sábado, 31 de janeiro de 2015

Endividamento e balanço pesam na decisão de corte

• Empresa divulgou resultado do 3º tri sem apontar perdas com corrupção

• Sem o selo de bom pagador, companhia pode ter dificuldade de financiamento e perder investidores

Pedro Soares – Folha de S. Paulo

RIO - A Petrobras sofreu um novo revés, ao ter suas notas de crédito rebaixadas pela agência de classificação de risco Moody's, após deixar de assumir perdas com corrupção em seu balanço.

A estatal está a um passo de perder o grau de investimento, o que, segundo a Moody's, pode acontecer já em fevereiro --uma "ameaça" rara nos comunicados das agências de avaliação de risco.

As incertezas sobre as contas da empresa e seu endividamento pesaram na decisão.

Com o corte da Moody's, a nota da Petrobras está no último degrau de empresa "segura" para investir antes de passar para uma avaliação de risco especulativo.

Ao justificar sua decisão, a agência mencionou a investigações sobre corrupção na estatal e possíveis impactos do atraso da divulgação do balanço auditado na saúde financeira da companhia.

"Atrasos na publicação de resultados financeiros trazem o risco de que os credores tomem ações que possam, eventualmente, levar ao aceleramento dos resgates [de títulos que não venceram ainda]", diz a Moody's.

Se não apresentar seu balanço auditado até maio, credores podem solicitar o pagamento antecipado de dívidas de uma só vez, o que estrangularia ainda mais o já apertado caixa da estatal.

A Moody's afirma que a falha em apresentar "claros progressos na produção de balanços financeiros" normais pode levar a um novo rebaixamento da nota da Petrobras nos próximos 30 dias. Ou seja, ela perderia o grau de investimento.

Essa chancela confere à empresa um custo menor em suas captações de recursos e um leque mais amplo de investidores para seus papéis.

Grandes fundos de pensão estrangeiros, como os norte-americanos, só podem comprar títulos de dívidas de empresas com grau de investimento. Apesar das críticas na época da crise global, o aval das agências de classificação risco ainda é fundamental para o investimento.

Na quarta-feira, a Petrobras divulgou, com mais de dois meses de atraso, seu balanço do terceiro trimestre de 2014, porém sem ainda o aval de auditoria independente.

Os dados, porém, diferentemente do que era esperado pelo mercado, não mostraram as perdas da estatal com a corrupção investigada pela Operação Lava Jato, da PF.

Segundo a estatal, cálculo indicava a necessidade de fazer ajuste para baixo de R$ 88,6 bilhões no valor dos ativos, mas que não era possível definir quanto da cifra era corrupção e quanto eram fatores como falhas em projetos.

O cálculo, feito por consultorias independentes, deixou a presidente Dilma enfurecida, segundo assessores. O Planalto preferia que o número não fosse divulgado e classificou de "amadora" a estimativa, por colocar na mesma cesta ativos bons com outros contaminados por corrupção.

Piora do quadro
Em 23 de dezembro, a Moody's já havia colocado a nota de crédito da estatal em revisão para possível corte.

Karina Freitas, analista da corretora Concórdia, diz que "o quadro se deteriorou ainda mais" com a a redução da nota. "A agência citou entre os fatores para possíveis novos cortes a própria alteração na nota soberana [do país], até então um piso para estatais."

Outro foco de preocupação, segundo a analista, é a piora dos índices de endividamento da companhia.

Para Standard & Poor's e Fitch, a Petrobras mantém o selo de "bom pagador".

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