- O Estado de S. Paulo
O Syriza, partido antiausteridade da Grécia, conseguiu vitória histórica nas eleições de domingo. Agora vem a hora da verdade, que consiste em colocar em prática o que foi prometido pelo seu líder, o carismático Alexis Tsipras .
O discurso eleitoral foi de rejeição à política imposta pelos credores representados pela troica (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Mas não conseguiu evitar a ambiguidade. A rejeição feroz à política de aperto de cintos exigiria, como última consequência, a saída da área do euro e da Comunidade Europeia. Mas a esse ponto Tsipras não chegou. Ele garantiu que seu governo não pretende abandonar a área do euro, radicalização que poderia pôr ainda mais a perder. Nos últimos cinco anos, o PIB da Grécia encolheu 25%. Apesar da ajuda da troica, a dívida aumentou, de 120% a 174% do PIB, por efeito da quebra do PIB. Mas o eventual abandono do euro e a volta da moeda nacional, a dracma, carregariam o risco de provocar dramática fuga de capitais e de investimentos.
Nas semanas que precederam as eleições, os analistas temeram pelo pior: por contágios e turbulências em ondas sucessivas por toda a Europa. Mas, ontem, o comportamento dos mercados foi de relativa calma, aparentemente porque ficou reforçada a percepção de que a opção pelo calote pelo novo governo grego foi mais um recurso de retórica do que será agora um plano de ação. Se levado às últimas consequências, produziria mais estragos econômicos e políticos do que vem resultando a austeridade imposta pela tróica.
Tudo se passa como se durante a campanha eleitoral o então candidato Tsipras estivesse juntando poder de barganha para uma nova renegociação da dívida da Grécia. Agora, depende da troica aceitar ou não, e em que termos.
A Grécia é uma economia nanica. Corresponde a apenas 2% do PIB da área do euro. E sua dívida não passa de 15,5% da dívida da França. O problema não é o tamanho, mas o que viria depois de uma rejeição, ainda que parcial da dívida que viesse a ser tolerada pela cúpula da União Européia.
É que um grande número de países está atolado em dívidas, em desemprego e em falta de perspectivas. Aceitar o precedente de distribuir molezas para a Grécia implicaria aceitar tratamento parecido para Portugal, Itália, Espanha, França e sabe-se lá que outras economias mais.
Na semana passada, o Banco Central Europeu anunciou o plano de afrouxamento quantitativo (quantitative easing) que prevê a recompra de títulos públicos e privados da ordem de 60 bilhões de euros por mês até um total de 1,1 trilhão de euros. É uma forte emissão de moeda com o objetivo de reativar a economia da área.
Austeridade é ruim e pode piorar tudo. Mas, para tesouros quebrados e com baixa ou nenhuma capacidade de crédito, qual a saída? O que está sendo testado agora – e não só pela Grécia – é algum tipo de solução política. No entanto, em última análise, solução política requer transferências de recursos, ou uma espécie de Plano Marshall, a gigantesca operação de resgate da Europa após a 2.ª Grande Guerra. Só que, desta vez, não há a torneira dos Estados Unidos.
Aí estão alguns dados estatísticos da economia da Grécia.
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