• Reajustes em energia elétrica, ônibus e gasolina fazem analistas projetarem IPCA acima de 6,5%
Lucianne Carneiro – O Globo
RIO, BRASÍLIA e QUITO - A inflação deve fechar o ano dentro do teto da meta do governo, de 6,5%, mas ainda em nível elevado e em alta pelo segundo ano seguido, apesar da estagnação econômica. Em novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,51%, abaixo da expectativa de 0,55%. Para que o resultado do ano não ultrapasse os 6,5%, é preciso que o índice de dezembro seja de até 0,86%. Para 2015, o risco de estouro da meta persiste. Já há previsões de que o IPCA chegue ao fim do ano acima de 6,5%, pressionada por altas na energia elétrica, na gasolina e no ônibus urbano, os chamados preços administrados. Em 12 meses, a taxa foi de 6,56%, acima do teto da meta pelo quarto mês seguido. No ano está em 5,58%.
As projeções são de IPCA entre 0,68% e 0,81% em dezembro, fechando o ano dentro da meta. Embora elevada, a taxa é inferior aos 0,92% de dezembro de 2013, o que deve permitir que a alta em 2014 fique entre 6,3% e 6,4%. Confirmados esses números, 2014 será o segundo ano seguido de taxa superior à do ano anterior: 6,5% em 2011; 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013.
Para o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, o IPCA deve ficar entre 6,4% e 6,45%:
- Estamos observando uma grande chance de a inflação ficar em torno de 6,4% e 6,45%, dentro, portanto, das bandas de tolerância do regime de metas. O mercado espera que a inflação (de dezembro) fique entre 0,74% e 0,83%.
Para a economista da Tendências Adriana Molinari, é factível fechar este ano abaixo do teto da meta. A consultoria prevê 0,68% em dezembro e 6,3% no ano:
- Mas é uma inflação bastante elevada.
No resultado acumulado em 12 meses, novembro foi o sexto mês seguido com inflação em 6,5% ou acima desse nível.
- A inflação roda há meses em torno dos 6,5%. Acreditamos que o IPCA ficará em 6,4% em 2014, mas será um acaso. A inflação preocupa - diz Leonardo França Costa, da Rosenberg & Associados.
Ao chegar à sede do Ministério da Fazenda, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o IPCA de novembro "foi um bom resultado". Já a presidente Dilma Rousseff, ao final da cúpula da União de Nações Sul-americanas, em Quito, recusou-se a comentar diretamente o IPCA. Ao ser perguntada se estava preocupada com a taxa de inflação, respondeu:
- Um presidente é preocupado todo santo dia, chova ou faça sol. Não tem algo que ocorra que não nos preocupe.
Carne já subiu quase 18% no ano
O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, acredita que a inflação não deve estourar a meta em 2014, mas lembra que alimentos, mais voláteis, serão uma das principais pressões em dezembro. E ele já se preocupa com 2015, para quando projeta IPCA de 6,8%:
- O que mais vai pesar em 2015 serão os preços administrados, em quanto os serviços vão compensar.
A Tendências Consultoria prevê que os preços administrados avancem 8,4% em 2015, enquanto a alta dos preços livres deve ser de 5,8%. Há expectativa de mais reajuste de energia no próximo ano, além da entrada em vigor do sistema de bandeiras tarifárias, que prevê que a tarifa aumente quando o custo de geração for mais alto.
A aceleração de 0,42% em outubro para 0,51% em novembro foi puxada principalmente pelo preço dos alimentos, que subiram 0,77%, ante 0,46% no mês anterior, afetados pela seca. O maior impacto individual veio da carne, com alta de 3,46% e impacto de 0,09 ponto percentual. Até novembro, a carne subiu 17,81%.
Gasolina e energia elétrica foram o segundo e o terceiro maior impacto, de 0,07 e 0,05 ponto percentual, respectivamente. A gasolina subiu 1,99%, ao lado de alta de 1,64% em combustíveis, que reflete o reajuste de 3% do preço nas refinarias em 7 de novembro. Já a energia elétrica avançou 1,67%, puxada pelo reajuste de 17,75% no Rio, também em 7 de novembro, e por alta de PIS/Pasep/Cofins em algumas regiões.
E esse aumento já foi sentido no bolso. Dono do salão de beleza StudioMix, Daniel Brandão viu a conta de luz saltar de R$ 836 em outubro para R$ 970 em novembro, sem alterar seu padrão de consumo.
Rio tem a maior alta de preços no ano: 6,13%
O Rio de Janeiro foi a região metropolitana com a maior inflação em 2014 e nos 12 meses encerrados em novembro: 6,13% e 7,37%, respectivamente. As principais pressões para o Rio ter a inflação mais alta no ano vieram dos serviços: refeição (8,97%), aluguel residencial (10,93%) e empregado doméstico (11,74%).
Brasília teve a menor taxa de inflação no ano (4,93%) e no acumulado nos 12 meses encerrados em novembro (6%). Lá, a inflação de alimentos subiu 5,26% em 2014, abaixo da média nacional de 6,88%.
Goiânia foi a segunda região com maior alta de preços em 2014 (6,02%), seguida de Porto Alegre (5,92%) e Recife (5,87%). (Lucianne Carneiro)
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