Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA O sentimento existente na cúpula das Forças Armadas, particularmente no Exército, às vésperas da divulgação do relatório da Comissão Nacional da Verdade, é de irritação e insatisfação.
Os ataques feitos aos militares por integrantes da comissão, que insistem que os comandos das Forças têm de reconhecer que cometeram violações aos direitos humanos, o que é rechaçado por todos, incomoda muito os oficiais-generais da ativa, segundo depoimentos reunidos pelo Estado.
Eles desqualificam o trabalho que está sendo realizado, alegando que a comissão agiu de forma "unilateral", desprezando o "outro lado da história". Para os militares, a comissão funcionou como um "tribunal de exceção" que quer "empurrar goela abaixo dos brasileiros uma história que não é verdadeira porque só tem um lado". Um dos generais ouvidos pelo Estado afirmou que isso não cabe e não pode ser aceito em um país democrático como o Brasil.
A própria presidente Dilma Rousseff, que receberá oficialmente o relatório final na próxima quarta-feira, já sinalizou que não quer, neste momento delicado de economia fragilizada, abrir um novo flanco de problema, em uma área que não lhe dá dor de cabeça. Por isso mesmo, de acordo com um interlocutor direto de Dilma, o tom da presidente sobre este assunto, neste momento, é de conciliação.
Os generais consultados pelo Estado foram unânimes em afirmar que o momento é de espera para avaliação do que será apresentado. Segundo um oficial-general da ativa, que não pode se manifestar publicamente, se houver um ataque frontal, será preciso tomar providências, "mas tudo pelos caminhos normais, legais, seguindo a hierarquia, sem nada que afronte a lei ou os princípios democráticos".
Nos comandos militares, o entendimento é que o Ministério da Defesa está conduzindo a questão de forma satisfatória e não tem nenhum interesse em alimentar uma crise. Portanto, a expectativa é de que as respostas venham exatamente pelo ministro ou o Ministério da Defesa, que falariam politicamente em nome das Forças Armadas. O que mais tranquiliza os militares é a determinação de que não há espaço para qualquer alteração ou revogação da Lei da Anistia.
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