novamente neste lugar.
Economia
Míriam Leitão pergunta:
A senhora fala em aumento de gastos, fala em aumentar o superávit primário para combater a inflação e fala em não aumentar impostos. Como fecha a equação de aumentar gastos, não aumentar impostos e aumentar superávit primários para combater a inflação?
Eu diria aumentar investimentos. Existem muitos projetos dentro do governo federal que começam em R$ 6 bilhões, R$ 7 bilhões e vão sendo feitos aditamentos, e terminam em R$ 20 bilhões, R$ 30 bilhões. Isso é a ineficiência do gasto público. É a incompetência, a falta de planejamento e a corrupção. Se fizermos um levantamento desses problemas graves, que são centenas dentro do governo, só aí já conseguimos um espaço fiscal para fazer os investimentos corretos em Saúde, Educação e Segurança Pública. Nós precisamos de uma coisa também: recuperar a credibilidade do nosso país. Sem credibilidade não há investimento, sem investimento o país não cresce. Sem crescimento, o país entra num processo recessivo, como a gente acaba de entrar agora. Estamos nos comprometendo em fazer um conselho de responsabilidade fiscal, que possa acompanhar como esse dinheiro virá. Estamos comprometidos com uma reforma tributária no primeiro mês de governo para a qual temos os princípios gerais.
Flávia Oliveira pergunta:
Queria que a senhora explicasse melhor como fazer o aumento de investimento em Saúde, Educação e na eficiência do Estado, sem esconder dos brasileiros um período duro de ajustes?
A presidente Dilma já admitiu isso de forma contundente, só que dramática, porque disse que vai substituir o seu ministro da Economia depois de todos os erros que foram praticados. A presidente Dilma sabe que a pior notícia é dizer para os brasileiros que vai persistir no mesmo erro, e aí demitiu seu ministro da Economia. Mas essa demissão está sendo feita pelos brasileiros, que com certeza vão fazer a mudança. O meu programa está dizendo que vai reduzir inflação, não está dizendo que o método é apenas pela elevação de juros. O que estamos dizendo é que é possível fazer isso fazendo com que o país volte a crescer, recuperando credibilidade, dando eficiência para o gasto público. Quem disse que para diminuir inflação é apenas pelo meio mais ortodoxo dos ortodoxos? A própria presidente Dilma já está reconhecendo que não tem mais como continuar persistindo nos preços administrados para conter artificialmente a inflação. Podemos fazer as correções buscando os meios para fazer os investimentos, manter os programas sociais. Esse é o nosso compromisso. Hoje, estamos dando a boa notícia de que é possível fazer as duas coisas juntas.
Religião
Artur Xexéo pergunta:
Por alguma razão a sua crença religiosa está carimbada na sua imagem. A senhora sofre preconceito por causa da sua religião? A errata que foi feita em relação ao casamento gay e à adoção de crianças por casais homossexuais foi a crença religiosa que impôs?
Eu sou uma pessoa que tem fé desde que nasceu. Minha avó era católica praticante, rezava o terço, o rosário. Em 1996, 1997, eu me converti à fé cristã evangélica, e a minha fé, eu nunca neguei, nem quando era católica e nem quando evangélica. Até porque não imagino que o presidente da República, comprometido com o Estado laico, tenha que negar a sua fé para poder ser presidente da República, porque o Estado laico não é estado ateu. Uma vez me deram um relatório de um projeto que obrigava a colocar Bíblia em todas as bibliotecas e eu dei o parecer contrário. Eu não advoguei essa tese e paguei um preço muito alto por isso. Porque dei um parecer contrário dizendo que as igrejas podem doar Bíblias para todas as bibliotecas, mas não poderia ser um projeto do Estado, porque, senão, ele teria que prover todas as tradições religiosas, e o nosso Estado é laico. No nosso programa, o documento que o movimento LGBT mandou foi publicado Ipsis litteris. É claro que dá para ver que houve um erro. O nosso programa é o que assegura da melhor forma os direitos da comunidade LGBT. Veja o que tem no programa do Aécio: é uma linha. No programa da Dilma: uma linha genérica.
Esporte
Jorge Luiz Rodrigues pergunta:
O que a senhora faria com o Ministério do Esporte?
É um ministério importante, mas, infelizmente, tivemos muitas dificuldades no processo das Olimpíadas, que dão para os brasileiros motivo de preocupação sobre o andamento das obras necessárias, que já deveriam ter alcançado um ponto muito maior de realização. Nós estamos fazendo uma avaliação criteriosa para verificar como vamos fazer a redução de tantos ministérios que já foram criados.
Energia e pré-sal
Míriam Leitão pergunta:
E a questão do pré-sal? O povo do Rio ainda não entendeu direito a sua posição.
Essa campanha tem uma característica muito forte da distorção, do boato. Já disse inúmeras vezes que os combustíveis fósseis e, principalmente, o petróleo não têm ainda como serem substituídos no mundo, e que a humanidade deve buscar meios para substituir essa fonte fóssil de geração de energia. Ao dizer que vamos buscar outras formas de geração de energia limpas e seguras, não significa que não se vai fazer a exploração do petróleo. Vamos explorar os recursos do pré-sal, vamos utilizar o dinheiro que está destinado para a Saúde e a Educação para investir de fato em Saúde e Educação. É preciso entender que o que está ameaçando o pré-sal é o que está sendo feito com a Petrobras, uma empresa que vale a metade do que valia quando a presidente assumiu e que está quatro vezes mais endividada em relação à dívida que tinha. Existe uma cortina de fumaça que foi lançada para desviar o debate, talvez até porque já soubessem das denúncias que estão vindo das investigações que estão sendo feitas no Paraná. O Brasil tem que entender que a exploração das suas riquezas naturais é uma safra que só dá uma vez. E uma safra que só dá uma vez precisa ser muito bem utilizada, e não drenada pela corrupção como a gente vê lamentavelmente hoje dentro da Petrobras.
Merval Pereira pergunta:
É verdade que a senhora deixou no Ministério do Meio Ambiente uma situação que impede as hidrelétricas de terem um reservatório maior, o que prejudica a geração de energia?
Quando assumi o Ministério do Meio Ambiente, tínhamos 40 licenças em processo de tramitação com graves problemas do governo anterior. A maior parte delas, com questionamentos no Ministério Público, em função da má qualidade dos estudos de impacto ambiental. Quando saí, em maio de 2008, dessas 40 (licenças), só oito não tinham sido resolvidas, em função de gravíssimos problemas. A média de licenças no governo Fernando Henrique era em torno de 150 por ano. Na minha gestão, chegamos a quase 300 licenças por ano. Nós concedemos as licenças mais complexas que este país poderia dar: (usinas hidrelétricas de) Santo Antônio e Jirau, com 42 condicionantes que não foram cumpridas pelo atual governo. Mas a licença foi dada na minha gestão.
Avião
Pergunta de leitores pelo Twitter:
O PSB diz que não tem nada a ver com o avião que matou Eduardo Campos, mas há vítimas esperando uma resposta de quem é o dono. Até quando o mistério?
O Eduardo precisava do provimento de um avião para fazer os seus deslocamentos e buscou através de empresários que tinham uma aeronave, que seria paga na forma da lei, por meio de seu comitê financeiro, como foi declarado em sua campanha. Obviamente que a Polícia Federal e o Ministério Público estão investigando os empresários, os proprietários desse avião. E nós, tanto quanto as pessoas que corretamente querem as informações, aguardamos essas investigações. Quando o Eduardo morreu e, ao lado de seu caixão, pude observar muitos que o combatiam chorando e muito comovidos, fiquei pensando e até falei para algumas pessoas: "olha, uma fatalidade como essa só pode servir para nos tornar melhores e maiores". Os mesmo que choraram e que se apressaram em ser os portadores do seu legado agora riem entre os dentes tentando impor uma segunda morte. A morte física foi uma fatalidade. O que não queremos é sua morte política e simbólica por leviandade.
Silvia Fonseca pergunta:
Mas para evitar essa morte simbólica não é melhor esclarecer tudo logo?
Não temos como esclarecer aquilo que é de responsabilidade dos empresários. O Eduardo buscou um serviço. Esse serviço foi prestado. É uma metáfora simples. Imagine se você sofre um acidente dentro de um carro ou dentro de um táxi. Não pode ser você que vai esclarecer do provimento do serviço que você buscou para lhe atender. O Eduardo buscou o serviço, o pagamento na forma legal, e as investigações estão sendo feitas. As investigações vão esclarecer. Queremos a verdade seja qual for e o que for. Isso é a nova política.
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