• Mantega falta à reunião do FMI e, ao lado de Dilma, diz que programa tucano causará desemprego
Fernanda Krakovics, André Coelho, Martha Beck, Simone Iglesias e Luiza Damé – O Globo
BRASÍLIA - Depois de desconstruir Marina Silva (PSB) no primeiro turno, a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff investe agora em uma campanha do medo contra seu atual adversário Aécio Neves (PSDB). O ministro Guido Mantega (Fazenda), que cancelou viagem a Washington e deixou de participar da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), a pedido da presidente, afirmou que a política econômica defendida pela oposição causará desemprego e cortes em programas sociais, além de poder provocar uma recessão. Já a presidente, classificou ontem como "fantasmagórica" a situação do Brasil no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
- O que nós temos é a possibilidade de uma política conservadora neoliberal. É uma volta ao passado. A oposição só pensa em política monetária e fiscal austera. Aumentar o superávit primário (economia feita para o pagamento de juros da dívida pública), se for muito forte, será cortar os programas sociais. Eu desconfio que tem gente que gostaria de cortar os programas sociais. Isso vai aumentar desemprego. Política tradicional. Vai ter desemprego alto (&) É a volta ao passado que eu acredito que a população brasileira não vai querer - afirmou Mantega.
Os repórteres pediram que o ministro explicasse qual a diferença entre a política fiscal mais austera defendida pela oposição e a prometida pela atual equipe econômica para 2015, que projeta uma elevação do superávit primário para 2% a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Mantega disse que o discurso da oposição se tornou mais suave depois que ele próprio começou a apontar que haveria choque na economia:
- A oposição tinha um discurso de ajuste fiscal forte, e depois eu vi que houve uma mudança sutil. Eu tenho certeza que a nossa política fiscal é diferente da defendida pela oposição.
Programas sociais sem escala
Numa referência a Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, escolhido por Aécio como seu futuro ministro da Fazenda, se eleito, Mantega disse temer que a tentativa de derrubar a inflação no país seja feita com um choque de juros, o que prejudicaria o crescimento.
- Me preocupa muito que o mesmo gestor da política monetária possa voltar e vá querer derrubar a inflação com um choque monetário como foi feito no passado. Uma taxa de juros dessa magnitude acabaria com o mercado imobiliário porque ninguém vai querer investir em imóveis, pois vai ter um lucro tranquilo aplicando em títulos públicos. Vai ser uma maravilha. Ninguém vai querer trabalhar. Ninguém que tem dinheiro, naturalmente. Você vai provocar uma recessão da economia - disse o ministro.
A presidente reforçou a artilharia econômica:
- Do governo anterior, do Itamar (Franco), até o final do deles (tucanos), dobraram a dívida. As reservas deles eram de US$ 37,8 bi. Desses, US$ 20 bi eram empréstimos, portanto US$ 17,8 bi eram reservas mesmo. A situação do Brasil era fantasmagórica, não é retórica. A situação social também era ruim - disse Dilma, em reunião com governadores e senadores da base aliada eleitos domingo.
A presidente, que também comparou taxa de desemprego e poder de compra do salário mínimo, disse que as políticas sociais dos tucanos têm dimensão de "projeto piloto", porque, segundo ela, o Bolsa Escola atendia 5 milhões de pessoas e o Bolsa Família atinge 50 milhões. Dilma afirmou que "a escala faz toda a diferença".
- O mais dramático disso tudo é que o outro projeto simplesmente não fez políticas sociais e quando fez, fez em pequena escala, não compatível com a dimensão do país - argumentou Dilma, na reunião, que foi fechada à imprensa.
Após o encontro, Dilma ainda ironizou Aécio, em entrevista coletiva, pela derrota em Minas, seu reduto eleitoral, onde foi governador duas vezes. A presidente disse quem a conhece votou nela.
- Fiquei muito feliz por ter ganhado no meu estado natal (Minas). E no Rio Grande do Sul (onde fez sua carreira política) eu também tive boa votação. Então quem me conhece votou em mim - disse a presidente.
Sobre sua derrota em São Paulo, inclusive no ABC paulista, berço do PT, a petista não quis arriscar um diagnóstico ao ser perguntada:
- Minha querida, meu diagnóstico é assim simples: eu não tive voto. Não tem diagnóstico mais simples e humilde.
Ainda na ofensiva contra a oposição, a presidente classificou como "lamentável e elitista" a declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) de que o PT cresceu nos grotões e que tem os votos dos "menos informados":
- Eu acho lamentável, porque é uma visão elitista do país. (&) Escutei ao longo da minha vida que o povo não sabia votar. Quando achavam que o povo não sabia votar, não tinha eleição. Essa história de que o povo não sabe votar porque não estudou em uma universidade é uma falácia.
Durante a reunião, o marqueteiro João Santana fez uma exposição sobre as estratégias da campanha para o segundo turno. Ele considerou como ponto negativo o desempenho da candidata à reeleição em São Paulo. Santana reconheceu que a diferença grande de votos entre ela e Aécio não era esperada. O marqueteiro pediu aos aliados que demarquem bem a diferença entre PT e PSDB.
- Aécio é candidato da elite - disse Santana de acordo com participantes do encontro.
Ele também avaliou que o tucano precisa tirar uma diferença muito grande de Dilma para vencer a eleição.
- Um candidato que sai com oito milhões de votos atrás do primeiro colocado tem forte dificuldade de buscar a liderança, e somos um governo com muitas e grandes realizações. Só conseguiria se fosse um fenômeno e Aécio não é um fenômeno - afirmou Santana na palestra aos participantes.
Conquistar votos de Aécio
O marqueteiro também acha possível conquistar votos dados a Aécio no primeiro turno, porque entende que muitos eleitores decidiram migrar de Marina para o tucano, sem muita convicção, na reta final da disputa.
De acordo com participantes da reunião, ele tentou injetar ânimo, dizendo que não é verdade a versão corrente de que quem vai para o segundo turno de virada, como Aécio, vence a eleição. Depois da reunião, Santana disse aos jornalistas que fará uma campanha demarcando claramente as diferenças entre os governos petistas e tucanos:
- Será uma campanha mais propositiva, uma campanha a favor de Dilma e não contra Aécio.
Questionado se terá muita pancadaria contra o tucano, respondeu:
- Pra que? Não precisa.
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