Aécio e Marina questionam Dilma sobre desempenho da economia e desvios na estatal. Petista diz que 'todo mundo pode cometer corrupção', e rebate ataques citando privatizações no governo tucano e corrupção no Ibama quando a candidata do PSB era ministra. Levy Fidelix protagoniza bate-boca com Eduardo Jorge e Luciana Genro
Corrupção na Petrobras e condução da política econômica esquentam debate 'olho no olho'
• Dilma foi alvo de rivais por conta dos escândalos em série na estatal; polêmica sobre união homoafetiva voltou à tona
O Globo
RIO - No último e decisivo debate presidencial do primeiro turno da campanha, exibido nesta quinta-feira à noite pela TV Globo, a presidente do PT, Dilma Rousseff, candidata à reeleição, entrou na mira dos adversários. A munição: corrupção envolvendo seu governo e a suposta utilização dos Correios em sua campanha eleitoral. Logo no primeiro bloco, com tema livre, a candidata Luciana Genro (PSOL) perguntou se as denúncias envolvendo o ex-diretor Paulo Roberto Costa, solto na quarta-feira, depois de beneficiado pelo instituto da delação premiada, não seriam resultado das alianças de seu governo. A presidente retrucou, em alguns momentos lendo números na pasta que carregava, destacando as medidas contra corrupção que tomou em sua gestão. E voltou a dizer que demitiu Paulo Roberto.
- Não acho que sejam alianças que definam corruptos, corruptos há em todo lugar. A abertura a todas as atividades de investigação é característica do meu governo. Não acredito que ninguém esteja acima de corrupção. Acho que todo mundo pode cometer corrupção - disse a presidente, que, na primeira fala, disse que, se dependesse dela, o debate seria propositivo.
O tema voltou em seguida, na pergunta que o Pastor Everaldo escolheu fazer ao tucano Aécio Neves, com quem tentou criar uma espécie de dobradinha contra a candidata do PT. Foi de Everaldo a pergunta sobre o uso dos Correios na campanha petista, estatal que foi “a origem do mensalão”. Aécio atacou a adversária.
— É vergonhoso o que vem acontecendo nas nossas empresas públicas. A Petrobras deixou há muito tempo as páginas de economia para, diariamente, nos surpreender nas páginas policiais. Agora, os centenários Correios estão a serviço de uma candidatura e de um partido político em Minas Gerais. Quem diz isso não sou eu. É uma gravação de uma das principais lideranças do PT em Minas, que diz: se o PT hoje apresenta determinados índices nas pesquisas eleitorais, isso se deve ao dedo do PT nos Correios. Fomos descobrir que grande parte das correspondências enviada por nós não chegou aos destinatários. Por isso, tenho defendido a candidatura de Pimenta da Veiga porque não quero que as empresas públicas de Minas, como de todas do Brasil, não caiam nas mãos daqueles que as utilizam para fazer negócios — disse o tucano, afirmando sentir “indignação”, ao ver o estado brasileiro “a serviço de um projeto de poder”.
A questão da corrupção voltou no início do segundo bloco: o tema foi sorteado pelo apresentador William Bonner. O candidato Eduardo Jorge (PV), sorteado para perguntar a Dilma, tentou mudar o assunto para o posicionamento da presidente em relação ao aborto. A candidata do PT preferiu voltar ao tema sorteado. E leu o depoimento de Paulo Roberto Costa, de 10 de junho deste ano. Em que ele diz que foi ao gabinete do ministro de Minas e Energia (Edison Lobão), que teria pedido a ele a carta de demissão. A candidata disse que é “má -fé” dizer que o governo nada fez para que o ex-diretor fosse demitido.
- Tem gente que usa o discurso do combate à corrupção para fortalecer a Petrobras, outras para enfraquecer e querer sua privatização.
Privatização de estatais
Privatização foi o tema escolhido por Dilma, ao ser sorteada para perguntar sobre as políticas públicas para as estatais. A presidente afirmou que o tucano defendera políticas de privatização. E perguntou se ele iria privatizar a Petrobras e os bancos públicos.
- Não é a melhor forma de tratar um grupo que assaltou a nossa maior empresa pública (a Petrobras). ( Paulo Roberto) Foi com esse documento (uma ata) para casa e depois para a cadeia. E nós (o PSDB) privatizamos setores que precisavam ser privatizados. Imagina a Embraer nas mãos do PT. Fizemos privatização dos setores importantes porque eram necessárias. No meu governo, a Petrobras será devolvida ao Brasil e com uma gestão que a engrandeça. Os bancos públicos não serão cabides de empregos para aliados - devolveu Aécio.
A candidata do PT afirmou que os tucanos entregaram a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil em “situação precária”:
- Acho estranho que o senhor trate com tanta leveza a questão da privatização. Foi num governo do senhor que um funcionário disse que estavam tratando (a questão das privatizações) no limite da irresponsabilidade - disse ela.
O debate esquentou, quando Aécio, na réplica, afirmou que “o povo está indignado com o que seu partido (de Dilma) fez com nossa empresa. Entregaram a estatal (Petrobras) a uma quadrilha. Esse é o lado perverso do aparelhamento, que é a pior marca do governo do PT.
O tucano chegou a demonstrar uma rara solidariedade a Marina Silva — a quem atacaria em seguida — dizendo que há um “vale tudo de acusações sem sentido e absurdas, como a que vem recebendo a candidata Marina todos os dias”. Nas contas do tucano, os desvios da Petrobras dariam para financiar 420 mil bolsas família.
Ainda no primeiro bloco, o clima do debate também refletiu o momento acirrado da disputa, em que Marina e Aécio disputam ponto a ponto quem chegará ao segundo turno contra Dilma. O tucano fez referência à ação que a adversária ajuizou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a exploração do fato de que Marina, a despeito de defender a “nova política” estava no PT na época do mensalão.
- Vossa Excelência também estava no partido quando houve o mensalão. Pessoas que cometem erros, como é o caso do mensalão do PT e do PSDB, existem. Saí do PT para manter a minha coerência. Não vi o senhor sair do PSDB - e completou:
- O senhor disse que fui atacado pelo PT. Também fui atacado pelo senhor, que pela primeira vez na história do país se une ao PT para me atacar. Se alguns de seus aliados perderem eleição o senhor vai chamá-los de velha política?
A autonomia do Banco Central, tema discutido com frequência na campanha, foi tema de embate entre Dilma e Marina Silva. A candidata do PSB disse que, em 2010, Dilma defendia a autonomia do Banco Central. E que mudou sua posição na eleição deste ano — uma estratégia para devolver à candidata do PT a pecha de que muda de opinião conforme as circunstâncias.
- Qual Dilma que está falando agora? A que está usando o discurso da eleição ou a que tem uma convicção?
Dilma afirmou que Marina confunde autonomia com independência.
- Independência só são para os poderes. Independência (do BC) é dar um quarto poder para os bancos. Sempre defendi autonomia, sempre me acusam de não respeitá-la. Eu respeito. A autonomia tem que ser opção que os governos fazem em defesa de uma política de combate à inflação. Sugiro que a senhora leia o que escreveram sobre seu programa.
Dilma e Aécio protagonizaram vários confrontos, muitas vezes discutindo o legado dos governos de Fernando Henrique Cardoso - presente na plateia e aplaudido ao ser citado por Aécio - e Lula. Inflação e Bolsa Família foram citados várias vezes. Ficou clara a disputa sobre a paternidade do Bolsa Família. Dilma lembrou que, em seu governo, o programa beneficia 56 milhões de pessoas, e no governo tucano eram 5 milhões. Marina prometeu dar 13º salário aos beneficiários do programa, sem dizer quanto isso custaria ao Estado. Dilma criticou a política econômica do governo tucano e a taxa de desemprego no período. Aécio afirmou que Dilma falou “uma pérola" ao dizer que a inflação está sob controle.
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