- Folha de S. Paulo
A essa altura, a ideia mais próxima de um consenso social no Brasil é a de que devemos tomar as medidas necessárias para tornar a recessão tão breve quanto possível. As receitas para fazê-lo evidentemente variam segundo os interesses e as necessidades de cada segmento, mas parece impossível que se possa fugir de alguma combinação de muitos cortes de gastos com algum aumento de impostos.
Obviamente, é melhor tentar chegar a uma fórmula através de negociações políticas do que deixar que as forças de mercado procedam ao ajuste por conta própria, já que elas tendem a fazê-lo de modo mais desorganizado, o que cobraria mais sangue do que o estritamente necessário.
A dificuldade é que, para costurar um pacto, é preciso que existam lideranças políticas e, no momento, este é um produto em falta. O presidente da República, que seria a figura natural a quem recorrer em situações como essa, é Dilma Rousseff, que é a principal responsável pela crise –e isso não lhe confere muita credibilidade para liderar o processo. Para agravar o quadro, sempre que as coisas parecem melhorar um pouquinho para seu lado, ela comete um erro político que volta a alijá-la.
O ministro Joaquim Levy, que chegara a ser apontado como uma espécie de primeiro-ministro de Dilma, talvez por ser muito identificado com o setor financeiro e tendo sofrido algumas sabotagens palacianas, não conseguiu impor-se politicamente.
O vice Michel Temer por um momento também pareceu ser a figura em torno da qual seria possível articular uma saída, mas, justamente por isso, teve suas asinhas cortadas.
É sempre possível aguardar até que a solução política amadureça. O problema é que, quanto mais postergamos as medidas econômicas, mais prolongamos a crise. E o calendário é implacável. Mudanças mais significativas em impostos, por exemplo, precisam ser aprovadas ainda este ano, ou só poderão valer em 2017.
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