• Vice considera déficit ‘ extremamente preocupante’, mas afirma ter certeza de que Dilma vai governar ‘ até o fim’
Thiago Herdy e Letícia Fernandes - O Globo
- RIO E SÃO PAULO- Em entrevista exclusiva ao GLOBO, o vice- presidente Michel Temer ( PMDB- SP) disse ontem ter “absoluta certeza” de que, mesmo com todo o desgaste a que é submetido o governo, a presidente Dilma Rousseff e ele vão governar “até o fim” do mandato. Antes, porém, em evento em São Paulo pela manhã, Temer reconheceu que o governo não tem “estratégia” para equacionar o déficit da proposta de Orçamento enviada ao Congresso, e que o envio do Orçamento com esse rombo é “extremamente preocupante”.
Temer disse que a elevação da carga tributária não é uma boa solução para o problema — “ninguém quer isso, ninguém suporta isso” —, e que, mesmo que as propostas “ainda estejam surgindo”, setores da sociedade e dos Poderes vêm apontando o “corte de despesas da máquina estatal” como a melhor forma de lidar com o problema, medida também defendida pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
— A primeira ideia é essa. Como nós vamos construir isso, confesso que nem eu nem o governo temos uma estratégia determinada — admitiu o vice- presidente em SP.
Ele, no entanto, defendeu a decisão do envio da proposta com déficit por considerá- la forma de garantir a “transparência absoluta das questões orçamentárias”, sem que tenha havido maquiagem:
— O Orçamento com déficit é coisa extremamente preocupante. Mas por que registrou o déficit? Primeiro, para registrar a transparência absoluta das questões orçamentárias. Ou seja, não há maquiagem nas contas.
Mais tarde, de passagem pelo Rio, onde gravou entrevista para um programa do Canal Brasil, Temer disse que tem “absoluta certeza de que a chapa vai até o fim ( do mandato)”:
— Não acho, não ( que Dilma corra perigo de não terminar o mandato). Acho que essas coisas são naturais na democracia, esses embates são rotineiros.
Temer evitou comentar a declaração do expresidente tucano Fernando Henrique Cardoso, que disse, no dia 17 de agosto, que Dilma deveria fazer uma mea- culpa ou renunciar. Para Temer, foi apenas uma “declaração política”. O vice- presidente voltou a afirmar que a petista conseguirá governar “com tranquilidade”, ainda que enfrente embaraços naturais em qualquer governo: — A presidente tem condições de continuar a governar com tranquilidade. É claro que haverá sempre embaraços no governo, isso é natural. Mas isso não deve nos assustar e não assusta a presidente. É uma declaração política, não faço comentários a respeito disso — afirmou.
Perguntado pelo GLOBO se concordava com a avaliação do Planalto de que o envio do Orçamento de 2016 ao Congresso, com déficit estimado em R$ 30,5 bilhões, teria um “efeito pedagógico” sobre os parlamentares — que poderiam colaborar para conter as pautas- bomba —, o peemedebista afirmou que a transparência do Orçamento será útil no Congresso, e causará o efeito esperado pelo governo.
— Acho que isso vai fazer com que todos colaborem exatamente para superar o déficit, é isso que vai acontecer. Acho que houve uma transparência que será útil causando esse efeito ( de segurar as pautas- bomba) — respondeu Temer, que apenas deu um sorriso ao ser questionado se será possível “segurar” o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ).
Para o peemedebista, é preciso construir uma solução conjunta para o problema econômico, que envolva principalmente o Congresso.
— O melhor era que a transparência se desse ( logo) e disséssemos: precisamos do apoio de todos os setores da economia brasileira. No particular, do Congresso. Temos que construir juntos uma solução para a crise econômica — disse Temer, mencionando o risco de rebaixamento da nota de investimento do país, em função da explicitação do rombo nas contas, como algo “péssimo para o Brasil”.
Risco de derrota “fragorosa”
Temer confirmou ainda ter dito a Dilma, no último sábado, que era contra a proposta de voltar a cobrar a CMPF ( Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), polêmico imposto para a Saúde extinto em 2007, como forma de elevação da arrecadação do governo. A ideia foi sepultada no fim de semana, devido a resistências à proposta. Para Temer, a ideia resultaria em uma “derrota fragorosa no Congresso Nacional”. O vice- presidente disse que ponderou, junto a Dilma, que não poderiam “se dar ao luxo” de sofrer tamanha derrota política.
— Muitas vozes se levantaram contra, eu próprio fiz considerações à senhora presidenta, dizendo: “Eu acho que não pode ser feito dessa maneira”. Nós precisamos preparar o ambiente, que é como se faz em ambientes democráticos. Caso contrário, nós vamos ter uma derrota fragorosa no Congresso Nacional. A esta altura, não podemos nos dar ao luxo de ter derrotas fragorosas de natureza política no Congresso.
Temer defendeu o “trabalho em conjunto” e a busca da “harmonia social e entre Poderes” como forma de alcançar o equilíbrio político de que o país necessita:
— É evidente que não adianta agir de cima para baixo, é preciso muitas vezes que as coisas venham de baixo para cima. Esse direcionamento é que faz muitas vezes que os Poderes do Estado se mobilizem.
O vice- presidente disse que, “se a base política ( do governo) não fosse tão instável, não estaríamos passando por tantas dificuldades”, e defendeu o reconhecimento dos erros como forma de lidar com o problema.
— Devo registrar que o governo vem fazendo o possível. Pode ser que erre. E acho que a melhor coisa quando erra é confessar o erro. Você não pode errar e dizer que não errou. O governo tem agido dessa maneira, não tem escondido esses fatos — afirmou.
Temer ponderou ainda que, “em momentos de absoluta tranquilidade”, os dirigentes podem considerar a defesa dos interesses de um partido ou do governo como prioridade.
— Mas há momentos, mais dramáticos, onde o maior valor é o país. Ao interpretar politicamente o tema, sou obrigado a sustentar que todos temos que nos unir em torno de um valor maior, que é o país — disse o vice.
• “A presidente tem condições de continuar a governar com tranquilidade. É claro que haverá sempre embaraços no governo, isso é natural. Mas isso não deve nos assustar e não assusta a presidente” Michel Temer
Vice- presidente
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