Uma eleição é apenas o prelúdio de outra e, mal contados os votos, as peças da próxima disputa presidencial já se movem no tabuleiro político. A montagem da nova equipe ministerial de Dilma Rousseff abre o leque de indicações de futuros candidatos bem posicionados ao Planalto em 2018. As movimentações de Lula darão sinais na mesma direção. No PSDB, mesmo a votação de 51,64 milhões para o senador Aécio Neves, a maior para um tucano em eleições em que enfrentou o PT, não lhe garante posição cativa para tentar novamente retirar os petistas do poder. Marina Silva, com mais de 20 milhões de votos, eliminada no primeiro turno, continua em busca de um rumo para construir uma candidatura mais sólida.
Tudo será definido, em última instância, pelo sucesso ou fracasso do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Sem que ela modifique os rumos de sua política, é possível que o desejo de Agripino Maia, presidente do DEM e coordenador da campanha derrotada de Aécio Neves à Presidência se cumpra e o país assistirá à "contagem regressiva" do domínio petista no governo federal. Interpretações de alas petistas de que a eleição, em que um candidato da legenda menos votos recebeu, e a mais apertada desde 1989, ratificou apoio à política econômica atual apenas mostram que lições óbvias das urnas não foram assimiladas.
Ainda que seja uma simplificação, entre a plena autonomia e tutela de Lula os destinos de Dilma balançam. Um segundo mandato liberta a presidente de boa parte dos compromissos com o futuro, mas não em um partido como o PT. Um bom governo de Dilma será essencial para a continuidade do projeto petista e para a própria presidente, cuja marca na história que gostaria de deixar seguramente não seria a de uma coveira desse projeto. O primeiro mandato, porém, não foi bom e o PT e Lula se mostraram muito preocupados com isso durante a campanha.
Ao que se sabe, o ex-presidente Lula tem mais reparos ao estilo político de Dilma, pouco afeito ao diálogo com o Congresso, políticos, empresários etc, do que com seu receituário econômico. Se for isso, um reforço na coordenação política seria suficiente para que um nome de consenso entre ambos para a sucessão fosse em frente. Do lado de Lula, parece claro que sua disposição é entrar na disputa se o PT estiver seriamente ameaçado de perder o poder. Ele tem se inclinado por novas lideranças, mas suas apostas nas eleições de 2014 deram errado - Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann e Alexandre Padilha.
O próximo candidato petista terá de ter a visibilidade de um governo, e por isso os nomes que surgem são os de Fernando Pimentel, que ajudou a derrotar Aécio em seu próprio Estado, ou o de Fernando Haddad, o prefeito paulista cuja projeção política está mudando para melhor, depois de um início difícil. Não se sabe por quem se inclinaria Dilma, mas isso poderá ficar claro com a indicação dos postos de maior projeção política do novo ministério.
O segundo mandato da presidente será mais conturbado que o primeiro, e não apenas no front econômico. O novelo de escândalos que aflige a Petrobras apenas começou a ser desenrolado e, pelo pouco que veio à tona com a delação premiada de Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff, há potencial suficiente para destruir caciques petistas e da base aliada, assim como seus grandes financiadores de campanha.
Lula, um observador sagaz, comentou que ficou insatisfeito com a facilidade com que a pecha da corrupção colou no partido. Essa foi uma mancha com peso eleitoral e que facilitou o trabalho da oposição, ainda que ela mesma tenha telhado de vidro. O escândalo da Petrobras pode abrir uma crise política, e é um dos pontos que permitem antever que Dilma, PT e Lula precisarão agir na mesma direção ao longo do próximo governo.
Aécio teve grande desempenho eleitoral, mas perdeu em seu território e só ganhou a densidade que teve no maior colégio eleitoral, São Paulo, com a chancela de Geraldo Alckmin e dos caciques paulistas da legenda. Alckmin é um candidato óbvio ao Planalto. Marina Silva, a outra voz com votos da oposição, precisa definir o que quer. Ela terá de optar por construir o Rede ou permanecer no PSB. Seu apoio a Aécio trouxe dúvidas sobre sua capacidade de transferir votos. Das 41 cidades em que Marina venceu no primeiro turno, Aécio só ganhou em 4 no segundo. Mas ela tem muita força eleitoral para ser desprezada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário