• Indefinição sobre rumos da eleição aumentou o nervosismo entre os presidenciáveis; houve mais erros, mais naturalidade e mais humor
Julia Duailibi – O Estado de S. Paulo
A incerteza a respeito da eleição de domingo deixou os nervos à flor da pele no debate entre os presidenciáveis, ontem, na Globo. Diferentemente dos anos anteriores, quando o confronto se dava com um segundo turno quase definido, o encontro de ontem valia pontos na corrida para se manter na próxima etapa da eleição. Tensos, os candidatos mostraram a cara, e o controle dos marqueteiros sobre seus personagens não foi tão eficaz. Houve mais erros, mais naturalidade e mais humor – o novo formato, no qual os adversários ficavam sentados e tinham que levantar nas perguntas e respostas, também deixou o jogo mais maleável.
Dos três principais colocados, Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) foram as que mais se expuseram. Num momento raro de exaltação em cadeia nacional, protagonizaram um bate boca acalorado para além do tempo previsto de suas respostas. William Bonner teve de intervir. Na luta por um lugar no segundo turno, Marina e Aécio foram para o embate e conseguiram colocar no ringue a candidata à reeleição, que deveria ter tido uma participação mais serena, típica de quem lidera o jogo.
Não adiantou Dilma vestir um rosa claro, que tentava suavizar sua expressão e seu andar grave. O tom pastel contrastava com o mau humor e contrariedade diante dos ataques dos adversários. Parecia que a qualquer momento ela levantaria da poltroninha para dar uma bronca nos adversários e em Bonner, que não a concedeu um direito de resposta merecido quando foi acusada de defender grupos terroristas.
O amarelo forte do terno de Marina também não diminuiu a imagem apática da candidata, que já havia sido fraca no debate da Record, no domingo passado. Mais uma vez Marina parecia acuada, impressão agravada pela rouquidão da voz. Ela errou (chegou a dizer que o governo Dilma teve o “melhor” índice de demarcação de terras indígenas) e quase perdeu o controle no embate com a candidata à reeleição.
Aécio também teve momentos de leve exaltação e chegou a levar uma bronca de Luciana Genro (PSOL), que mandou o tucano baixar o dedo para falar com ela. Mas, no geral, o tucano foi o mais disciplinado. Fugiu pouco do script que tinha que seguir: o de antipetista experiente e firme nas colocações. Demonstrou certa frieza, o que foi bom diante da exaltação no campo adversário. Curiosamente, foi o único a elogiar o padrinho político, FHC, que estava na plateia. Jogou para o eleitor tucano, que flertou com Marina nessas eleições.
Dos nanicos, Luciana Genro e Eduardo Jorge (PV) foram eficientes ao expor para o seu público bandeiras de seus partidos. Já o Pastor Everaldo fez uma dobradinha constrangedora com Aécio. Faltou ensaiar a abordagem de assuntos para além do interesse da pauta tucana – quando instado a fazer uma pergunta sobre previdência não soube o que formular.
Ruim mesmo foi Levy Fidelix (PRTB), que perdeu a chance de pedir desculpas pelas declarações homofóbicas, intolerantes e grosseiras do debate da Record. De um partido que serve muitas vezes de trampolim para outras candidaturas e que vive de recursos do erário, ele já não era um candidato para ser levado a sério. Agora nem as piadas têm mais graça.
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