• Até para poder se dedicar ao grave problema da seca e os reflexos na geração de energia, Dilma não pode permitir que haja dúvidas sobre a administração da economia
Marcada para hoje, a primeira reunião ministerial do segundo mandato da presidente Dilma vem a calhar. Antes de qualquer outra consideração, por ser uma oportunidade de a chefe do Executivo quebrar o longo silêncio mantido nas semanas iniciais do seu novo governo, um período fértil em problemas e também em medidas na área econômica.
No campo das dificuldades, destaca-se a persistência da seca no Sudeste, com impacto direto num setor de energia elétrica já com sérios desequilíbrios financeiros, causados por equívocos cometidos pela presidente no primeiro mandato.
Quanto às medidas, todas destinadas a rearrumar as contas públicas e, com isso, reverter as más expectativas diante do futuro do país — o que começa a acontecer —, o silêncio presidencial semeou mais especulações sobre o verdadeiro compromisso de Dilma com a própria política econômica, algo difícil de entender para observadores menos familiarizados com as peculiaridades brasileiras.
Ao sequer anunciar os nomes de Joaquim Levy e Nelson Barbosa para as Pastas da Fazenda e Planejamento, delegando a tarefa ao porta-voz, e não se referir a qualquer das medidas já tomadas pela equipe econômica, Dilma pareceu querer se distanciar daquilo que disse na campanha eleitoral que não faria — o ajuste. Mas está fazendo, por imposição da vida real, por sensatez. Não é boa política fingir que Levy e Barbosa são parte de um governo paralelo, pois, afinal, joga-se no ajuste econômico o futuro do segundo mandato.
Lula, em todo o seu primeiro mandato, flutuou sobre um governo que era “neoliberal” na economia e “assistencialista” no campo social. Ele administrava as tensões entre os polos de “direita” e “esquerda" do governo. Tinha flexibilidade para tal. Não é o caso de Dilma Rousseff, sem a mesma capacidade de se acomodar às circunstancias e também sem qualquer ascendência sobre o PT.
Mas Lula demonstrou, entre 2003 e 2006, que defender o ajuste é o melhor que Dilma Rousseff fará, o que significa criar anteparos para proteger a equipe econômica. Assim, protegerá a si mesma. Chega a ser infantil imaginar que algo é executado na questão vital da economia sem a concordância do Planalto. Seja quem for o presidente.
Quanto mais blindada estiver a política econômica, melhor para todos. A começar pela própria presidente Dilma, que precisa se dedicar ao cada vez mais complicado problema do abastecimento de energia, setor sob risco de entrar em colapso caso a seca persista até próximo de abril, quando se inicia período normalmente de poucas chuvas.
Cortes no fornecimento de energia, involuntários ou administrados, terão efeito negativo na economia. Se a isso se somarem novas dúvidas sobre a convicção presidencial nas correções de política econômica, o quadro se deteriorará em alta velocidade.
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