- Folha de S. Paulo
"Não tem pauta-bomba", disse Eduardo Cunha na segunda. "Não haverá pauta-bomba", afirmou Renan Calheiros na terça.
Os presidentes da Câmara e do Senado parecem ter voltado do recesso parlamentar com o discurso bem ensaiado. Na verdade, dizem uma coisa e fazem outra. Aproveitam a fragilidade do governo para sabotar o ajuste fiscal e impulsionar propostas que aumentam o gasto público.
Cunha prometeu votar "imediatamente" um projeto que equipara a remuneração do FGTS à da caderneta de poupança. A ideia tem méritos, porque a regra atual do fundo equivale a um confisco do dinheiro do trabalhador. Mas sua implementação agora, em plena crise, pode ter efeitos dramáticos sobre a construção civil e a habitação popular.
Renan sinalizou que vai engavetar o projeto que suspende a desoneração das folhas de pagamento. Fiel ao novo figurino de sindicalista, disse estar preocupado com o aumento do desemprego. Na prática, ajuda a torpedear uma medida que poderá significar economia de R$ 1 bilhão neste ano, segundo cálculos do ministro Joaquim Levy.
A agenda populista promete novas bombas nas próximas semanas. A pauta inclui os vetos da presidente Dilma à derrubada do fator previdenciário e ao reajuste de até 78% para os servidores do Judiciário.
Enquanto os trabalhadores da iniciativa privada rezam para manter o emprego, quem já conta com estabilidade pressiona por aumentos fora da realidade econômica do país.
Na noite desta terça, a Câmara ensaiava elevar salários de outra categoria do funcionalismo: os procuradores da Advocacia-Geral da União. Com incentivo de Cunha, deputados se revezavam na tribuna para defender o aumento e colher aplausos dos servidores que lotavam as galerias.
O coro do discurso fácil era liderado por parlamentares do PSDB. Em outros tempos, o partido se orgulhava por ter aprovado a Lei de Responsabilidade Fiscal.
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