• ...sem bafafá, quem foi malandro é, sempre será", diz um antigo enredo da escola Império Serrano. Lula caiu nesse mesmo samba em 2008 ao dar ordens na Petrobras
Hugo Marques – Veja
Em 2009, quando o presidente Lula já estava decidido a tornar Dilma Rousseff sua sucessora, o governo jogou pesado para abafar uma CPI que investigaria irregularidades na Petrobras. Sob orientação do Planalto, empreiteiras que tinham contratos com a companhia disseram a parlamentares que, se a apuração fosse realizada, as doações para as campanhas de 2010 cairiam drasticamente. A ameaça funcionou. A CPI foi controlada e o PT disputou a eleição sem ter de explicar as falcatruas que já sangravam os cofres da estatal, mas que só foram devidamente mapeadas pela Polícia Federal no ano passado. Entre os alvos da CPI naquele período, estavam os desvios que ocorriam na área de liberação de verbas de patrocínio da empresa. Era um tema aparentemente menor se comparado ao dos orçamentos superfaturados de refinarias e oleodutos, mas, se esquadrinhado, poderia já ter lançado luz sobre o topo da cadeia de comando responsável pelo bafafá em que se meteu a Petrobras. No varejo e no atacado, a farra nos cofres da estatal já era grande — e um caso comezinho descoberto numa investigação interna aponta o gabinete do presidente da República como a origem de, ao menos, parte dessa festa.
O caso, revelado na semana passada pelo jornal Valor Econômico, engrossa a extensa lista de exemplos de como o PT se apoderou sem pudor da máquina pública para fortalecer seu projeto de poder. Em depoimento prestado em uma sindicância interna da estatal, Geovane de Morais, ex-gerente de comunicação da área de abastecimento da Petrobras, contou que partiu do então presidente Lula a determinação de que o departamento liberasse 12 milhões de reais para as escolas de samba do Rio de Janeiro às vésperas do Carnaval de 2008. Apesar de a área técnica da Petrobras ter se manifestado contra o repasse, que violava uma série de normas internas, o caso foi parar na mesa de Paulo Roberto Costa, então diretor da companhia. Chamado carinhosamente por Lula de Paulinho, o hoje delator do petrolão foi taxativo, segundo o ex-gerente: "Olha, o Lula disse que é para patrocinar o Carnaval carioca, que é para dar 1 milhão a cada escola". E assim foi feito. A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) reforçou a ordem. "O presidente quer porque quer", afirmou Paulo Roberto, segundo o depoimento de Morais. Lula queria porque queria liberar o dinheiro para satisfazer aliados como o então governador fluminense, Sérgio Cabral — e, segundo o ex-gerente, foi buscar a solução nos generosos cofres da Petrobras. A sindicância concluiu que o pagamento às escolas de samba foi irregular.
A área de Morais era mais um dos tantos sumidouros de dinheiro da Petrobras — e o esforço para atender a ordens como a de Lula resultou, só em 2008, num desfalque de 151 milhões, incluindo pagamentos por serviços nunca prestados. Há outros detalhes sórdidos no depoimento do ex-gerente. Embora ele tenha dado nome e sobrenome de quem estava pressionando a Petrobras a soltar dinheiro fora das normas, dentro da estatal tudo estava ajustado para que a lista de autoridades envolvidas nos desmandos descobertos na área nunca viesse a público. No relatório com a conclusão da sindicância, e também na transcrição do depoimento, o nome de Lula e o de outros políticos foram escandalosamente suprimidos. Se dependesse da Petrobras, tudo ficaria no blá-blá-blá. Só se descobriu que Lula foi citado (várias vezes) no caso das escolas de samba porque agora, quase seis anos depois, vazou a gravação do testemunho de Morais. O ex-funcionário foi demitido. A história ainda pode dar samba... "Pega um leva dois / Alô quem vai / Tô baseado na ideia do papai."
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