• Brindes faziam parte de política de aproximação da OAS com autoridades
• Lista apreendida pela PF inclui pelo menos 28 deputados, nove ministros, 13 senadores e oito governadores
Estelita Hass Carazzai, Fabiano Maisonnave, Mario Cesar Carvalho e Rubens Valente – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA / SÃO PAULO / CURITIBA - Uma das empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato distribuía presentes como política de aproximação com membros do governo e da oposição. A Polícia Federal apreendeu na Construtora OAS, em São Paulo, em 14 de novembro, listas de mimos de aniversário para ministros, senadores, deputados, governadores e empresários.
As listas incluem pelo menos 28 deputados federais, nove ministros, 13 senadores, oito governadores e quatro prefeitos. Não é possível saber se os presentes foram entregues ou se foram devolvidos.
Um exemplo da lista é um relógio de R$ 10.619 para Armando Tripodi, chefe de gabinete do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, de 2005 a 2012.
O código de ética da administração federal só permite brindes de até R$ 100.
As listas da empreiteira trazem o nome do aniversariante e o que lhe será dado.
Em alguns casos, há observações cifradas. Em outros, anotações indicando que os presentes deveriam ser definidos por outras pessoas, principalmente integrantes da cúpula da empreiteira, como "CMPF", referência a Cesar Mata Pires Filho, vice-presidente da OAS Engenharia.
Os brindes variavam: ternos, gravatas, garrafas de uísque Blue Label Special, vinhos da marca Pêra Manca --produto português cujo preço pode variar de R$ 200,00 a R$ 700,00 por garrafa-- e cortes de tecidos para ternos.
Dilma e Lula
No dia do aniversário da presidente Dilma Rousseff em 2013, a agenda não anota a entrega de presente, mas sim a observação "combinar com J. Fortes", ao lado do nome da petista. Jorge Fortes é diretor da OAS em Brasília. O Palácio do Planalto nega qualquer recebimento.
O ex-presidente Lula também é citado nas listas. Nenhum presente é mencionado, mas aparece o nome de "P. Okamotto", possível referência a Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, como intermediário. Okamotto, aliás, consta como destinatário de um corte para terno.
O mesmo presente é indicado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) no dia de seu aniversário, em 2013, e de diversos outros aniversariantes, como o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) --com a observação "mais sofisticado"-- e os ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e José Eduardo Cardozo (Justiça).
Cunha disse que "é possível que tenha recebido" tal presente, mas não consegue se lembrar. Bernardo confirmou o recebimento do tecido, ainda guardado em sua casa.
Os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) aparecem como agraciados com gravatas. Mercadante nega ter recebido. Aloysio confirma.
Para a ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, estava previsto a entrega de um "kit churrasco".
Em homenagem ao aniversário do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP), a OAS pretendia dar "vinhos". Em outra anotação sobre o ex-ministro surge a marca portuguesa Pêra Manca. Para o tesoureiro do PT, João Vaccari, a OAS pretendeu dar "uma caixa de Pêra Manca".
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), recebeu um corte de tecido, segundo a lista. Ele confirmou que recebeu vários "cortes", mas não se recorda de algum da OAS. Haddad afirmou que doa a entidades os cortes de tecido que recebe.
O deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) é citado como destinatário de uma "caixa porta relógio" de R$ 4.950. Ele disse que da OAS só recebeu "agendas, cadernos de anotações" de pouco valor.
Muitos presentes eram entregues "em mãos" por "dr. Léo", referência ao presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, conhecido como Léo
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