• Alvo de protestos, Renan diz que hora é de ‘ouvir as ruas e apresentar caminhos’
Catarina Alencastro, Fernanda Krakovics, Cristiane Jungblut, Sérgio Roxo e Tiago Dantas – O Globo
-BRASÍLIA e SÃO PAULO- No dia seguinte às manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, o governo pediu o fim da intolerância e conclamou a população a acreditar no Brasil. Após a reunião de coordenação política de Dilma, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, disse que é preciso desfazer o clima de intolerância e pessimismo, para que a economia volte a andar.
— Temos que acreditar na força do nosso país. Em breve estaremos saindo das dificuldades — disse Edinho, completando em seguida: — Estamos vivenciando um período de intolerância política, cultural e religiosa. É um momento difícil. Temos que trabalhar para desfazer esse ambiente de intolerância.
Na avaliação do ministro, houve um recuo nas manifestações de ontem, com relação às de março. Ele disse que, pessoalmente, discorda da agenda colocada pelos manifestantes “pelo fim da democracia”, mas que respeita os atos. Ao lado de Edinho, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que a oposição deve estar frustrada com o tamanho da mobilização de domingo.
— As manifestações no Nordeste foram todas menores. O PSDB convocou os atos. Houve propaganda partidária. A expectativa deles era talvez outra. Parte do movimento assumiu uma conotação ideológica muito forte. A presidente tem que dialogar com as ruas, mas tem que dialogar com 200 milhões de brasileiros e brasileiras. Pé na estrada, humildade, tranquilidade, porque a institucionalidade democrática permite até que os Bolsonaros da vida preguem a volta do golpe — disse Guimarães, referindo-se ao colega deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ).
Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse que as manifestações reforçam a necessidade de Dilma investir em uma agenda positiva e no diálogo com a sociedade:
— As manifestações, apesar de menores, foram expressivas. Mostraram que a presidente Dilma tem que, cada vez mais, atuar em uma agenda positiva, em um diálogo com a sociedade, ser mais rápida e efetiva. Mostraram também que temos condições de reverter esse quadro.
Convocação pelo rádio
Em um contraponto aos protestos, o PT vai utilizar seus comerciais de rádio, a partir de hoje, para convocar para as manifestações a favor do governo marcadas para quinta-feira.
“Qualquer governo, qualquer partido, vive bons e maus momentos, comete erros e acertos. É bom recordar os erros para que eles não aconteçam mais, mas também é bom lembrar que juntos criamos um novo Brasil, vencemos a fome e a miséria, elevamos a renda de milhões. Um país que chegou onde chegamos tem tudo para superar qualquer crise na economia”, diz um dos comerciais.
Em nota, o PT conclamou a militância a reagir aos ataques que vem sofrendo. “Os ataques ao Partido dos Trabalhadores, ao ex-presidente Lula e ao governo da Presidenta Dilma não escondem seus propósitos conservadores e antidemocráticos, exigindo uma reação imediata do nosso partido e do campo democrático e popular”.
Embora defendam a manutenção da presidente no cargo, os movimentos socais farão críticas ao governo, principalmente ao ajuste fiscal, na manifestação de quinta-feira.
— O ato é de cobrança (do governo). Não achamos que impeachment é saída para crise; para nós, ele significa retrocesso. Mas não dá para ter visão simplista de que o ato de domingo foi “Fora, Dilma”, e nós somos “Viva Dilma”. Nosso ato não é a favor do governo. É a favor dos trabalhadores — disse Guilherme Boulos, um dos coordenadores nacionais do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Na área econômica, o grupo pede que sejam aprovadas medidas contra os mais ricos, como a taxação de grandes fortunas.
Alvo dos protestos pela aproximação com Dilma, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que não é hora de fazer “movimentos políticos”. Para Renan, o momento é de apenas “ouvir as reclamações das ruas”, e o Legislativo está fazendo seu papel ao apresentar a chamada Agenda Brasil. Ao ser perguntado sobre as críticas que recebeu de manifestantes por seu apoio a Dilma, Renan disse que é preciso garantir o direito de cada um de se manifestar:
— Esse (fato de ser criticado) é um exercício da democracia. Não dá para você responder à expectativa de cobrança que existe em todos os setores da sociedade. O fundamental não é fazer movimentos políticos, é recolher os sentimentos das ruas e apresentar caminhos.
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