A presidente Dilma enfrenta cenário difícil nas cidades com mais de 500 mil habitantes, onde, segundo o Datafolha, em 15 dias a rejeição à petista subiu e ela perdeu votos. Em SP, está empatada com Aécio. Já no Rio, ela vence.
Terreno minado
• Avaliação do governo piora, rejeição a Dilma sobe, e petista perde votos nas grandes cidades
Renato Onofre e Fernanda Krakovics – O Globo
SÃO PAULO e BRASÍLIA- Apesar de ainda liderar a disputa pelo Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff perdeu parte do capital político que tinha nos grandes centros urbanos — cidades que têm mais de 500 mil habitantes e que costumam funcionar como polos propagadores de votos para o resto do país. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada anteontem, nos últimos 15 dias, houve queda na intenção de votos na petista e aumento de seus índices de rejeição.
Além disso, piorou a avaliação de desempenho do atual governo. Os dados foram recebidos com preocupação pelo comitê que trabalha na reeleição da presidente.
De acordo com a sondagem, o percentual de eleitores que consideram a gestão de Dilma “ótima ou boa” recuou de 30%, no início de julho, para 25% nos municípios com mais de 500 mil habitantes. No mesmo período, a classificação de “ruim ou péssimo” foi de 31% para 37%, e a “regular”, de 38% para 37%, na mesma região.
Essa piora na avaliação se refletiu nos demais indicadores da pesquisa. Dilma viu as intenções de voto nessas cidades caírem de 32% para 29%. O percentual de eleitores que dizem votar no tucano Aécio Neves — que até aqui aparece como principal adversário à reeleição de Dilma — diminuiu de 24% para 22%, enquanto o de Eduardo Campos (PSB) foi de 8% para 9%. Cresceu, neste item, o número de votos em branco e nulos (de 17% para 19%) e dos eleitores que afirmaram que não sabem quem escolher (de 9% para 12%).
Já a rejeição de Dilma nos maiores municípios do país, que era de 37% no início de julho, chega agora a 42%. A de Aécio avançou um ponto percentual (para 21%), e a de Campos foi de 16% para 19%.
A importância da propaganda de TV
Para analistas ouvidos pelo GLOBO, as atenções do eleitor sobre o processo político foram ofuscadas durante a Copa do Mundo, o que gerou uma sensação de melhora do governo e se refletiu nos números divulgados pelo Datafolha no início de julho.
Contudo, terminada a competição, a falta de um legado concreto que melhore a rotina da população das grandes cidades reativou as tensões sociais expostas desde junho do ano passado.
Num cenário como este, ressaltam analistas, a propaganda no rádio e na TV será ainda mais importante na definição da eleição. A presidente Dilma terá o dobro do tempo de exposição de seus adversários e precisaria aproveitar isso em seu favor.
Divulgada na noite de quinta-feira, a pesquisa mostrou que Dilma tem 36% das intenções de voto no país — dois pontos a menos do que na pesquisa realizada nos dias 1 e 2 de julho. Ela ainda está à frente de Aécio, que manteve os 20% registrados na sondagem anterior, e de Campos, que foi de 8% para 9%. Mas, pela primeira vez, a presidente aparece em empate técnico com o tucano numa simulação de segundo turno.
Nesse cenário, Dilma teria 44% dos votos, e Aécio, 40%. O empate viria da margem de erro da sondagem, que é de dois pontos para mais ou para menos.
— O que vemos é a classe média dos grandes centros urbanos voltando à realidade, enfrentando caos no trânsito, assalto na porta de casa e aumento nos preços nas prateleiras. Apesar de essa culpa não ser exclusiva do governo federal, o crescimento dessa insatisfação hoje nada mais é do que o preço das inúmeras promessas que foram feitas e, até agora, não foram cumpridas — afirma o analista político e professor do Insper-SP Carlos Melo.
Empate em São Paulo
E não é de hoje que o aumento nas tensões urbanas preocupam o governo. Antes do início da Copa do Mundo, Dilma escalou ministros e aliados para defender publicamente o legado da competição.
— É como se fosse uma ressaca pós-Copa.
O cidadão comum acordou de uma festa e teve que encarar a realidade. E a realidade não mudou muito se comparado a junho do ano passado, quando ele foi às ruas cobrar mais mobilidade, saúde e educação — explica o cientista político e pesquisados da UFRJ Sandro Corrêa.
Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país (com cerca de 32 milhões de eleitores), Dilma e Aécio aparecem empatados na pesquisa de intenção de voto, com 25% das intenções de voto. O tucano ganha da presidente na capital (com 28% contra 23%) e na região metropolitana, que compreende parte do reduto petista, com 26% contra os 24% de Dilma. A disputa no interior do estado continua apertada, com 25% das intenções de voto para Dilma, um ponto a mais do que para Aécio (24%).
Ainda pelo Datafolha, nas simulações de segundo turno, Dilma perderia para seus dois adversários em São Paulo. Aécio venceria no estado por 50% a 31%. Campos, por 48% a 32%. Já no Rio, a presidente ainda mantém larga distância em relação ao tucano. Ela ganha tanto na capital (com 31% contra 19% de Aécio) quanto na região metropolitana (com 36% contra 17%) e no interior do estado (com 31% contra 17%).
O Datafolha mediu também o impacto da Copa do Mundo nas eleições. Dilma é, na opinião do eleitor, quem mais se beneficiou e também quem mais foi prejudicada pelo evento. De forma geral, 42% dos eleitores apontam que a petista foi quem mais se beneficiou com o Mundial, seguida por Aécio (7%) e Campos (2%). Um em cada quatro eleitores vê Dilma Rousseff como a mais prejudicada pela Copa. Outros 5% apontam Aécio, e 3%, Campos.
Para o professor do Iuperj Marcelo Simas, a saída da presidente Dilma é a TV. A petista deve ter 11 minutos e 48 segundos, contra 4m31s de Aécio e 1m49s de Campos.
A propaganda de rádio e TV acontecerá entre os dias 19 de agosto e 2 de outubro. Na hipótese de um segundo turno, o tempo será distribuído igualmente entre os dois candidatos.
— É cedo ainda para afirmar que a campanha de Dilma está ladeira abaixo. Há uma tendência negativa, mas é só o início da campanha. Dilma terá muito tempo de TV para expor sucessos de seu governo e explicar o legado de sua gestão — analisa Simas.
“Bom, não é”
Em Brasília, o empate técnico com Aécio no segundo turno e os demais dados da pesquisa Datafolha foram recebidos com preocupação pelo comitê de reeleição.
Mesmo assim, coordenadores da campanha afirmaram ontem que não haverá mudança na estratégia eleitoral.
Dilma vai continuar priorizando a agenda de presidente, e não as puramente eleitorais. A partir da semana que vem, ela deve visitar obras e participar de atividades relacionadas a projetos do governo federal, o que tem forte apelo eleitoral. Devido a restrições legais, ela não pode mais inaugurar obras nem lançar programas.
— Bom (o Datafolha), não é, mas não tem sangria desatada, desespero nem urgência.
Ela vai manter a agenda institucional de presidente — explicou um dos coordenadores da campanha petista.
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