• Petista Henrique Pizzolato fugiu do Brasil em 2013 e acabou preso em 2014
• Diplomacia brasileira atuou nos bastidores, em Roma e em Brasília, para convencer governo italiano pela extradição
Graciliano Rocha – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A Itália decidiu extraditar o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. A decisão do ministro da Justiça daquele país, Andrea Orlando --a quem cabia a palavra final sobre o caso-- foi anunciada nesta sexta (24). Não cabe recurso.
Condenado a 12 anos e sete meses de prisão no julgamento do mensalão, o petista fugiu para a Itália em 2013. No início de 2014, foi encontrado vivendo com documentos em nome de um irmão morto. Em fevereiro deste ano, a mais alta corte do país autorizou sua devolução ao Brasil.
É a primeira vez que a Itália, governada pelo premiê Matteo Renzi --um político de centro-esquerda--, decide extraditar um de seus cidadãos nacionais para o Brasil. A Constituição brasileira proíbe expressamente a entrega de brasileiro para cumprir pena em outro país.
Num despacho de quatro páginas, Orlando afirmou que o fato de haver uma condenação definitiva e o compromisso da Itália com o combate global à corrupção prevaleceram sobre a cidadania italiana de Pizzolato.
O ministro considerou mais forte o vínculo do petista com o Brasil do que com a terra de seus avós, da qual se tornou cidadão em 1994: "Além de ter nascido no Brasil, resulta que cometeu os graves crimes pelos quais a sua culpa foi reconhecida".
Em Brasília, autoridades brasileiras comemoraram o fato de o ministro ter reconhecido que o Brasil ofereceu garantias adequadas para o cumprimento da pena --tirando o foco das más condições dos presídios brasileiros, principal tese da defesa.
O Brasil deve concluir a extradição em meados de maio. Uma equipe de policiais federais deverá viajar até Módena (norte da Itália), onde ele está preso, para trazê-lo de volta. O complexo da Papuda, no Distrito Federal, é o provável destino do petista.
Virando a página
Diplomatas ouvidos pela Folha dizem que a extradição de Pizzolato não significa que os italianos esqueceram ou perdoaram a recusa de Lula, em seu último dia como presidente, de devolver o ex-terrorista Cesare Battisti, condenado na Itália por quatro homicídios.
Trata-se, segundo a interpretação destas fontes, de um sinal de pragmatismo do governo Renzi para "virar a página". O gesto político da Itália foi precedido por uma forte ação de bastidores em Roma e em Brasília.
Na operação, reuniões com o próprio ministro da Justiça, Andrea Orlando, foram evitadas. Nas palavras de um dos diplomatas, a estratégia foi procurar pessoas com trânsito na cúpula do governo Renzi "que ajudariam o ministro a nos ajudar".
O embaixador em Roma, Ricardo Neiva Tavares, marcou jantares e almoços com parlamentares influentes, como a presidente da Câmara dos Deputados, Laura Boldrini, e integrantes da comissão de Assuntos Exteriores.
Além de apaziguar as impressões dos italianos com o caso Battisti, o embaixador procurava enfatizar a melhoria das relações bilaterais e relembrar que Pizzolato só se valeu da sua própria identidade italiana após ser preso em 2014.
Numa outra frente, funcionários da embaixada do Brasil na Itália faziam reuniões constantes com técnicos responsáveis pelos pareceres sobre extradições do Ministério da Justiça italiano.
Na semana passada, o assunto foi tratado nos bastidores do encontro entre as duas chancelarias em Brasília.
Colaborou Márcio Falcão, de Brasília
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