• Após pesquisas indicarem empate, veto vence plebiscito com folga, somando 61,3% dos votos
• Uma reunião foi convocada pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, para terça-feira (7)
Leandro Colon, Fernanda Godoy – Folha de S. Paulo
ATENAS - Numa votação histórica na Grécia, a população mandou um recado à zona do euro e rejeitou a proposta dos credores em um plebiscito realizado neste domingo (5).
A diferença contrariou as pesquisas que indicavam uma disputa apertada: 61,3% votaram "não", contra os credores, e 38,7% a favor do "sim". A taxa de comparecimento às urnas foi de 62%, patamar semelhante ao da eleição em janeiro (63%).
O resultado é uma mensagem contra medidas de austeridade e gera, ao mesmo tempo, uma série de incertezas no país e na Europa.
Por um lado, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, que convocou a consulta de última hora e fez campanha pelo "não", sai fortalecido internamente. Para conduzir o futuro da Grécia, no entanto, ele espera a reação dos líderes da zona do euro, a quem desafiou chamando de "chantagistas".
A postura deles é crucial para determinar o rumo das relações e as reais chances de a Grécia ser empurrada para fora do grupo. O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, afirmou que o resultado é "lamentável para o futuro da Grécia".
Uma reunião foi convocada pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, para esta terça-feira (7), em Bruxelas. O grupo da moeda única suspendeu as conversas à espera do plebiscito e na torcida pelo voto "sim".
O novo encontro, que deve contar com a presença de Tsipras, foi solicitado pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo presidente francês, François Hollande. Se os líderes europeus cederem, temem dar um mau exemplo a outros países que estão muito endividados.
O primeiro-ministro grego afirmou que o povo deu uma resposta de apoio a "solidariedade e democracia" na Europa. "Não recebi o mandato para romper com a Europa, mas para me colocar numa posição mais forte de negociação", disse. "Ninguém pode ignorar a vontade do povo".
Grécia e credores não chegaram a um acordo depois de semanas de negociação para que o país evitasse um calote de € 1,6 bilhão no FMI e desbloqueasse uma parcela de € 7,2 bilhões do socorro recebido desde 2010.
Em troca, exigiu-se da Grécia aumento de impostos, corte de gastos e reforma profunda da Previdência. O governo não aceitou, não pagou a dívida com o fundo e convocou uma consulta popular em busca de apoio.
Argumentos
Agora, a Grécia usará dois argumentos para negociar: o respaldo local à resistência em aceitar rígidos ajustes fiscais e o recente relatório do FMI reconhecendo que a dívida grega, em 177% do PIB (€ 320 bilhões), precisa de um perdão de pelo menos 30%.
O governo tem urgência porque quer reabrir seus bancos a partir desta terça (7), depois do controle de capital imposto no dia 29, que fechou agências e restringiu saques a € 60 por dia para a maioria e € 120 para aposentados.
Tsipras prometeu normalizar a situação, mas teme a insolvência das instituições e o colapso do sistema bancário porque o dinheiro em caixa está acabando. Há rumores de que não seria suficiente nem para terminar a semana.
Para se salvar dentro do euro depende de um apoio do BCE (Banco Central Europeu) em aumentar a ajuda emergencial de liquidez usada pelos bancos para repor o dinheiro sacado. A autoridade monetária congelou o limite em € 89 bilhões até o plebiscito e deve decidir nesta segunda-feira (6) se atende ou não ao apelo de Atenas.
Se o BCE não ajudar e os bancos ficarem sem dinheiro, o governo terá de avaliar emitir moeda própria, nem que seja temporariamente. O boicote da autoridade monetária seria o primeiro passo para isolar e obrigar o país a deixar a zona do euro.
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