quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Partido muda de tom

Em reunião, PT vê 'caráter pessoal' em prisão de Dirceu

• Partido rebateu, em 2013, acusações contra condenados no mensalão

Fernanda Krakovics – O Globo

Operação "Pixuleco"

BRASÍLIA - Assim como o governo, o PT tenta se descolar da prisão do ex-ministro José Diceu. Apesar de dizer que não está abandonando nenhum companheiro, o presidente do partido, Rui Falcão, afirmou que as acusações contra ele são de "caráter pessoal". Reunida ontem, a Executiva Nacional do PT decidiu não defender Dirceu publicamente. Resolução divulgada após o encontro criticou apenas supostos abusos na Operação Lava-Jato, sem citar o ex-ministro, que é um dos fundadores do partido e um de seus principais quadros históricos.

Na reunião da Executiva, o secretário de Organização, Florisvaldo Souza, e a de Relações Internacionais, Mônica Valente, que é mulher do ex-tesoureiro Delúbio Soares, preso no mensalão, defenderam que o partido fosse solidário a Dirceu. Falcão foi firme ao se opor. Ele argumentou, de acordo com petistas, que se tratava de uma atividade particular do ex-ministro, e não partidária; que adversários e setores da imprensa estão explorando artificialmente a vinculação dele com o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para desgastá-los; e que qualquer menção ao assunto, na resolução a ser divulgada após o encontro reforçaria essa imagem.

Quando Dirceu foi preso em 2013, condenado pelo mensalão, o tom do PT foi outro. Nota divulgada por Falcão expressava solidariedade "aos companheiros injustiçados" e conclamava "nossa militância a mobilizar-se contra as tentativas de criminalização do PT". Além de querer evitar o desgaste, há desconforto com o fato de Dirceu ter se beneficiado do suposto esquema para enriquecimento pessoal. O partido também está cauteloso porque espera novas delações, como a do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, ligado ao PT.

Delatores fazem doações
Falcão fez, visivelmente desconfortável, uma defesa protocolar de Dirceu ao ser questionado pela imprensa:

- O ônus da prova é de quem acusa e é preciso que o companheiro José Dirceu possa fazer a contradita às acusações que estão sendo veiculadas contra ele em caráter pessoal por delatores da Lava-Jato. Há indícios que precisam ser transformados em provas. A pessoa acusada tem que ter direito à ampla defesa. Não estamos abandonando nenhum companheiro nosso. Não deve se presumir culpa antes de ser comprovada. No Brasil, atualmente, está se invertendo esse princípio.

Questionado se considera Dirceu inocente, o presidente do PT foi cauteloso:

- Para mim, qualquer pessoa, não só o José Dirceu, que seja acusada, é inocente até prova em contrário.

Na nota, o PT faz críticas à condução das investigações da Lava-Jato, mas não cita Dirceu. O documento afirma que há "manobras para criminalizar o PT" e que a orientação do partido é de combate "implacável" à corrupção.

O documento pede ainda a "reorientação" da política econômica. Na reunião, foi decidido que o PT vai ajudar a convocar os atos "em defesa da democracia" organizados por movimentos sociais para o próximo dia 20. Em outra frente, o PT fará ato político, cujo tema central será o Plano Nacional de Educação, no dia 14, em Brasília. O evento ocorrerá dois dias antes dos protestos contra o governo e contará com a presença do ex-presidente Lula.

Ontem, a Polícia Federal não descartou a possibilidade de investigar o filho do ex-ministro José Dirceu, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR). Ele recebeu doações na eleição de 2010 de três delatores da Lava-Jato. Todos doaram R$ 10 mil cada. Zeca recebeu doação do operador Milton Pascowitch, do irmão dele José Afonso Pascowitch, do consultor Júlio Camargo e do sócio da empresa Hope Recursos Humanos, Raul Ortuzar Ramires.

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