- O Globo
A ata do Copom divulgada ontem exibe os sinais de um fracasso. Ela promete convergir a inflação para o centro da meta a partir de 2016. Na ata divulgada em abril de 2011, o Banco Central garantia levar a inflação para 4,5% até o final de 2012. Não conseguiu, prorrogou a promessa nesse período, e termina o mandato dizendo que será no segundo ano do próximo governo.
A estratégia de combate à inflação pelo governo Dilma é uma aula de como não se deve fazer. Não adiantou o Banco Central prometer levar os preços à meta em um "horizonte prolongado", porque ele não conseguiu. A ideia de cumprir a meta a prazo até poderia fazer sentido no começo do mandato porque ainda se sentia o impacto do crescimento acelerado de 2010. Mas, agora, a repetição das mesmas expressões e objetivos não esconde que essa diretoria não entregou o que lhe foi pedido.
Pior, o congelamento de preços administrados acabou aumentando a expectativa de inflação futura. Não foi o BC que determinou o represamento dos preços, pelo contrário, ele alertou que haveria o efeito colateral sobre as expectativas, mas o governo caminha para a sua etapa final com a marca da tolerância com um nível mais alto de preços e com o nível de atividade estagnado. Provado está — mais uma vez — que um nível mais alto de inflação não leva a mais crescimento, mas sim tira renda e derruba os investimentos e o consumo.
Quando a atual administração do Banco Central tomou posse, em janeiro de 2011, o País registrava crescimento de 7,5%; inflação de 5,91%; e juros de 10,75%. Hoje, o quadro é todo adverso: PIB de 1,4% (em 12 meses) mas caindo para perto de zero; inflação de 6,51%; e juros de 11%. Em abril daquele ano, na terceira reunião do BC desta diretoria, o Copom prometeu levar a inflação para 4,5% no final de 2012. Ontem, a promessa foi refeita com uma nova data: primeiros trimestre de 2016.
A inflação de serviços era alta naquela época e continua elevada, acima de 7%. Na ata divulgada ontem, esse foi um dos motivos para explicar o IPCA acima do teto da meta de 6,5%.
Só resta ao Banco Central reconhecer o inegável: "Em síntese, as informações disponíveis sugerem certa persistência da inflação, o que reflete, em parte, a dinâmica dos preços no segmento de serviços."
Nem isso explica tudo. A inflação não cai, em parte, porque os preços que estavam sendo controlados pelo governo começaram a subir. O grupo de produtos administrados, que engloba itens como energia, combustíveis e tarifas públicas, aumentou 4,63% em 12 meses até julho deste ano. No mesmo período de 2013, a alta era de apenas 1,31%. E até agora foi feito apenas parte do ajuste. A gasolina, por exemplo, caiu 0,1% até julho, enquanto se sabe que a Petrobras importa o combustível a um preço mais alto do que vende internamente. A expectativa é de aumento depois das eleições. Por isso, o BC estima que os administrados ainda vão acelerar para 6% em 2015, para só então começarem a perder força.
A queda das vendas de varejo em julho divulgada ontem pelo IBGE é mais uma prova de que, quando se tolera uma inflação mais alta, a única colheita possível é de queda do nível de consumo e atividade. O varejo ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, está em forte desaceleração. Saiu de uma alta de 12,3% em janeiro de 2011 para 1,1% em julho deste ano. Comparar a ata de abril de 2011 com a divulgada ontem, com a mesma promessa de algum tempo no futuro se atingir a meta, dá a amarga sensação de tempo perdido.
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