Andréia Sadi, Débora Álvares e Estelita Hass Carazzai – Folha de S. Paulo
Enquanto a Executiva Nacional do PT reunia-se em Brasília, nesta terça-feira (4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizia a amigos que a prisão do ex-ministro José Dirceu só reforça a "necessidade" de uma reflexão profunda pelo PT.
A Folha obteve o relato de pessoas que conversaram com o ex-presidente após a prisão. Segundo elas, Lula disse não ter se surpreendido com a medida e que o próprio ex-ministro e homem forte de seu primeiro governo já esperava a nova detenção, tanto que foi à Justiça em busca de habeas corpus preventivos.
Dirceu cumpria prisão domiciliar desde novembro, em Brasília, pela condenação no mensalão e foi transferido para a sede da PF em Curitiba nesta terça. Ele é apontado pelo Ministério Público Federal como um dos responsáveis pela criação do esquema de corrupção na Petrobras.
Para Lula, segundo a Folha apurou, o mais urgente é evitar uma "guerra" com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o que pode complicar a vida do governo e do PT no Congresso.
Procurado, o Instituto Lula negou as informações. "A Folha, ou suas fontes anônimas, têm essa mania de inventar e atribuir declarações e avaliações ao ex-presidente Lula. Isso não é jornalismo político ou a serviço do leitor. São apenas fofocas."
No processo do mensalão, Dirceu contou com o apoio público do PT, que avaliou sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal como "julgamento político".
Agora, dirigentes do partido afirmam, nos bastidores, que Dirceu não contará com a mesma solidariedade. Motivo: a Lava Jato indica que ele tirou "proveito pessoal" do esquema na Petrobras.
A primeira tentativa do PT de se descolar do ex-ministro aconteceu depois da reunião da Executiva Nacional da legenda em Brasília.
Em nota, a sigla disse "reafirmar a orientação de combate implacável à corrupção", mas não fez nenhuma referência direta ao petista.
O presidente da legenda, Rui Falcão, acabou citando o companheiro de partido quando questionado se acreditava em sua inocência.
"Para mim, qualquer pessoa, não só o José Dirceu, é inocente até que provem o contrário", encerrou.
Questionado se a ausência de uma manifestação formal do PT sobre a prisão não significaria que o partido está abandonando o ex-ministro, Falcão negou.
"Não estamos abandonando nenhum companheiro nosso. Independente de abandonar ou não, não se deve presumir a culpa antes que a culpa seja provada", destacou o líder petista.
Chegada
Ao chegar em Curitiba, Dirceu era aguardado por cerca de 50 pessoas, que gritavam "ladrão" e "vagabundo".
Uma delas soltou fogos quando ele chegou ao local. Entre os manifestantes, havia integrantes de movimentos organizados, como o Acorda Brasil e o Movimento Brasil Livre.
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