quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Merval Pereira - O fio da meada

- O Globo

Este é o 13º ano em que o PT está no governo do país e, soube-se agora, desde o primeiro momento do primeiro mandato do ex-presidente Lula foi estabelecido este esquema de corrupção que perdurou até a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, descobrir, por acaso, numa investigação sobre lavagem de dinheiro, que o doleiro Alberto Youssef havia dado de presente para um diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, um carro importado.

A partir daí, o fio de uma trama inacreditável foi sendo puxado e chegamos onde estamos hoje, na confluência do mensalão com o petrolão, que revela um governo montado na base da dominação do Estado brasileiro, financiado por um esquema de corrupção tão grande que o dinheiro desviado no mensalão não dá um Barusco, na definição do ministro do STF Gilmar Mendes, referindo-se aos quase U$ 100 milhões que o ex-gerente da Petrobras se comprometeu a devolver aos cofres da União.

Bem que os petistas reclamavam de o mensalão ser chamado de "o maior escândalo de corrupção da História do país". Sabiam do que estavam falando. Diante de tamanhas evidências, os petistas já desistiram de afirmar que o mensalão não existiu, e nem se atrevem a dizer o mesmo do petrolão.

Também já não abraçam os companheiros presos, especialmente o ex-ministro José Dirceu, cuja prisão foi uma pá de cal na incipiente tentativa de acusar o Ministério Público e a Polícia Federal de estarem perseguindo o PT e seu tesoureiro João Vaccari Neto.

Os dois são membros do aparelho político do PT e ficarão calados, como se calaram Delúbio Soares e José Genoino. Mas o partido não tem mais onde se apoiar diante da avalanche de acusações que surgem a cada dia.

O programa de televisão, criado pelo marqueteiro João Santana, a ser exibido na quinta-feira, dia 6, provavelmente só acirrará os ânimos, pois não há espírito no país hoje para que se engulam as promessas vãs que esse tipo de programa sempre exibe.

Assim também não foi à toa que o partido decidiu não apoiar explicitamente seu antigo presidente e líder José Dirceu, no pressuposto de que ele será fiel até o fim à lei do silêncio mafioso, mas também sabendo que apoiá-lo só piorará a imagem do partido, já suficientemente arranhada pelas revelações dos últimos 10 anos.

Como estão programadas diversas manifestações contra o governo Dilma para o próximo 16 de agosto, um domingo, o PT decidiu convocar suas manifestações em datas próximas para neutralizar os danos. A resolução do partido, que renegou simbolicamente Dirceu, conclama os petistas para a Marcha das Margaridas, dias 11 e 12 de agosto, para o Ato Nacional pela Educação, no dia 14 de agosto, e para o Ato Nacional dos Movimentos Sociais, do dia 20 de agosto.

Prevejo que o programa de televisão e mais essas passeatas só farão acirrar os ânimos. Esperemos que o bom senso prevaleça entre os atordoados petistas.

Um desses "supostos jornalistas" donos de blogs chapas-brancas que a Operação Lava-Jato está rastreando fez ontem uma denúncia interessante: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, veio ao Rio para uma reunião secreta na sede da Rede Globo. Seria o início de uma conspiração contra o governo.

Pois bem, de fato Cunha esteve no Rio, mais exatamente na sede do jornal O GLOBO, onde almoçou com alguns editores. O encontro foi noticiado pelo jornal. Só mesmo um "suposto jornalista" desvendaria uma reunião tão secreta.

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