• Montagem de ministério aumenta divisões do PT e ameaça Lula-2018
César Felício – Valor Econômico
A montagem do ministério da presidente Dilma Rousseff aprofundou as divisões dentro do PT e colocou uma sombra sobre o projeto da sexta candidatura presidencial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda a aposta mais forte do partido para a sucessão de Dilma em 2018.
O mal estar dentro da tendência Construindo um Novo Brasil, majoritária dentro do PT, é grande e os integrantes da corrente querem discutir uma reação com Lula e com o presidente da sigla, o deputado estadual paulista Rui Falcão. A avaliação é que o novo formato do governo fortaleceu o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, classificado como "o condestável" (homem forte) da nova equipe.
"Estou muito preocupado com o que está acontecendo e qual a consequência que haverá para a liderança de Lula", comentou, sob reserva, um senador do PT próximo ao ex-presidente. "Mantido o atual quadro, ele não parece mais ser o candidato da preferência do Palácio do Planalto, e não terá como ser candidato contra o Planalto, mesmo com a popularidade que traz consigo", observa outro senador petista. Há ainda o temor dentro do PT de que o grupo mais próximo ao ex-presidente termine envolvido nas denúncias que afetam a Petrobras.
Não existe a hipótese de Lula perder uma disputa interna dentro do partido. Mas isso não é suficiente para o ex-presidente concorrer: ele já estaria constrangido pela diminuição da influência junto a Dilma e não entraria no cenário de 2018 sem um endosso claro de sua sucessora na presidência.
Segundo os seis petistas que falaram ao Valor, sob a condição do anonimato, Lula permanece como "plano A" da sigla para 2018, entre outros motivos pela dimensão de sua popularidade: uma pesquisa recente do Datafolha o apontou como o melhor presidente da história brasileira para 56% dos pesquisados. Mas Mercadante se tornou a principal alternativa caso o governo Dilma seja bem sucedido, de acordo com um deputado vinculado à tendência Mensagem ao Partido, a segunda em importância dentro do PT. "Seu poder deriva de Dilma, não do partido, e ele está totalmente atrelado ao destino que o governo terá", afirmou este parlamentar. Só perde o favoritismo se o governo fizer uma administração impopular.
Um dirigente matiza o poder de fogo de Mercadante em caso de desistência de Lula em disputar um novo mandato. "Há vários núcleos na nova equipe que não terão a ação coordenada por Mercadante. É o caso do ministro da Defesa, Jaques Wagner, do ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, e de ministros não petistas como o das Cidades, Gilberto Kassab, e o da Educação, Cid Gomes. Ele estará longe de ser um primeiro-ministro", afirmou, também sob reserva.
Mercadante foi candidato a vice-presidente na chapa de Lula em 1994 e disputou o governo de São Paulo em 2006 e 2010 com apoio integral do ex-presidente. Distanciou-se da corrente majoritária do PT nos últimos anos. Em público, defende a candidatura de Lula em 2018, como frisou em entrevista para o jornal "Folha de S. Paulo" este domingo.
A pasta ocupada pelo ex-governador da Bahia, eleito duas vezes e que conseguiu fazer seu sucessor, é irrelevante do ponto de vista político e sua escolha para comandar a Defesa ainda intriga os dirigentes petistas. No governo Lula, Wagner foi ministro do Trabalho e das Relações Institucionais.
O bom desempenho eleitoral do ministro da Defesa ainda faz Wagner ser citado como um nome a ser considerado em 2018. "Na hipótese de ter que se buscar alternativas, quem tem respaldo popular e larga na frente é Jaques Wagner, não Mercadante. Ele tem a força do voto e o destino do PT em São Paulo é um problema", disse outro deputado de uma corrente minoritária do PT, sempre ressalvando que Lula é o principal nome da sigla. Em São Paulo, o partido teve em 2014 o pior resultado eleitoral desde 1994.
Para um integrante da corrente Mensagem, São Paulo pode deixar de ser um problema caso o prefeito Fernando Haddad consiga se reeleger no próximo ano. Um resultado expressivo no principal colégio eleitoral em disputa no país em 2016 poderia colocar Haddad na rota da sucessão presidencial. O prefeito paulistano era o ministro da Educação até 2012, quando foi bancado por Lula para concorrer no ano seguinte à Prefeitura de São Paulo, alijando do processo a senadora Marta Suplicy. Haddad é próximo, entretanto, da tendência Mensagem ao Partido.
O governador mineiro Fernando Pimentel é pouco citado como um eventual nome do partido na hipótese de Lula não concorrer. "Ele tem uma tarefa a cumprir em Minas Gerais", disse o dirigente petista, em referência à necessidade de consolidar a hegemonia petista sobre o Estado de origem do presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves, candidato presidencial derrotado no ano passado. Caberá a Pimentel acelerar a desconstrução de Aécio em seu próprio terreno e possivelmente enfrentá-lo nas urnas na eleição estadual em 2018.
Colega de Dilma na militância clandestina contra a ditadura nos anos 70, Pimentel foi prefeito de Belo Horizonte e ministro do Desenvolvimento, mas ficou com pouco espaço na equipe ministerial.
Os dois representantes do PT mineiro na Esplanada são a ministra da Igualdade Racial, Nilma Gomes, que não tem densidade política; e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, um rival histórico de Pimentel no PT mineiro, reconciliado com o governador nas eleições municipais de 2012, quando Patrus disputou e perdeu a Prefeitura de Belo Horizonte.
"O erro de Pimentel na montagem do ministério foi ter feito indicações dentro da bancada com pouco currículo para as pastas", comentou um parlamentar petista. O governador tentou viabilizar o deputado Reginaldo Lopes no ministério da Educação.
O mineiro ainda é relacionado como hipótese para 2018 por parte da ala petista mais próxima ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Cumprindo pena em regime aberto, o ex-ministro tem promovido reuniões com petistas em sua residência em Brasília. Seus aliados falam em "reinvenção do PT".
Segundo um parlamentar, a intenção de Dirceu seria a de estruturar uma espécie de terceira via dentro da sigla, autônoma tanto em relação a Dilma como ao ex-presidente.
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