• ‘O sentimento é que o governo é ilegítimo’, diz ex-presidente na internet
• “Se a presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou), assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lavajato” Fernando Henrique Cardoso Ex-presidente da República
- Petistas no Congresso atacaram declarações do tucano, que vinha adotando discurso conciliador; ministro pediu fim da intolerância nas manifestações de rua e otimismo aos brasileiros descontentes
No dia seguinte aos protestos contra o governo Dilma, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso surpreendeu ao abandonar o tom conciliador e sugerir, numa rede social, que a presidente renuncie ou admita seus erros como “gesto de grandeza”. FH disse que as manifestações revelam “o sentimento popular de que o governo, embora legal, é ilegítimo”. A afirmação revoltou petistas. “Será que ele está girando bem?”, questionou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PTCE). O Planalto não comentou as declarações. Sobre as manifestações, o ministro Edinho Silva (Comunicação Social) pediu otimismo e o fim da intolerância. O PT, por sua vez, convocou a militância a participar de atos pró-governo nesta quinta-feira.
FH radicaliza discurso
• Até então moderado, o ex-presidente sugere que Dilma renuncie; petistas atacam tucano
Mariana Sanches, Sérgio Roxo, Fernanda Krakovics e Cristiane Jungbl ut – O Globo
SÃO PAULO e BRASÍLIA- Tido como um oposicionista mais moderado e após fazer uma defesa pessoal da presidente Dilma Rousseff, a quem chamou de “pessoa honrada”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso radicalizou o discurso contra a petista. Um dia depois dos protestos em que milhares de manifestantes pediram o impeachment da presidente, Fernando Henrique evitou falar em impedimento, mas defendeu uma renúncia como “gesto de grandeza”. Segundo ele, se Dilma não for capaz de admitir os erros e apontar soluções para a saída da crise, é melhor que saia do cargo. O PT reagiu à declaração do tucano e questionou sua legitimidade para fazer esse tipo de declaração.
“Se a própria presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lavajato”, afirmou o ex-presidente, em texto divulgado no Facebook. Em análise sobre as manifestações de domingo, ele afirmou que “o mais significativo das demonstrações é a persistência do sentimento popular de que o governo, embora legal, é ilegítimo. Falta-lhe a base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo”. FH também fez menção ao boneco do ex-presidente Lula vestido de presidiário, que foi levado às ruas por manifestantes em Brasília. Segundo o tucano, “a Presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono (Lula) e vai perdendo condições de governar.”
Aloysio: PSDB votará a favor do impeachment
O tucano termina seu texto com um vaticínio sombrio à mandatária, dizendo que a desarticulação se manterá “até que algum líder com força moral diga, como o fez Ulysses Guimarães, com a Constituição na mão, ao Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais“. Fernando Henrique disse ao GLOBO no início da noite de ontem que não comentaria o teor de sua mensagem no Facebook.
Aliados de FH especulam as razões da contundência das palavras: o tamanho das manifestações (maiores que as de abril), e o fato de elas terem chegado ao Nordeste, principal reduto “lulopetista”. Além disso, os tucanos argumentam que o governo Dilma foi incapaz de sair da inércia a despeito do cessar-fogo costurado no Senado há pouco mais de uma semana e que poderia ter permitido a aprovação de medidas do ajuste fiscal.
— A situação da presidente é rara: ela ganhou a eleição e não levou. Não fez medidas para sair da crise política e econômica. Não existe vácuo de poder, alguém tem que governar — afirma o ideólogo tucano José Arthur Giannotti, amigo próximo de Fernando Henrique.
Giannotti lembra, no entanto, que FH sempre se colocou contra o impeachment, visto por ele como um processo traumático para a economia do país. Isso pode explicar por que o ex-presidente prefere clamar pela renúncia de Dilma. No domingo, durante manifestação na Paulista, o jurista Miguel Reale Junior, ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique, já havia defendido a saída voluntária da presidente.
Em discurso no plenário do Senado, o tucano Aloysio Nunes (PSDB-SP) disse que o impeachment está na “cabeça de todos”, mas que as condições políticas para isso “ainda não estão reunidas”. Ele afirmou, no entanto, que existem as “condições jurídicas”.
— Cabe ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, dar prosseguimento a um dos inúmeros pedidos de impeachment que estão sobre a sua mesa. Se isso acontecer, não tenho dúvida nenhuma de que o PSDB votará a favor — disse Aloysio.
Diante da nova ofensiva, os petistas reagiram. Um dos vice-presidentes do partido, Alberto Cantalice classificou o apelo do ex-presidente Fernando Henrique de “patético”.
— Esse patético apelo pela renúncia de Dilma demonstra uma indisfarçável dor de cotovelo pela recente derrota eleitoral — escreveu o petista em sua conta no Twitter.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), respondeu com ataques as críticas do ex-presidente:
— Será que ele está girando bem? A gente sempre espera equilíbrio e moderação de um ex-chefe da nação. Não pode virar instrumento de propaganda de forças reacionárias. Ele deveria honrar o lutador que foi pela democracia e não enveredar por esse caminho golpista.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), lamentou a declaração de FH:
— Foi um ato de pequenez política. A gente espera de um ex-presidente que, na hora difícil, tenha um ato de grandeza para ajudar o Brasil a sair da crise. Mas, em vez de agir como um estadista, Fernando Henrique agiu como chefe de torcida.
Costa disse que se fosse assim, quando enfrentou denúncias de corrupção e baixa popularidade, Fernando Henrique deveria ter renunciado, e não o fez.
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