• No encontro com ministros, hoje, Dilma pode desmentir o cético Galbraith, para quem reuniões governamentais são indispensáveis, quando não se quer fazer nada
- O Globo
Dilma Rousseff reúne hoje o Ministério e adiciona nova fotografia ao álbum da Presidência. Para a maioria, será uma chance de encontrar a chefe. É chegar, ver, ouvir e partir. Em silêncio.
Isso porque são 39 ministros. Se a cada um for permitido sintetizar seus planos em apenas dois minutos, Dilma será obrigada a escutá-los durante hora e meia. Sem intervalo.
Há casos piores. Pré-candidato pelo PMDB à sucessão de Dilma, em 2018, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, precisa de auditório para juntar as 64 pessoas do seu primeiro escalão. Se deixá-las falar por dois minutos, Paes vai passar mais de duas horas apenas escutando. Sem intervalo.
Tolerante, desde que as coisas sejam feitas do seu jeito, Dilma adotou a receita do antigo PSD mineiro, assim resumida por José Maria Alkmin, vice do general Castello Branco: primeiro se decide, depois faz-se a reunião.
A presidente tem hoje um desafio à biografia. O risco de fracasso significa atravessar os próximos quatro anos arrastando correntes no Planalto. Alguns aspectos do cenário:
• A escassez de água e os apagões sucessivos infernizam a rotina de 146 milhões de pessoas no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste;
• Os rarefeitos programas sociais encolhem, por caixa insuficiente para clientela crescente;
• A educação rateia, demonstra o Enem com o meio milhão de notas zero em Redação;
• Os serviços saúde pública entraram em falência. As filas nos hospitais refletem a restrição de gastos (R$ 2,5 ao dia por habitante) e as deficiências administrativas no SUS, somadas a duas décadas de congelamento da tabela médica e à precariedade da infraestrutura: apenas 10% das obras de unidades básicas e de pronto atendimento foram concluídas, 83% do programa de saneamento não saíram do papel, assim como 62% das obras de água potável;
• A percepção coletiva de segurança econômica está abalada pela inflação alta (7%), que será turbinada pelo tarifaço (até 40% na conta de luz) combinado a uma escalada tributária;
• Os juros sobem, desde a reeleição, assegurando a continuidade da recessão industrial. Nos últimos quatro anos, a indústria cortou 188 mil empregos, equivalente a duas Petrobras;
• Com o PT atropelado na eleição (perdeu 43% da bancada de sindicalistas e ficou reduzido a 23% dos votos nos maiores centros industriais paulistas, que lhe deram vida 35 anos atrás), Dilma e Lula traçaram um plano. Desde então, o governo se canibaliza na luta com o principal aliado, o PMDB, que completa duas décadas de hegemonia no comando e no controle da pauta do Congresso;
• Sobram incertezas sobre as contas corrompidas da Petrobras e seus efeitos no governo, no PT, no PMDB e no PP, entre outros.
A reunião ministerial é para anunciar “ajustes”. Faz sentido, pois o Orçamento da União tem sido drenado em gastos questionáveis, como aluguel de imóveis (R$ 1,2 bilhão), publicidade (R$ 219 milhões), celebrações (R$ 400 milhões) ou no trato e irrigação do jardim presidencial (R$ 1 milhão).
Dilma, porém, tem a chance de desmentir o cético keynesiano John Kenneth Galbraith. Depois de uma temporada no governo Kennedy, ele repetia: reuniões governamentais são indispensáveis, quando não se quer fazer nada.
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