• Juros são altos por que governo gasta mais do que pode
- Valor Econômico
A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, chegou até aqui como favorita sem fazer concessão às demandas do mercado financeiro e das empresas do setor real. Também não cedeu às pressões do PT e do ex-presidente Lula, especialmente para que trocasse o comando da área econômica e se aproximasse do setor privado, de quem se afastou desde 2012. Ou, ainda, que fizesse uma "Carta aos Brasileiros", tal como Lula fez às vésperas das eleições de 2002 e acalmou os mercados.
Sem compromissos firmados em troca de apoio político, Dilma estará livre para determinar as bases da política econômica do eventual segundo mandato.
Até há pouco tempo, havia quem acreditasse que a presidente mudaria os rumos, se vencesse as eleições, ao constatar que a sua primeira gestão levou o país a um período de crescimento medíocre, inflação alta, déficit externo, deterioração fiscal sem precedentes, dívida crescente, juros elevados, investimentos em queda, o setor elétrico em frangalhos e baixa confiança de empresários e consumidores.
Hoje, a visão predominante é que ela, se reeleita, "dobrará a aposta". Não fará um ajuste fiscal relevante e continuará firme nas suas convicções. Algumas em especial, como: inflação no teto da meta (6,5% ao ano) é um bom objetivo; a indústria precisa de mais incentivos setoriais para voltar a crescer; o sistema de preços não funciona e requer a intervenção do governo; os bancos públicos têm que prosseguir ativos na expansão do crédito subsidiado. Não é condenável conceder subsídios desde que o seu custo seja claro, previsto no Orçamento aprovado pelo Congresso e haja uma noção mínima da relação custo-benefício. Exemplo disso é o credito agrícola a que todos do setor têm acesso e não uns poucos eleitos pelo governo.
A campanha eleitoral do primeiro turno chega ao fim sem que nela tenha se discutido o que realmente interessa: como o país voltará a crescer. Só com a retomada do crescimento será possível manter o emprego e a renda.
O debate entre os candidatos foi pobre. A propaganda eleitoral jogou temas na sala do cidadão sem a menor intenção de esclarecer, mas confundir e aterrorizar, em um claro processo de deseducação da sociedade.
Falou-se sobre a autonomia do Banco Central, a elevada taxa de juros fruto da ganância sem limites dos banqueiros, quando não sobre questões em que a campanha só serve para perpetuar o atraso, como a criminalização do aborto.
Mas ninguém disse que a taxa de juros é de 11% ao ano, das mais altas do mundo, porque o governo gasta muito mais do que arrecada. Para cobrir o "rombo" que produz nas contas públicas, o Tesouro Nacional se endivida no mercado, emitindo papéis que são comprados tanto pelas tesourarias dos bancos quanto por um trabalhador que aplica R$ 200 em algum fundo de investimento. Ambos são credores do governo que quanto mais gasta mais terá que buscar dinheiro no mercado e mais juros pagará.
Se o governo fosse mais parcimonioso no gasto do dinheiro público os juros poderiam ser palatáveis e a economia menos penalizada.
O ímpeto com que a presidente condenou a autonomia do Banco Central pode impor um custo extra para o país: o aumento da taxa de juros no futuro próximo, já sinalizado pelo próprio Banco Central esta semana, quando da divulgação do relatório trimestral de inflação.
Ao dinamitar a credibilidade da instituição encarregada de proteger o valor do dinheiro e sustentar que não "há necessidade de um ajuste fiscal profundo", Dilma agrega novas dificuldades à decepcionante herança do seu governo para controlar a inflação, reduzir os juros e viabilizar a retomada do crescimento econômico.
Os sinais emitidos também foram ruins. Ela demitiu o ministro da Fazenda sem escolher um substituto e criou uma crise no BC. Hoje é certo que a autoridade monetária não ficará mais sob a mesma diretoria caso Dilma se reeleja. Há diretores que já decidiram sair mesmo se convidados a ficar. E uma lista de nomes vai surgindo para ocupar a pasta da Fazenda: Fábio Barbosa, do Grupo Abril, e Josué Gomes, da Coteminas, são os mais citados, mas há outros.
Na área fiscal, o governo retrocedeu aos tempos da gastança. Neste ano, até agosto, a despesa do Tesouro aumentou 15,5%, muito acima do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em 0,7% pelo BC para 2014, e tem sido assim desde 2011. Em um aspecto, porém, houve notícia positiva: o Tesouro Nacional começou a explicitar o tamanho do "buraco" que estava escondido pelas "pedaladas" contábeis.
O que era superávit primário transformou-se em déficit nos últimos quatro meses, sem considerar despesas de mais de R$ 100 bilhões postergadas para 2015 em diante.
O que os economistas do setor privado preveem para o próximo ano é um crescimento tão baixo ou pior do que o deste ano, inflação resistente, aumento do desemprego - que deve começar a aparecer após as eleições - e queda da renda real, além de desvalorização da taxa de câmbio e elevação da taxa de juros. Tudo isso em maior ou menor grau dependendo da política de elevação da taxa de juros nos EUA, pelo Fed, e da credibilidade do governo que assumir em janeiro.
Assessores ligados ao PT alinham cenários também preocupantes caso Dilma conquiste um segundo mandato sem que esteja informada do tamanho dos problemas que vai enfrentar.
Um deles, o ideal, seria que todos estivessem errados a respeito da presidente e ela fosse, sim, capaz de se reinventar e mudar a condução da economia, tal como fizeram Fernando Henrique Cardoso e Lula depois da reeleição.
Um segundo cenário exigiria uma intervenção para reproduzir solução do tipo Itamar Franco, que contou com a ajuda do PSDB, quando FHC assumiu a pasta da Fazenda e convocou os melhores economistas do país para preparar o Plano Real e derrubar a superinflação. E, por fim, sobraria para Dilma o exemplo do governo José Sarney que, depois de tantas tentativas e erros na economia, definhou e terminou de forma melancólica.
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