• De acordo com boletim Focus, retração de 2015 deve chegar a 2,26%
Gabriela Valente, Martha Beck - O Globo
- BRASÍLIA- Depois de o IBGE confirmar que o Brasil está em recessão, os analistas do mercado financeiro aumentaram a dose de pessimismo para o desempenho da economia neste ano e no próximo. Na pesquisa semanal Focus, divulgada pelo Banco Central, a previsão de queda do Produto Interno Bruto ( PIB) aumentou de 2,06% para 2,26%. Para o ano que vem, a previsão de recessão passou de 0,24% para 0,4%.
— Se até 2017 a gente não tiver um cenário de volta cíclica, vai ser complicado. E nem estou falando de crescimento sustentável. Estou só falando de inflação em queda, câmbio estabilizado e volta do crescimento. Essa sinalização ajudaria a manter o grau de investimento dado pelas agências de risco, se é que isso é possível — avaliou Zeina Latif, economistachefe da XP Investimentos.
Tanto o mercado quanto o governo esperam uma retomada do crescimento da economia daqui dois anos. Os analistas apostam em alta de 1,5%, e a equipe econômica prevê 1,7%. Mas há um longo caminho até lá. O Banco Central terá de lidar com a inflação de duas vezes o percentual fixado como meta.
O objetivo do governo era fazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA) ficar em 4,5%, mas a taxa de deve chegar a nada menos que 9,28% neste ano. Para 2016, a aposta é de 5,51%. São previsões que ficaram praticamente estáveis em relação ao levantamento da semana passada.
Efeito da crise política
A deterioração das expectativas de atividade vem a reboque da crise política. Como em outras vezes neste ano, as projeções pioraram depois de semanas turbulentas. Foi o caso dos dias que antecederam a pesquisa do BC, feita na sextafeira. Além do dado oficial de recessão, o governo deixou vazar que recriaria a CPMF, o antigo imposto do cheque, num sinal de que não vê como levantar mais receitas, já que a economia está em crise. Já o anúncio de que o Orçamento foi encaminhado ao Congresso com déficit ainda não foi captado na pesquisa.
Para os integrantes da equipe econômica, a recessão de 2015 era esperada e se deve à combinação do fim da política fiscal expansionista com a operação Lava- Jato, que bateu em cheio nos investimentos na infraestrutura. Entre os técnicos, a avaliação é que o crescimento dos últimos anos foi muito dependente do gasto público.
— Luz no fim do túnel só quando a crise política arrefecer— admitiu um técnico.
Para o economista- chefe da corretora Gradual, André Perfeito, o mercado financeiro está “assustadíssimo” com o quadro político e pode piorar as estimativas. Ele diz que o desafio do governo agora é provar que o Brasil é capaz de voltar a crescer para atrair investimentos, porque a nova equipe econômica já provou que é capaz de fazer ajustes e não compactua com a maquiagem do passado.
— Tem de mostrar que a gente pode crescer. A gente está com uma casa que tem um buraco no teto e as pessoas estão discutindo a posição dos móveis. Não tem cabimento — criticou o analista.
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