• Com crescimento baixo, analistas estimam que Selic ficará em 12,5%
Gabriela Valente – O Globo
BRASÍLIA - Mesmo após o anúncio do governo de medidas de austeridade fiscal e do aumento da taxa básica de juros (Selic) pela terceira vez, os analistas do mercado financeiro voltaram a elevar suas estimativas para a inflação. As previsões, de acordo com a pesquisa Focus - a sondagem semanal que o Banco Central (BC) faz com as principais instituições financeiras do país - mostram que a expectativa para o resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 6,67% para 6,99%.
Foi a quarta alta seguida na projeção de inflação. As previsões do mercado estão, agora, ainda mais distantes do teto da meta do governo. O centro da meta é de 4,5% ao ano, com margem de tolerância de 2 pontos para cima ou para baixo.
Com isso, analistas já colocam em xeque a promessa da autoridade monetária de que a inflação chegará no centro da meta no fim do próximo ano.
Mesmo com projeções mais altas de inflação, os analistas não avaliam que o BC manterá por muito tempo sua política de aperto nos juros. A projeção para a taxa Selic no fim do ano foi mantida em 12,5% ao ano, o que significa que o mercado espera apenas mais uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa, hoje em 12,25% ao ano.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou os juros em 0,5 ponto percentual.
"A divulgação da ata do Copom, na quinta-feira, poderá trazer sinais mais claros sobre os próximos passos de política monetária, especialmente depois de o BC deixar as portas abertas tanto para a redução do ritmo de ajuste como para novo aumento de 0,50 ponto percentual na taxa Selic em seu próximo encontro", destacou o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros.
As incertezas em relação à política monetária são acompanhadas pelas dúvidas sobre quais serão os desdobramentos da crise da água e da energia nos preços. O primeiro reflexo é o aumento das previsões sobre as tarifas de serviços públicos. As perspectivas para a inflação de preços administrados subiram de 8,2% para 8,7% para este ano.
Para piorar o cenário de 2015, a projeção para o crescimento da economia está cada vez mais próxima de zero: passou de 0,38% para 0,13%, na quarta semana em que economistas revisam para baixo a estimativa.
Segundo Alcides Leite, professor de economia da Trevisan, com o desempenho fraco da economia, os preços devem subir menos neste ano.
Outras incógnitas cercam a política monetária como a cotação do dólar. Ninguém sabe ao certo como a moeda americana reagirá ao pacote de incentivo europeu e aos desdobramentos das ações da equipe econômica. Economistas ouvidos pelo BC mantiveram a estimativa de dólar a R$ 2,80 no fim do ano, a mesma previsão das últimas quatro semanas.
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