Fernando Taquari – Valor Econômico
SÃO PAULO - Preocupados com o prolongamento da crise econômica e a baixa arrecadação nos Estados, os governadores do PSDB indicaram ontem que vão apoiar o esforço do governo Dilma Rousseff para evitar que o Congresso coloque em votação a chamada "pauta bomba", que aumenta despesas e ameaça o ajuste fiscal. Os tucanos, no entanto, querem aproveitar a reunião de amanhã, em Brasília, para reivindicar a aprovação de propostas, como a reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e a criação dos fundos de compensação e desenvolvimento regional.
A presidente convocou a reunião para pedir aos governadores que convençam deputados e senadores a impedir a aprovação de propostas que aumentem os gastos da máquina pública. Em linha com o Planalto, o governador do Paraná, Beto Richa, afirmou que a continuidade da crise econômica não interessa aos Estados e que os governadores devem atuar com responsabilidade, inclusive, para evitar a criação de novas despesas. "Devemos ser responsáveis o suficiente para entender o quanto isto [crise] está prejudicando o país e, consequentemente, todas as unidades da federação, tanto governos de oposição como de situação", disse.
Richa observou que rejeitar o convite da presidente poderia soar como um "boicote e um desprezo" à realidade atual do país. O governador de Goiás, Marconi Perillo, corroborou as palavras do correligionário ao ressaltar a "responsabilidade de gestão" dos governadores e classificar como "indelicado" uma eventual recusa, sobretudo no momento em que os Estados enfrentam problemas de caixa com a crise econômica. Já o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, disse que evitar a "pauta bomba" deve ser uma preocupação de todos os governantes no país diante de um cenário de recessão.
"Há algumas pautas que impõem despesas e comprometimentos sem previsão de receita, o que tem desencadeado uma série de desequilíbrios. Acho que essa pauta [evitar o aumento de despesas] deve ser comum, servindo à União e aos Estados", afirmou Azambuja, acrescentando que já foi pedido ao Senado e à Câmara que evitem aprovar projetos com aumento de despesas sem a devida previsão de receitas.
O governador paulista, Geraldo Alckmin, desconversou sobre a reunião com a presidente Dilma - que foi antecipada pelo Valor na semana passada - ao declarar que não conhecia a pauta do encontro. Cotado para concorrer à Presidência em 2018, Alckmin adotou um discurso nacional ao defender a necessidade da União reduzir o chamado custo Brasil e aproveitar o câmbio para elevar as exportações. "O Brasil ficou caro antes de ficar rico. Aí não tem competitividade. Quem paga a conta é a população", declarou o governador paulista, que disse aceitar o convite de Dilma com a disposição de "preservar os empregos" no país.
Os quatro governadores tucanos participaram ontem da abertura do salão internacional de avicultura e suinocultura, na capital paulista. Hoje devem se encontrar novamente para fechar uma pauta comum para o encontro com a presidente. A reforma do ICMS é um dos temas que serão reivindicados. As declarações dos tucanos motivaram a divulgação de uma nota do senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, onde ele rejeita a possibilidade de "qualquer manifestação de apoio" dos governadores do partido ao governo Dilma, ainda que participem da reunião. Para Aécio, é "absolutamente natural" conversas sobre questões administrativas e federativas de interesse do país. (Colaborou Raquel Ulhôa, de Brasília)
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