Lucas Marchesini – Valor Econômico
A leve recuperação econômica no mundo não foi suficiente para a América Latina e Caribe reduzir a pobreza na região, concluiu a Comissão Econômica Para a América Latina e Caribe (Cepal) da Organização das Nações Unidas (ONU) no relatório "Panorama Social da América Latina 2014", divulgado ontem.
De acordo com o documento, o número de pobres na região estancou, sendo de 28,1% da população em 2012 e 2013 e 28% na projeção para 2014. Esse número era de 43,9% em 2002 e caiu paulatinamente até 2012.
"A recuperação da crise financeira internacional não parece ter sido aproveitada suficientemente para o fortalecimento de políticas de proteção social que diminuam a vulnerabilidade diante dos ciclos econômicos", afirmou a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena. Ela também avaliou que "não se aproveitou o boom de preços nem as medidas para conter a crise financeira".
Já o número de extremamente pobres cresceu desde 2012, quando atingiu o piso de 11,3%. O percentual da população em situação de indigência subiu para 11,7% em 2013 e chegou a 12% em 2014, revelou o estudo da Cepal.
Em números absolutos, isso significa que em 2014, 167 milhões de pessoas viviam em situação de pobreza na América Latina e no Caribe, sendo 71 milhões em extrema pobreza ou indigência.
Na separação por país, há três grupos distintos em relação à dinâmica da pobreza. O primeiro grupo, composto por Paraguai, Colômbia, Peru e Chile, entre outros, reduziu a pobreza e a indigência entre 2012 e 2013.
Em um pelotão intermediário estão o Brasil e o Panamá, entre outros, com queda na pobreza mas um aumento na extrema pobreza no mesmo período. Segundo o diretor da Cepal no Brasil, Carlos Mussi, essa tendência, no caso brasileiro, se deve, à desaceleração do mercado de trabalho e à alta dos alimentos, que atinge diretamente os mais pobres.
Já o último conjunto de países teve aumento tanto entre os pobres quanto entre os extremamente pobres e é composto somente pela Venezuela.
Para 2015, a situação é ainda pior, já que economias importantes para a região, como o Brasil e a Argentina, enfrentam problemas e a redução no preço do petróleo impacta diretamente países como o Equador, a Colômbia e a Venezuela.
Sobre o Brasil especificamente, Alicia ponderou que o desempenho na área social "dependerá muito da intensidade e da duração do ajuste [fiscal]". Ela disse ainda que teve a oportunidade de conversar com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em Davos na semana passada e que "o compromisso [deles] é que [o ajuste fiscal] não afete a situação social do Brasil".
Além disso, Alicia afirmou que as autoridades econômicas brasileiras ressaltaram a importância do investimento em sua participação em Davos. " A política econômica vai se centrar principalmente em investimento. Essa é a mais forte mensagem que trago [de Davos]. Isso significa um governo mais eficiente", disse a secretária-executiva da Cepal.
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