• Parlamentares se dizem preocupados com rumos do ajuste fiscal
Fernanda Krakovics – O Globo
BRASÍLIA - Um grupo de pelo menos doze senadores, tanto da base aliada quanto da oposição, reuniu-se anteontem à noite para discutir a crise política e os problemas na economia. O assunto principal foi o ajuste fiscal proposto pela presidente Dilma Rousseff, que encontra resistências no Congresso, inclusive no PT. A conversa - no apartamento do senador Waldemir Moka (PMDB-MS), em Brasília - reuniu desde o líder do PT, senador Humberto Costa (PE), até o senador José Serra (PSDB-SP). O ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) também estava presente.
Participantes da reunião demonstraram preocupação com a contaminação do cenário econômico pela crise política, e com a condução do ajuste fiscal pelo governo.
- Qual é o pacote do Levy? Se forem só essas duas medidas provisórias é muito pobre. Nós podemos contribuir, mas o ajuste tem que ter início, meio e fim. O governo só diz que vai cortar. E vai fazer que colcha? - perguntou Walter Pinheiro (PT-BA), citando o ministro Joaquim Levy (Fazenda).
Serra concordou com o argumento de Pinheiro, segundo senadores presentes. Dissidente no PMDB, o senador Ricardo Ferraço (ES) disse ainda estar tentando entender o "cavalo de pau" dado pelo governo na política econômica neste início do segundo mandato da presidente Dilma. Ferraço também condiciou seu eventual apoio ao ajuste fiscal à garantia de que, arrumadas as contas do país, o Palácio do Planalto não vai voltar a adotar o modelo anterior, implementado pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.
- É importante sinalizar que não viveremos esse tipo de experimento de novo. É a história do elefante que leva o escorpião para atravessar o rio. A gente não quer ser inocente útil - afirmou Ferraço no encontro, segundo fontes.
Também da ala independente de seu partido, o PP, a senadora Ana Amélia (RS) disse que o governo primeiro precisa reconhecer seus erros, e que a presidente Dilma deve mudar seu modo de fazer política, citando como exemplo o recuo na mudança do indexador das dívidas de estados e municípios.
- Está todo mundo preocupado com a contaminação da economia pela situação política. As expectativas são negativas - disse Ana Amélia.
Coube ao ministro Armando Monteiro, ex-senador, pedir um voto de confiança no governo e pregar a necessidade imperiosa do ajuste fiscal.
- Precisamos olhar para a frente - pediu o ministro, de acordo com senadores presentes.
Embora tenha se dito aberto ao diálogo, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) ressaltou, segundo relato de senadores, que continua sendo oposição.
- Não vou propor nada irresponsável, temos que procurar saídas para o Brasil, mas sou oposição.
Pelo diagnóstico feito pelo grupo, o governo não acena com uma perspectiva de melhora na economia, vendendo o arrocho como um fim em si mesmo. Seria um misto de problema de comunicação com falta de sensibilidade política, em diagnóstico feito por integrantes desse grupo.
Bloco informal pode ser criado
Dos participantes da conversa, um grupo menor, formado somente por senadores da base aliada, pretende formar um movimento suprapartidário, que atuaria como um bloco informal. O senador Paulo Paim (PT-RS), que já revelou planos de sair de seu partido se o ajuste fiscal for não for modificado, aposta que esse bloco informal seja o embrião de uma nova legenda.
Na casa de Moka estiveram o líder do PT, Humberto Costa (PE); José Serra (PSDB-SP); Antonio Anastasia (PSDB-MG); o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE); José Pimentel (PT-CE); Walter Pinheiro (PT-BA); Ricardo Ferraço (PMDB-ES); Ana Amélia (PP-RS); Luiz Henrique (PMDB-SC); Wilder Morais (DEM-GO) e Blairo Maggi (PR-MT).
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