• Não se trata apenas de quem deve ser escalado como centroavante, mas de como o time deve jogar
- O Estado de S. Paulo
A convicção fingida com que o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, anunciou que o ministro da Fazenda continuaria no governo “porque ele ajuda muito e vai continuar ajudando” reforçou a percepção geral de que o problema de fundo não está resolvido. Não se trata apenas de quem deve ser escalado como centroavante, mas de como o time deve jogar.
A presidente Dilma apenas tolera Levy. Quer uma política econômica “mais ousada”; quer dopar a atividade produtiva com estimulantes pesados para que, antes das eleições municipais do ano que vem, possa exibir resultados na TV, não importando as demais consequências.
A apresentação da proposta orçamentária de 2016 com um rombo fiscal no governo central de R$ 30,5 bilhões é uma tentativa de forçar o modelão que deu errado nos quatro primeiros anos da administração Dilma.
Os ministros Nelson Barbosa, do Planejamento, e Aloizio Mercadante são os dois que mais se empenham não apenas em puxar o tapete do ministro Joaquim Levy, mas também em tentar reemplacar uma política “desenvolvimentista”, não importando as condições dos fundamentos da economia. Mas eles jogam assim porque, perdida nesse mato, a presidente Dilma os estimula a isso.
Enquanto isso, a situação fiscal mergulha em franca deterioração. A dívida bruta está a um passo dos 70% do PIB. Daí para os 80% é como os metros finais de um corpo em queda. Sem ação imediata, o desastre tende a ser inevitável.
O ministro Joaquim Levy também parece vacilar diante das contradições com que se depara. No seu posto foi aparentemente surpreendido pela gravidade da situação econômica, muito mais acentuada do que a imaginada por ele, embora tivesse boa noção dos truques contábeis e das pedaladas com que a administração anterior tratava as contas públicas.
A gente sabe disso porque, ainda em dezembro, Levy contava com um superávit de 1,2% do PIB e com uma recuperação bem mais rápida da crise. Apenas nos meses seguintes é que foi ficando claro o nível do estrago encontrado.
Quando se deparou com o solapamento sistemático de suas propostas dentro e fora do governo, Levy também pareceu pouco disposto a jogar tudo ou nada. Limitou-se a demonstrar contrariedade por meio de ausências a solenidades, atribuídas a resfriados, ou mostrava desconforto quando obrigado a aparecer como conformado ator coadjuvante, como no anúncio dos números do Orçamento.
Em 1999, aconteceu situação parecida no governo Fernando Henrique. O então senador José Serra também vinha solapando a política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda Pedro Malan.
Quando o então ministro do Desenvolvimento, Clóvis Carvalho, assumiu a postura crítica de Serra, e criticou em pronunciamento a falta de ousadia da política vigente, Malan reagiu imediatamente: “Ou ele ou eu”. O ex- presidente Fernando Henrique não vacilou, demitiu seu amigo pessoal Clóvis Carvalho e manteve a política econômica de Malan. E, durante algum tempo, não se falou mais nisso, nem Serra nem ninguém.
Hoje, temos essa coisa confusa, híbrida, sem firmeza e cada vez mais deteriorada...
Vida mais dura
Apenas nos oito primeiros meses do ano, as retiradas nas cadernetas foram R$ 48,5 bilhões maiores do que os depósitos, ou 7% do saldo do fim de 2014. São duas as principais explicações para esse relativo esvaziamento. A primeira é a inflação e o desemprego, que exigiram recursos extras para que o consumidor pudesse enfrentar a deterioração do seu orçamento. E a outra, o rendimento mais baixo do que o das outras aplicações em consequência da alta dos juros.
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