Raquel Ulhôa - Valor Econômico
BRASÍLIA -O senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, disse ontem que as investigações da Operação Lava-Jato, sobre o esquema de corrupção na Petrobras, já chegam "muito perto" do Palácio do Planalto e o governo "está à beira de um ataque de nervos", por não saber quem será o próximo envolvido. Com relação à prisão do ex-ministro José Dirceu, o tucano disse que chama atenção é a "continuidade da obra".
O PSDB não pretende ser algoz do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas também não está disposto a ir para o "abraço de afogado", dando apoio a ele enquanto estiver no comando da Casa. O assunto foi discutido na reunião. "Não vamos empurrar Eduardo Cunha para o buraco. Não vamos fazer nada para favorecer a presidente Dilma Rousseff. Mas também não vamos adotar nenhuma atitude para salvá-lo", disse um participante da reunião. A avaliação é que o PSDB deve ocupar os espaços que Cunha está oferecendo à legenda nas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) da Casa e aguardar o desfecho da situação do pemedebista sem assumir defesa ou campanha de desestabilização dele. Cunha foi acusado pelo lobista Júlio Camargo, em delação premiada na Operação Lava-Jato, de receber US$ 5 milhões de propina.
"As investigações já chegaram muito perto do Palácio do Planalto, porque esse assalto aos cofres públicos serviu para alimentar esse projeto de poder. Se alguns se enriqueceram lateralmente, devem responder por isso. Mas a montagem dessa organização e dessa estrutura, segundo o Ministério Público continuada após o mensalão, teve um objetivo central: manter esse grupo político que está no poder", afirmou.
Após a reunião, Aécio disse que está "pensando seriamente" em participar das manifestações do dia 16. Nas inserções comerciais da propaganda partidária amanhã e no sábado, em cadeia de rádio e televisão, o PSDB vai convidar a população "indignada com a corrupção e a mentira" a participar dos atos.
Os tucanos manifestaram preocupação com a "instabilidade política do país" e com a falta de solução de curto prazo para a crise econômica. "O Brasil tem um desgoverno. As coisas já não caminham minimamente na direção correta, porque falta ao governo autoridade, credibilidade, e isso não se conquista com palavras vazias, com discursos de boas intenções", afirmou Aécio.
Um dos assuntos tratados na reunião foi a notícia de que, na ação coletiva em curso na corte de Nova York contra a Petrobras, a defesa da empresa informou que os comunicados enviados ao mercado eram mera publicidade. Teria sido a resposta à cobrança feita pelo juiz Jed Rakoff, sobre as informações que a empresa dava a investidores sobre as "melhores práticas de governança corporativa", "os mais altos padrões de ética" e condução dos negócios com "transparência e integridade".
"Isso é grave. (...) Se for confirmado, é a constatação de que esse governo, não satisfeito em mentir reiteradamente para os brasileiros, passa a mentir também para os estrangeiros que investem no país. E um governo que age desta forma cada vez se distancia mais do resgate da sua própria credibilidade", disse Aécio. Para ele, trata-se de crime de responsabilidade. O deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA), vice-presidente da CPI da Petrobras, vai apresentar requerimento à comissão para que a empresa envie os documentos.
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