terça-feira, 18 de agosto de 2015

Vinicius Torres Freire - "Contra a direita e o ajuste fiscal"

• Esquerda nas ruas vai atacar o 'golpe', a política econômica de Dilma e seus novos aliados

- Folha de S. Paulo

Depois da operação água na fervura de Dilma Rousseff, a semana começa com fogo tucano pesado e prossegue com protestos da esquerda contra "o golpismo" e "a direita", que ora dita a política econômica de Dilma 2, segundo os líderes da manifestação marcada para quinta, 20, em tese a favor do governo.

O próprio governo ontem relutava em dar apoio público a essa manifestação de movimentos sociais contra o "golpismo", "golpe" que, no entanto, foi esfriado na semana passada pela ação de parte da elite, da "rentista" em particular, em tese "de direita" (o pessoal do Planalto teme tumulto nas ruas).

Essa balbúrdia sem fim impede o início de qualquer reflexão mais organizada sobre o que será da economia. Que, porém, vai temperar a semana.

Sairão números ruins de desemprego. Pior ainda, em termos de imagem e boataria popular, o governo pode confirmar que tão cedo não terá dinheiro para pagar a antecipação do "13º" de aposentados e pensionistas, um sinal de que a ruína deixada por Dilma 1 é tamanha que o governo se arrisca a queimar o fiapo de popularidade que lhe resta, mexendo com idosos e seus tantos dependentes.

Quanto ao tiroteio político, o tucano da cabeça mais branca, Fernando Henrique Cardoso, soltou ontem manifesto pela renúncia de Dilma. Os cabeças-brancas são em tese os tucanos menos imoderados. Fica-se a imaginar o que devem fazer a partir de agora os cunhistas do senador Aécio Neves.

Como Aécio, o senador José Serra foi à passeata de domingo, embora os dois não costumem viajar juntos. Mas Geraldo Alckmin dizia ontem que não vai se juntar "às ruas", para nova frustração das Ilhas Maurício, um apelido de bairros paulistanos onde moram líderes das manifestações de anteontem (sim, Maurício de "mauricinho", o apelido-pai do "coxinha").

Os planos individuais de poder ainda parecem dividir os tucanos. No entanto, as dissidências intestinas do governismo são também consideráveis, ressalte-se.

O mote das passeatas do dia 20 é "Contra a Direita e o Ajuste Fiscal". Em tese, seriam a favor da presidente. Mas os líderes da "manifestação da esquerda" e seu manifesto dizem que se trata de um grito contra o "golpismo", mas não a favor de Dilma 2.

O manifesto detona a política econômica, o ataque a direitos trabalhistas e sociais, juros altos. Quer imposto sobre "grandes fortunas, dividendos e remessas de lucro, além de uma auditoria da dívida pública". Rejeita aumentos de água, luz e serviços básicos, cortes na Previdência. Reivindica redução da jornada sem redução de salários. Querem "Petrobras 100% estatal". Etc. Enfim, rechaça, sem nomeá-la, a "Agenda Brasil" do PMDB-Senado, ora o programa informal, espumante e flutuante de Dilma 2.

Bate em Eduardo Cunha, presidente da Câmara, sua "Casa de Intolerância", sua "pauta conservadora". "A saída é pela Esquerda, com o povo na rua, por Reformas Populares!", diz o manifesto.

Em resumo, trata-se de ataque ao provisório arranjo de parte da elite política e econômica para dar um fiapo de sobrevida a Dilma 2. O movimento parece liderado pelo MTST (os sem-teto), pela UNE, por variados movimentos sociais menos notórios, pela CUT e tem o apoio do PSOL.

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