• Com o caixa apertado do governo para investimentos e a possível dificuldade das empreiteiras envolvidas nas investigações de corrupção na Petrobrás para obter financiamentos, setor de obras públicas deve viver mais um ano complicado em 2015
Renée Pereira - O Estado de S. Paulo
A combinação entre a situação fiscal do Brasil, com caixa apertado para investimentos, e a participação de grandes empreiteiras no esquema de corrupção da Petrobrás pode paralisar o setor de infraestrutura em 2015. Mesmo sem saber quais punições as empresas sofrerão (se multas, cancelamento de contrato ou devolução de recursos), a expectativa é que elas tenham menos dinheiro para entrar em novos projetos em 2015.
A sétima fase da operação Lava Jato, desencadeada no primeira quinzena de novembro, prendeu executivos das construtoras Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS, Mendes Júnior, UTC, Engevix, Iesa, Galvão Engenharia e Queiroz Galvão. Juntas essas empresas, responsáveis pelas principais obras do País, devem no mercado mais de R$ 75 bilhões, sendo cerca de R$ 60 bilhões só da Odebrecht.
Nos últimos dias, no entanto, a nota de crédito dessas empreiteiras foi rebaixada ou colocada em observação negativa para uma possível revisão pelas agências de classificação de risco. A consequência da medida é que as construtoras terão mais dificuldade para encontrar financiamento a um custo mais baixo. Hoje, uma das principais fontes de crédito das empresas, além do BNDES, é a emissão de debêntures no mercado nacional.
Parte desses papéis tem vencimento no curto prazo. Isso significa que, se quiserem rolar essa dívida, vão ter de oferecer uma taxa de juros mais alta para os investidores. Caso contrário, a solução será tirar o dinheiro do caixa para pagar os títulos. O problema é que, com a freada do governo para reduzir despesas, a receita das empreiteiras deve minguar, já que parte significativa do faturamento vem de órgãos públicos, segundo ranking da revista O Empreiteiro.
Na UTC, por exemplo, 85% dos contratos eram públicos no ano passado; na Mendes Júnior, 75%; na Galvão Engenharia, 69%; e na Queiroz Galvão, 53% - na Odebrecht, OAS e Camargo, boa parte das receitas vem da iniciativa privada. "Junta-se a isso a possibilidade de perderem - ou reduzirem - algum contrato por causa da Lava Jato, o que poderá piorar a situação de caixa de muitas empresas. Os problemas de agora vão se resumir em falta de dinheiro lá na frente", afirma o sócio da consultoria RGF & Associados, Riccardo Gambarotto.
Na opinião dele, a capacidade de investimentos das empreiteiras ficará mais apertada. Isso sem considerar a possibilidade de alguma construtora ser considerada inidônea, o que excluiria a empresa das licitações públicas. Essa tem sido uma das principais preocupações das agências de ratings, que dão nota para os papéis das empresas.
No comunicado da agência Fitch, que rebaixou a nota da Mendes Júnior e colocou a classificação de todas as construtoras em observação negativa, ela alerta para possíveis reflexos nos demais negócios das empresas. Além da área de construção, essas companhias administram concessões de portos, aeroportos, rodovias e energia.
Para o presidente da Associação Paulista dos Empresários de Obras Públicas (Apeop), Luciano Amadio, é preciso separar os executivos das empresas. "Elas terão de devolver o que tiverem de devolver, mas têm de continuar tocando as obras", diz ele. "As investigações na Petrobrás vão atingir umas dez empresas, enquanto que o problema fiscal vai afetar centenas de companhias do setor com a redução de obras."
Para o setor de infraestrutura, que já recebe menos investimento do que o necessário, isso significará defasagem na oferta de serviços. O setor deve fechar o ano com investimentos de 2,54% do PIB, bem abaixo dos 4% necessários, segundo a Consultoria InterB.
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