• Desaquecimento da economia, consequente queda na geração de empregos e inflação elevada não animam investidores e funcionam como os piores cabos eleitorais
Antes da Copa, discutiu-se se o evento ajudaria ou não a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff. Logo no início da competição, constatou-se que tudo corria bem nos estádios e havia festa nas ruas, clima ajudado pelas medidas de emergência tomadas por estados e municípios, com a decretação de feriados. Não houve sequer maiores espaços para o radicalismo black bloc.
Uma pesquisa feita no final de junho e divulgada no início de julho deu algum alento à candidata. Agora, de volta à vida do cotidiano, e perdida a Copa, a mais recente sondagem do Datafolha aponta para um quadro perigoso à frente das aspirações do PT. O dado mais sugestivo é o empate técnico, em simulação de segundo turno, entre Dilma e o seu mais forte concorrente até agora, o tucano Aécio Neves, na faixa dos 40% dos votos. Também a tendência da avaliação da gestão da presidente não ajuda.
Se o Brasil houvesse ganhado o hexa, o quadro seria outro? Inútil especular. Assim como debater se a maneira vexaminosa como a seleção foi desclassificada pela Alemanha teria alguma influência no humor do eleitorado. Terreno mais firme para análises é o cenário da economia que se desenha já há algum tempo. Hoje já não se discute se o ciclo de crescimento pela via do consumo se esgotou de fato.
A comprovação está no noticiário econômico das últimas semanas. As dificuldades enfrentadas pela indústria se refletem no mercado de trabalho, um ponto forte no palanque dilmista. Em junho, pelo quarto mês consecutivo, caiu a quantidade de novos empregos com carteira assinada: 25.363, o pior número mensal em 16 anos, uma queda de 79,5% em relação a junho do ano passado, quando foram gerados 123.846 empregos formais.
Há um problema específico na indústria automobilística, bastante incentivada pelo governo. Mas o endividamento das famílias e a dependência em relação ao mercado da Argentina, no limiar de nova moratória externa, são barreiras difíceis de transpor.
Os sinais de desaquecimento da economia ficam mais fortes: o IBC-BR, índice do Banco Central de estimativa de tendência do PIB, retrocedeu 0,18% em maio. Um indicador semelhante, da Fundação Getúlio Vargas, caiu 4% de janeiro a junho. Parece haver uma recessão a caminho.
E como a inflação persiste, até acaba de furar mais uma vez o teto da meta de 6,5%, configura-se uma conjuntura ruim de estagflação.
Não precisaria ter sido assim. Bastava o governo não ter cometido tantos erros: na leniência com a própria inflação, com o desregramento nos gastos públicos e no solapamento da confiança no futuro. Se a inflação está elevada com preços públicos artificialmente contidos, quanto ela será em 2015? Diante da pergunta, projetos de investimentos são adiados.
Mesmo porque o represamento se dá em insumos essenciais: energia e combustíveis.
Preços em elevação e risco de desemprego são os piores cabos eleitorais.
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