- Folha de S. Paulo, 5 / 7/ 2015
• Mexidas políticas europeias podem inspirar alternativas para o apodrecimento de partidos por aqui
Levou mais de seis anos para que o desastre da finança de 2008 arranhasse o sistema político europeu. Mesmo assim, a Grande Recessão teve de ser coadjuvada por corrupções e incompetências grossas para abalar o centro político, para que partidos à margem ocupassem frestas. Nos EUA, a política tradicional mal teve alergia; mesmo o berne do Tea Party minguou um tico.
Sim, trata-se aqui de Grécia e Syriza, de Podemos e Espanha, fascistas da França e em tantos países, mas não só. O colapso grego começa a inquietar a política italiana.
É pouco, mas algo acontece desde 2014. Convém prestar atenção. Também temos problemas, bidu.
Além de cansaço com a indiferenciação dos partidos, de seu alheamento da realidade e de corrupções, nossa degringolada tem outros motivos, mas é grave. Os melhores partidos que tivemos apodrecem; "algo" aconteceu em 2013; será ruim e longa a nossa crise partidária, representativa, policial e econômica.
De resto, não costumamos ser imunes a remelexos políticos euro-americanos.
Importamos ideias, aparências ou modas. No passado remoto e morto, o PT um dia pareceu mais original, mas não faz muito o PSDB era a "Terceira Via" brasileirinha.
Quem sabe ideias ultramarinas possam inspirar tanta gente que está farta dessa chusma de putrefatos e dessa caterva de medíocres que fazem o grosso desses partidos que um dia tiveram alguma força, direção e sentido.
Mas algo aconteceu na Europa, como se dizia. Na eleição parlamentar europeia de maio de 2014, partidos "extremistas" e "populistas", no dizer do establishment europeu, venceram a votação em seus países ou se destacaram do nada ou da miudeza eleitoral criticando a "austeridade" ou a própria eurolândia.
Assustados com qualquer sinal de vida, os europeus chegaram a chamar a eleição de "terremoto", embora se sentisse de fato cheiro de queimado. A Frente Nacional fascista venceu a eleição europeia na França, o nacionalista Ukip no Reino Unido, "radicais" de esquerda e direita puseram a cabeça para fora em vários países.
Houve, porém, o Syriza, a esquerda grega que, salvo milagre, estará à beira da derrocada antes de completar meio ano de poder. Mas em particular houve o Podemos.
Na Espanha, partidos novos ou menos velhos lascaram um pedaço do quase bipartidarismo centrista de PP (à direita) e dos socialistas (PSOE, à esquerda).
O Podemos levou cidades importantes e é um partido emergente da crise espanhola, derivado dos "indignados" que acamparam no centro de Madri em 2011, das "ruas". Mais, ou menos, que um partido, são um aglomerado de improviso ou premeditadamente informe e mutante, dito de "esquerda", embora ainda não se saiba muito bem o que apite --e talvez isso seja bom.
O Podemos e associados, ressalte-se, saíram das "ruas". O Syriza nasceu dos caídos nas ruas, da crise econômica horrenda, mas é uma geleia variada de esquerdistas mais históricos, como ex-comunistas, com gotas de hortelã de esquerda nova. Todos ainda têm ideias econômicas destrambelhadas, mas são algo de novo.
Há muita gente farta aqui. Há alguma "rua". Haverá muitos caídos da crise. Falta partido para dar forma às revoltas.
Este colunista estará de férias da crise até agosto.
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