terça-feira, 1 de setembro de 2015

Abilio Diniz pede conversa entre vice, Lula e FH

• Ministro Cardozo quer gesto de grandeza de líderes políticos para enfrentar crise

Ronaldo D’Ercole e Silvia Amorim - O Globo

- SÃO PAULO- O empresário Abilio Diniz, presidente do Conselho de Administração da BRF, disse ontem que o país vive uma crise que, embora atinja a economia, tem origem na política. E que, por isso, os principais líderes políticos, como os expresidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, à frente de PSDB e PT, além do vice- presidente Michel Temer, como principal dirigente do PMDB, precisam sentar e conversar em busca de um entendimento para tirar o país da atual crise política, que só faz aprofundar as dificuldades econômicas.

— A crise que vivemos hoje é uma crise política. Não considero esta uma crise econômica. As dificuldades da economia são consequência da política — disse Diniz, falando a uma plateia de empresários durante o Fórum Exame 2015. — Está na hora de nossos políticos se entenderem e pensar menos neles e nos seus partidos. Têm que pensar no Brasil. Os três principais líderes ( Lula, FH e Temer) têm que se fechar numa sala, jogar a chave fora e só sair de lá com uma solução.

Para Diniz, o Brasil é “uma empresa extremamente viável”, e, como acontece no setor privado, o governo também precisa ser mais “produtivo”.

— Não é que o Brasil seja ingovernável; o Brasil é “ingerenciável”, é muito complexo — disse, ironizando o fato de a presidente Dilma ter de despachar com 39 ministros.

Para Diniz, o fato de Lula não falar com FH é “coisa de namorado”. E não adianta os empresários ficarem pedindo a saída do ministro Joaquim Levy.

— Levy está entre o fogo cruzado. E está tentando fazer as coisas. Temos que ter entendimento político — insistiu, tirando aplausos da plateia. — É preciso reorganizar o país, mas isso só vai acontecer se os políticos se entenderem.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também fez uma defesa enfática de um pacto político entre oposição e governo. Usando a mesma expressão adotada pelo ex- presidente Fernando Henrique Cardoso este mês, Cardozo cobrou um gesto de grandeza dos líderes políticos no momento de crise.

— Se as pessoas públicas quiserem ser maiores do que seus horizontes pessoais e políticopartidários, e jogarem na defesa do país, terão que ter a grandeza de se desprender de certas disputas e buscar pactuações que sejam favoráveis ao interesse público — afirmou Cardozo.

O ministro disse que não estava mandando recado a algum político em especial:

— É uma crítica generalizada aos partidos, inclusive ao meu.

Cardozo comentou que a conversa proposta por Dilma ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é “necessária”, e que a presidente está fazendo um “gesto de harmonia”. Ainda se referindo a um possível encontro dos dois, ele disse que “as forças políticas devem ter senso de responsabilidade e estarem juntas, deixando as disputas para momentos certos”.

O Orçamento com déficit é uma sinalização, segundo Cardozo, de que o governo quer dialogar. Sobre a hostilização sofrida domingo na Avenida Paulista, o ministro comentou:

— Pouco me importa se me cercam numa manifestação dizendo que não pode existir um ministro do PT chefiando a Polícia Federal.

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