Diante da crise econômica, política, social e moral que assola o País, são muito oportunas as observações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a respeito do papel da oposição no atual cenário brasileiro. Em artigo publicado ontem no Estado (A responsabilidade das oposições), ele condensa, com clarividência, o sentimento da população: "Espera-se mais das oposições. Espera-se que apresentem sua visão de futuro, apontando um rumo para o País".
O papel da oposição vai muito além de simplesmente se opor a quem está no poder. Antes de mais nada, seu objetivo deve ser a definição e a defesa dos interesses do País. A conquista do poder, em eleições livres, é o meio para atender àqueles interesses.
Por essa razão, mais do que se opor ao que está aí – numa agenda negativa ou simplesmente reativa –, cumpre à oposição propor uma alternativa viável que contribua de fato para que o País saia da crise e possa realizar seu destino de grandeza.
A lógica do "tanto pior, melhor" é absolutamente inadequada, como lembra Fernando Henrique. "Nada justifica arruinar ainda mais o futuro", afirma o ex-presidente, recordando, por exemplo, o erro de extinguir o fator previdenciário.
É óbvio que a degradação do governo facilita o trabalho dos partidos de oposição nas eleições seguintes, mas tal degradação tem um alto custo para o País. Não se pode simplesmente deixar o governo sangrar, pois nessa hemorragia vão-se também muitos bens que dizem respeito a toda a sociedade, e não apenas aos inquilinos do poder.
É um equívoco pensar que a crise dificulta apenas o trabalho do governo. Ela também aumenta, em igual medida, as responsabilidades da oposição. O cenário de difíceis condições políticas e econômicas – como é o do Brasil de hoje – não comporta soluções fáceis e indolores nem muito menos slogans que apenas expressam uma posição ideológica, mas são incapazes, por si sós, de promoverem a saída da crise.
A oposição deve atuar no plano prático – político – e não apenas no ideológico – moral. Esse é o seu papel, que se configura como verdadeiro dever institucional. Não fazê-lo seria uma grave omissão, verdadeira cumplicidade com os desmandos que tanto prejudicam o País.
Assistir passivamente à crise gera um nefasto círculo vicioso, já que distancia a sociedade também da oposição. Todos – governo e oposição – passam a sofrer da mesma desconfiança da população, o que faz agravar ainda mais os problemas econômicos, políticos, sociais e morais. Nesse momento, não se pode permitir que, à crise de confiança que desmoraliza o governo, se junte a indiferença da Nação às coisas da política e às coisas públicas. A anomia não é saída para crises. Por isso, urge que a oposição se faça presente, oferecendo, mais do que esperanças, caminhos viáveis e confiáveis para o País.
Nessa empreitada, a oposição tem de ser forte, mas isso não significa nem pode significar nenhum viés antidemocrático. É equivocada a ideia de que uma forte oposição deve levar, em último termo, à derrubada de quem está no poder. A força da oposição não reside nesse tipo de radicalismo. Está, isso sim, na sua capacidade propositiva.
É compreensível a insatisfação da população com o que está aí. Diariamente, ela assiste ao cínico desmazelo com que o País é tratado por um governo incompetente e está à espera de uma alternativa. Compete à oposição oferecer uma resposta a esses legítimos anseios – uma arrojada resposta, que convença, motive e desperte o melhor de cada um.
Quando aqui se fala em destino de grandeza do País, não se faz referência apenas a seu tamanho continental e a suas riquezas naturais. É antes de tudo a convicção de que o seu povo é capaz de realizar um projeto de crescimento econômico e de justiça social que coloque o Brasil, definitivamente, entre as maiores potências do mundo.
Mais que nunca é necessário que a oposição tenha uma visão de futuro factível e audaciosa, que ofereça soluções reais aos problemas do presente. A crise é séria, mas pode ser vencida com o trabalho sério, honesto e competente dos brasileiros – e a oposição tem a missão de guiá-los.
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