• O alívio pelo grau de investimento. E o sufoco com a Lava-Jato, pesquisas e manifestações
A possibilidade de perda do grau de investimento do país se reduziu com a decisão, anteontem, por uma das três grandes agências internacionais de avaliação de risco, a Standard & Poor’s, de mantê-lo, a um degrau do nível de especulativo. Simultaneamente, a nota desta agência para a Petrobras foi rebaixada para esse nível. Com a manutenção do grau de investimento do Brasil, a Standard &Poor’s manifesta aposta na viabilidade de aprovação pelo Congresso das medidas básicas do ajuste fiscal, fazendo referência expressa ao papel do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e contando com forte respaldo (a rigor, incerto) do governo.
Já no plano político, a primeira lista de réus da Lava Jato, com Renato Duque e João Vaccari, e o envolvimento maior de José Dirceu nas investigações, colocou o PT no centro do petrolão. Aproximando-o mais da cúpula dos três governos dirigidos pelo partido. Ao grande desgaste da presidente Dilma com esta relação junta-se o decorrente do avanço dos efeitos da inflação, sobretudo nas camadas de menor renda, combinados com a escalada do desemprego. Num contexto em que o duro ajuste fiscal, necessário para a correção do descalabro das contas públicas no governo anterior, agrava o quadro recessivo com amplo corte de gastos estatais e a inibição de investimentos privados.
Cenário com todos os ingredientes – do megaescândalo de corrupção na Petrobras à incapacidade administrativa, à fragilidade política do governo e à elevada rejeição social à presidente (constatada nas pesquisas do Datafolha e da CNT/DMA, e com provável reiteração na do Ibope, a ser divulgada) – que potencializam as manifestações de protesto da população. Como as novas previstas para o domingo, 12 de abril. Acentuando a necessidade imperativa de mediação político institucional e dos partidos (centralmente o PMDB e o PSDB) por uma saída – provavelmente, ainda, sem o impeachment da presidente –, que evite a explosão de grave crise de governabilidade.
Virada do PMDB chegando a São Paulo
A reorientação do PMDB no sentido do fim da aliança com o PT foi sinalizada, já, na convenção do início do segundo semestre de 2014, quando mais de 40% dos delegados reunidos em convenção se colocaram contra o apoio à reeleição de Dilma Rousseff; ao que se seguiu a montagem de dissidências pró-Aécio Neves por vários diretórios estaduais. Essa reorientação configurou-se claramente na disputa da presidência da Câmara, com a vitória de Eduardo Cunha, baseada na aglutinação do antipetismo dominante entre os deputados. E desdobrou-se em atos das mesas diretoras desta e do Senado, explicados – e basicamente justificados por suas implicações institucionais – como retomada da autonomia do Congresso diante do Executivo, bem como de sua agenda intervencionista e esquerdista.
Atos dos quais foram e seguem sendo emblemáticas a abertura de uma CPI de deputados sobre o petrolão (não chapa branca como as anteriores), o desencadeamento da reforma política pelo Legislativo, o bloqueio a projetos do lulopetismo para a criação de “conselhos populares” e “controle social” da mídia, o avanço da chamada PEC da Bengala, a devolução ao Palácio do Planalto da MP das Desonerações. E foi progressivamente assumida por meio do lançamento de proposta de redução para 20 ou 25 dos 40 ministérios atuais (39 mais o do marqueteiro João Santana) e corte também nos mais de 20 mil cargos de livre nomeação. Coincidente a da campanha de Aécio, e com a qual a direção do PMDB, à frente Michel Temer, evolui da barganha por “espaço bem maior” na máquina federal, a que é induzida pelo expresidente Lula, para uma séria reestruturação do governo. Buscando, assim, refletir cobranças da sociedade e uma melhoria da imagem (fisiológica) nas elei- ções municipais de 2016.
Tal reorientação vai chegando ao diretório de São Paulo. Sob o impacto do desastre local do petismo no pleito presidencial do ano passado, Lula virou de ponta-cabeça a administração do prefeito petista paulistano Fernando Haddad a fim de atrair com secretarias e outros postos vários partidos, especialmente o PMDB, ao qual, ademais, num acerto com Temer, garantiu a candidatura a vice numa chapa para reeleição de Haddad. Mas esse acerto já ameaça desfazer-se, desmoronar, em face do crescente conflito nacional entre os dois partidos e com os baixíssimos índices de popularidade do prefeito. Que refletem a precariedade de sua gestão e a postura do eleitorado de São Paulo de epicentro do desgaste do governo Dilma e do petismo. Por tudo isso, a sedução daquele acerto para o PMDB começou a erodir-se com a presença de Temer (acompanhado de Gabriel Chalita, feito secretário de Haddad e seu futuro companheiro de chapa) a evento na casa da senadora Marta Suplicy, preparatório, sob medida, da ruptura dela com o PT e de sua candidatura a prefeita pelo PSB.
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Jarbas de Holanda é jornalista
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