• Planalto mergulha nas eleições no congresso, preocupado com risco de enfrentar presidentes hostis
Fernanda Krakovics, Cristiane Jungblut, Isabel Braga e Chico de Gois – O Globo
BRASÍLIA - Temendo se tornar refém nos próximos dois anos de um Congresso hostil, o governo Dilma Rousseff abandonou o discurso protocolar de independência entre os Poderes e está em campanha aberta para eleger Arlindo Chinaglia (PT-SP) na Câmara e Renan Calheiros (PMDB-AL) no Senado. O Palácio do Planalto tentou reverter defecções na base aliada a favor tanto da candidatura do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tem chances reais de se eleger presidente da Câmara amanhã, como da chapa do senador Luiz Henrique (PMDB-SC), que é patrocinada pela oposição. Apesar de Renan, atual presidente do Senado, continuar favorito na disputa, governistas consideram competitiva a candidatura do catarinense, especialmente pelo fato de a votação ser secreta.
O esforço do governo na Câmara não está ainda surtindo todo o efeito desejado. O PRB, por exemplo, ratificou ontem o apoio à candidatura de Cunha, apesar dos apelos do ministro do Esporte, George Hilton (PRB-MG). Além de argumentos políticos, deputados da base afirmam que ministros estariam prometendo cargos e recursos do Orçamento, o que eles negam. No Senado, o PDT, apesar de comandar o Ministério do Trabalho, anunciou formalmente o apoio a Luiz Henrique. Por trás do esforço para garantir aliados na presidência das Casas, está o temor de que a CPI da Petrobras seja reaberta.
Pivô do fim da CPMF
No caso da Câmara, Cunha é fonte de dor de cabeça para o Palácio do Planalto desde o governo Lula, quando foi pivô da derrubada da CPMF, o chamado imposto do cheque. Agora o peemedebista está capitalizando o sentimento de insatisfação da base aliada com o governo Dilma e com o PT. Deputados de partidos como PMDB, PP, PR, PRB e PTB se sentem sub-representados no Executivo e cobram cargos, liberação de recursos do Orçamento e mais diálogo.
Já no Senado, o Palácio do Planalto argumenta com dissidentes da base que sempre pôde contar com Renan em momentos de crise e na defesa de interesses do governo. Da ala independente do PMDB e apoiado pela oposição, Luiz Henrique afirma que não ficaria contra o governo se for eleito, mas o governo não confia.
- O apoio do Renan custa caro, mas ele mata no peito. O Luiz Henrique não vai fazer isso - disse um senador do PT afinado com o Planalto.
Há senadores do próprio PT dispostos a votar em Luiz Henrique. A bancada do partido se reuniu ontem e não conseguiu fechar posição. A bancada do partido deve anunciar, na tarde de hoje, apoio a Renan, mas pelo menos quatro dos 13 senadores do PT devem votar em Luiz Henrique. Os ministros Pepe Vargas (Relações Institucionais) e Ricardo Berzoini (Comunicações), e o próprio ex-presidente Lula, tentam enquadrar senadores petistas.
Na reunião de ontem, o senador Walter Pinheiro (PT-BA) foi o mais enfático, de acordo com participantes da reunião, na defesa do catarinense:
- Tem que mudar, não dá mais para ficar refém do PMDB - teria dito Pinheiro.
Mais comedido, o senador Jorge Viana (PT-AC) também defendeu o catarinense.
- Eu trabalhei com o Luiz Henrique no Código Florestal. Ele é uma pessoa séria, confiável - teria afirmado Viana.
Nos últimos dias, Renan ligou para o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), para cobrar apoio. O ministro também foi procurado por Luiz Henrique para dizer que não seria um candidato de oposição. Aos dois, Aloizio Mercadante teria dito que defende o apoio à posição da bancada do PMDB, no caso, à candidatura de Renan.
O ministro Ricardo Berzoini, por sua vez, tem feito dupla jornada, acumulando funções de sua pasta, Comunicações, com a busca de apoio de deputados a Arlindo Chinaglia. Ele afirma que está agindo como "militante político", e não como ministro.
- Não estou pedindo votos a Chinaglia porque ele seria alinhado ao governo, mas porque acho que ele é o melhor quadro - disse Berzoini.
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