- Valor Econômico
• Governos petistas já começam a perder ativos eleitorais
Com o avanço da Operação Lava-Jato sobre o núcleo político de investigados, cresce o desafio da presidente Dilma Rousseff de evitar que potenciais infortúnios individuais de aliados ou adversários se tornem problemas coletivos. Em outras palavras: travem ainda mais as atividades do governo, criem novas armadilhas fiscais no Congresso ou dificultem o esforço de comunicação do Palácio do Planalto que visa recuperar a imagem da presidente da República.
Após a prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, a coordenação política do Executivo agora aguarda a apresentação da denúncia pela Procuradoria-Geral da República em relação aos investigados com foro privilegiado. O governo tenta mapear o alcance da ação, pois sabe que deve preparar-se contra eventuais retaliações e construir pontes alternativas com as cúpulas do Congresso e dos partidos aliados. O Ministério Público Federal listou o suposto envolvimento de 55 agentes políticos nas irregularidades investigadas na Petrobras. Desse total, 49 têm foro privilegiado e são principalmente ligados ao PT, PMDB e PP. A investigação avança sobre outros setores da economia e empresas estatais.
Esse assunto é debatido por integrantes do primeiro escalão, em meio à crescente pressão dentro do próprio governo e na base aliada para que a equipe econômica apresente à sociedade, o mais rápido possível, uma agenda "pós-ajuste". Cobra-se de Dilma uma mudança considerável na estratégia de comunicação. Segundo o roteiro demandado ao Planalto por aliados, Dilma deveria primeiro reconhecer que a situação é mais delicada do que o cenário até então pintado nas peças oficiais de propaganda. Na sequência, a presidente descreveria cada passo a ser dado pelo país para sair da crise, de forma didática, para então desenhar no horizonte uma situação que dê ao eleitorado melhores perspectivas de vida.
Se pretende acolher o pleito, a presidente ainda faz essa transição de forma errática. Em seus mais recentes discursos, Dilma insistiu em responsabilizar a seca e a conjuntura internacional pela desaceleração da economia doméstica. Para rebater as acusações de estelionato eleitoral, argumentou que a situação durante a campanha era "ainda bem mais favorável" do que a verificada atualmente ou a de quando tomou posse.
Na abertura da reunião que fez com governadores, reconheceu que o Executivo foi obrigado a promover um ajuste fiscal a fim de colocar a economia novamente numa rota de crescimento com geração de emprego e distribuição de renda. Ponderou que 2015 é um "período de transição" ou um "ano de travessia".
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tenta seguir o roteiro de maneira mais objetiva. O problema de Dilma, contudo, é que uma parte considerável da população simplesmente não quer ouvir ou não acredita no que a presidente diz. Os sucessivos panelaços realizados em suas aparições na TV ou em programas do PT demonstram essa indisposição. Para piorar a sua situação, estrategistas do governo captam sinais de que importantes ativos eleitorais das administrações encabeçadas pelo PT já começam a perder valor.
Um exemplo: chegou às mãos de interlocutores de Dilma uma pesquisa do instituto Data Popular que circula no meio político, segundo a qual a classe C relativiza o papel do governo nas suas conquistas. A sondagem captou que a Classe C atribui sua melhora de vida primeiro ao próprio trabalho, depois à família e em seguida a Deus. Só depois o governo é citado, à frente apenas das empresas.
A decisão do Planalto em dar destaque às cerimônias de entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida - com o máximo de participações possíveis da presidente da República, mas invariavelmente com a presença de pelo menos um ministro de Estado - deriva da conclusão de que o governo precisa mostrar o que está fazendo para melhorar a vida do brasileiro. Segundo o Ministério das Cidades, 71 mil casas foram construídas em 2015 no escopo do programa habitacional. Desse total, o governo já entregou 64,5 mil unidades. Mais beneficiários serão contemplados nas próximas semanas.
As pesquisas do Data Popular, segundo o presidente do instituto, Renato Meirelles, também demonstram que, se o eleitorado ainda não encontrou melhores perspectivas nos discursos ou ações do governo, tampouco a oposição conseguiu ocupar esse espaço até agora. Como resultado, grande parte da população acredita que a política resume-se à disputa pelo poder.
O Palácio do Planalto tenta reequilibrar esse jogo no âmbito nacional, pois sabe que precisa reduzir a fragilidade do Executivo no Congresso nas próximas votações ou até mesmo para enfrentar um eventual processo de impeachment contra a presidente. Dilma promoveu um encontro com governadores em busca de um pacto pela governabilidade, recebeu no Palácio da Alvorada líderes dos partidos aliados e começa a abrir os cofres para liberar os recursos das emendas parlamentares ao Orçamento. Em paralelo, promete concluir a curto prazo a nomeação de indicados políticos para os escalões inferiores da máquina pública federal.
Historicamente, presidentes recém-eleitos aproveitam o início de seus mandatos para estabelecer uma agenda positiva ou impulsionar a aprovação de projetos mais polêmicos no Congresso. Sabem que depois de um ano podem não ter mais tanta força política, num momento em que as eleições municipais começam a ocupar os espaços prioritários das agendas de deputados e senadores. Pelos movimentos dos parlamentares desde o recesso do Congresso, a percepção da população captada pelo Data Popular não deixa de ser justificada: o meio político já começa a se preparar para lidar com os efeitos da crise econômica, da baixa aprovação do governo federal e dos desdobramentos da Lava-Jato nas eleições municipais de 2016, as quais formarão as bases e garantirão a capilaridade das campanhas de 2018. A cada dia que passa, esse outro tipo de preocupação individual tende a tornar-se mais um obstáculo para o governo Dilma.
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